Virgínia Rodrigues

Virgínia Rodrigues, 2023
Texto
Virgínia Rodrigues (Salvador, Bahia, 1964). Cantora, atriz. Virgínia Rodrigues surge nos anos 1990 e se consolida como uma das cantoras com a maior extensão vocal na MPB, com facilidade de transitar do extremo grave para o agudo sem perder afinação e precisão.
Nasce e é criada no bairro Fazenda Grande do Retiro, subúrbio de Salvador. Sem toca-discos em casa, se interessa pela música a partir do que ouve no rádio e do repertório que o pai canta durante sua infância. Pratica o canto na rua, com um vizinho mais velho e violonista, com quem aprende letra e melodia de músicas de cantores como Agnaldo Timóteo (1936-2021), Angela Maria (1929-2018) e Cauby Peixoto (1931-2016). Frequenta a igreja protestante entre 12 e 19 anos, onde faz parte do coro. Estuda canto lírico por três anos.
Em 1997, integra o Bando de Teatro Olodum, como parte do elenco que apresenta o espetáculo Bye Bye, Pelô. Por intermédio do diretor Márcio Meirelles (1954), é apresentada a Caetano Veloso (1942), que se impressiona com a voz de Virgínia e decide ajudá-la a gravar o primeiro disco da carreira.
O álbum Sol Negro é lançado no mesmo ano, com direção artística de Caetano, produção de Celso Fonseca (1956) e participações de Djavan (1949), Gilberto Gil (1942) e Milton Nascimento (1942). O repertório combina canções clássicas como “Noite de Temporal”, de Dorival Caymmi (1914-2008), e “Manhã de Carnaval”, de Luiz Bonfá (1922-2001) e Antônio Maria (1921-1964), com músicas do folclore, como “Verônica”, e composições contemporâneas, como “Querubim”, de Carlinhos Brown (1962).
O segundo e o terceiro álbum seguem com Caetano Veloso na direção artística. Nós (2000) traz músicas dos blocos afro do carnaval baiano como Ilê Ayê, Olodum, Timbalada, Ara Ketu e Afreketê. Mares Profundos (2004) se concentra no repertório de Baden Powell (1937-2000) e Vinicius de Moraes (1913-1980). As canções escolhidas fazem parte da série conhecida como “afro-sambas”, que Baden e Vinicius compõem no período entre 1962 e 1966. Muitas delas, inclusive, estão reunidas no álbum Os Afro-Sambas de Baden e Vinícius, que a dupla lança em 1966.
Em 2008, Virgínia lança Recomeço e o álbum, como o próprio nome sugere, aponta para uma mudança de rota na proposta estética da artista, principalmente na parte instrumental. Nos três discos anteriores, há uma ênfase na percussão e nos ritmos de candomblé, o que potencializa a vocação para a remissão à ancestralidade africana. Neste quarto lançamento da carreira, ela canta acompanhada somente do pianista Cristovão Bastos (1946), instrumentista renomado que acumula trabalhos com artistas como Chico Buarque (1944), Gal Costa (1945-2022) e Paulinho da Viola (1942).
A obra expande a dimensão de versatilidade de Virgínia, com uma sonoridade baseada nesse diálogo entre piano e voz, que explora a profundidade melódica de canções já consagradas em outras grandes vozes do Brasil. São os casos, por exemplo, de: “Canção de Amor”, de Elano de Paula (1923–2015) e Chocolate (1923–1989), conhecida na voz de Elizeth Cardoso (1920-1990); “Beatriz”, de Chico Buarque e Edu Lobo (1943), gravada por Milton Nascimento; e “Por Toda a Minha Vida”, de Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes, registrada por Elis Regina (1945-1982).
Nos dois álbuns seguintes, Virgínia Rodrigues estabelece parceria com o compositor Tiganá Santana (1982), que assina a direção artística de Mama Kalunga (2015) e a produção musical de Cada Voz é uma Mulher (2019), além de fornecer canções ao primeiro disco. A cantora retoma a rota de pesquisa do DNA negro na canção brasileira com o retorno da percussão no centro dos arranjos e a escolha de um repertório que se aprofunda na questão da ancestralidade africana.
Mama Kalunga traz músicas de compositores como o maestro Abigail Moura (1904-1970), Geraldo Filme (1928-1995), Moacir Santos (1926-2006) e Nei Lopes (1942) – todos reconhecidos como compositores comprometidos com a negritude. Cada Voz é uma Mulher traça um percurso de cruzamento com a tradição lusófona por intermédio de compositoras e cantoras de países como Angola, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. A canção “Sumaúma” é da compositora angolana Aline Frazão (1988); a cabo-verdiana Mayra Andrade (1985) faz dueto com Virgínia em “Stória, Stória”, cantada no idioma crioulo; a portuguesa Sara Tavares (1978) é uma das compositoras de “Ter Peito e Espaço”; e “Yembelelani” é de autoria da moçambicana Lenna Bahule (1989), que também canta na faixa.
Paralelamente à carreira de cantora, Virgínia atua como atriz nos filmes Jenipapo (1995) e Ó pai, ó (2007), ambos de Monique Gardemberg (1958). Ela interpreta também uma personagem no espetáculo teatral Uma Leitura dos Búzios (2022), dirigido por Márcio Meirelles.
Virgínia Rodrigues tem um canto profundo que, para além da extensão vocal, evoca a ancestralidade africana. Sua discografia se banha nas águas de influências do oceano atlântico de diversas maneiras: ora pelo repertório dos blocos afro do carnaval baiano, ora via a produção de afro-sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes ou ainda pela aproximação com compositoras africanas de língua portuguesa.
Obras 6
Exposições 1
-
27/8/2015 - 25/10/2015
Mídias (1)
Cada voz
A série “Cada voz” é um projeto da "Enciclopédia Itaú Cultural" com registros de depoimentos de artistas de diferentes áreas de expressão, como literatura, música, teatro e artes visuais. Conduzidos pelo fotógrafo Marcus Leoni, os vídeos capturam o pensamento dos artistas sobre seu processo de criação e sua visão sobre a própria trajetória. Os registros aproximam o público do artista, que permite a entrada no camarim, no ateliê ou na sala de escrita.
FUNDAÇÃO ITAÚ
Conselho Curador
Presidência Alfredo Setubal
Presidência da Fundação
Eduardo Saron
COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL E ESTRATÉGICA
Gerência: Ana de Fátima Sousa
Coordenação de Estratégias Digitais e Gestão de Marca: Renato Corch
Redes sociais: Jullyanna Salles e Victória Pimentel
ITAÚ CULTURAL
Superintendência do Itaú Cultural Jader Rosa
INFORMAÇÃO E DIFUSÃO DIGITAL Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenadora de Enciclopédia: Luciana Rocha
Produção de conteúdo: Pedro Guimarães
CRIAÇÃO E PLATAFORMAS Gerente: André Furtado
Coordenação de Audiovisual: Kety Fernandes Nassar
Produção audiovisual: Amanda Lopes da Silva
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Interpretação em Libras: Ponte Acessibilidade (terceirizada)
Transcrição, revisão e sincronização de legendas: Alume Comunicação e Acessibilidade (terceirizada)
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Produção: Carol Silva
Montagem: Renata Willig
Assistência: Rafael Macedo
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 9
- CARVALHO, Paula. Entre mulheres lusófonas. Revista Bravo!, 30 jul. 2019. Disponível em: https://medium.com/revista-bravo/entre-mulheres-lus%C3%B3fonas-6dbe8e10ead2. Acesso em: 2 out. 2023.
- Ensaio. São Paulo, TV Cultura. (1 hora). Exibição em 5 jun. 2005.
- FERREIRA, Mauro. Virgínia Rodrigues eleva músicas na feminina rota lusófona de ‘Cada Voz é uma Mulher. G1, 05 set. 2019. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2019/09/05/virginia-rodrigues-eleva-musicas-na-feminina-rota-lusofona-do-album-cada-voz-e-uma-mulher.ghtml. Acesso em: 2 out. 2023.
- FERREIRA, Mauro. Virgínia Rodrigues grava álbum ao vivo com a nobreza da obra de Paulinho da Viola e Tiganá Santana. G1, 15 ago. 2023. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2023/08/15/virginia-rodrigues-grava-disco-ao-vivo-com-a-nobreza-das-obras-de-paulinho-da-viola-e-tigana-santana.ghtml. Acesso em: 2 out. 2023.
- LICHOTE, Leonardo. Crítica: “Mama Kalunga”, de Virgínia Rodrigues. 14 abr. 2015. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/musica/critica-mama-kalunga-de-virginia-rodrigues-15862446. Acesso em: 2 out. 2023.
- RESENDE, Lucas Lanna. Virgínia Rodrigues leva potência da música negra a festival em Tiradentes. Estado de Minas, 22 de nov. 2022. Disponível em: https://www.em.com.br/app/noticia/cultura/2022/11/22/interna_cultura,1423952/virginia-rodrigues-leva-potencia-da-musica-negra-a-festival-em-tiradentes.shtml. Acesso em: 2 out. 2023.
- RIBEIRO, Zema. Sétimo álbum da baiana Virgínia Rodrigues será gravado ao vivo este fim de semana. Farofafá, 24 ago. 2023. Disponível em: https://farofafa.com.br/2023/08/24/setimo-album-da-baiana-virginia-rodrigues-sera-gravado-ao-vivo-este-fim-de-semana/. Acesso em: 2 out. 2023.
- SANCHEZ, Pedro Alexandre. Descubra Virgínia Rodrigues, a novidade. Folha de São Paulo, 30 mai. 1997. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq300502.htm. Acesso em: 2 out. 2023.
- VIANNA, Luiz Fernando. Virgínia Rodrigues busca novo caminho. Folha de São Paulo, 15 out. 2008. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq1510200816.htm. Acesso em: 2 out. 2023.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
VIRGÍNIA Rodrigues.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa645782/virginia-rodrigues. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7