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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Bando de Teatro Olodum

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.10.2022
17.10.1990 Brasil / Bahia / Salvador
Companhia negra mais popular e de maior longevidade na história do teatro baiano e uma das mais conhecidas do país, o Bando de Teatro Olodum nasce em 17 de outubro de 1990, em Salvador, a partir de uma parceria entre o diretor Marcio Meirelles e o Grupo Cultural Olodum. Fica acertado, desde a fundação, que o Bando tem autonomia para escolher o s...

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Histórico
Companhia negra mais popular e de maior longevidade na história do teatro baiano e uma das mais conhecidas do país, o Bando de Teatro Olodum nasce em 17 de outubro de 1990, em Salvador, a partir de uma parceria entre o diretor Marcio Meirelles e o Grupo Cultural Olodum. Fica acertado, desde a fundação, que o Bando tem autonomia para escolher o seu repertório e interferir de maneira autoral no processo criativo de cada trabalho. Nos primeiros anos, seus integrantes (todos negros) enfrentam o estigma de que não são artistas e que representam no palco as suas próprias histórias de vida. Mas o preconceito não impede que o grupo se imponha e contribua de forma relevante para a inclusão de temas sociais e políticos na vida cultural baiana. O foco principal é o combate ao racismo.

O primeiro espetáculo estréia no dia 25 de janeiro de 1991, numa das salas de um casarão da antiga Faculdade de Medicina da Universidade Federal da Bahia, no Centro Histórico de Salvador. A comédia inaugural Essa É Nossa Praia, encenada por Marcio Meirelles e pela diretora francesa Chica Carelli (co-fundadora da companhia), chega ao palco com 22 atores e define uma linha de trabalho na qual o Bando apresenta pontos de vista sobre o cotidiano sociocultural de Salvador, a cidade mais negra do país. A companhia também dá o primeiro passo para consolidar uma dramaturgia própria, com textos escritos por Meirelles a partir de improvisos do elenco.

Composta por personagens inspirados em tipos comuns das ruas do Pelourinho, a peça de estréia faz do humor um aliado e chama atenção do público com temas de caráter contestatório, como intolerância religiosa, ideologia do branqueamento e marginalidade. Além da palavra, a música e a dança servem de elos de comunicação e viram marcas indeléveis na trajetória do Bando. Esses dois alicerces ganham ainda mais força como base estética e de linguagem do grupo com a chegada do diretor de movimento Zebrinha (1993) e do diretor musical Jarbas Bittencourt (1996). 

Seis meses após lançar a primeira peça, a companhia leva ao palco a montagem Onovomundo, que faz uma incursão pelo sagrado, através da abordagem cênica das nações do candomblé presentes na cultura da Bahia. Em 1992, retorna ao universo do Pelourinho, desta vez voltando-se para dentro dos cortiços da área, a fim de pesquisar o material dramatúrgico de um dos seus maiores sucessos: a tragicomédia Ó, pai, Ó! A mesma peça inspira, na década seguinte, um filme homônimo, dirigido em 2007 por Monique Gardenberg, e um seriado exibido pela TV Globo em 2008 e 2009 (com direção geral de Gardenberg), indicado ao Emmy Internacional, a grande premiação da tevê no mundo.

Também em 1992, o elenco faz a sua primeira temporada fora da Bahia. Leva ao Rio de Janeiro as peças Essa É Nossa Praia, Ó Pai, Ó! e escolhe a capital fluminense para estrear Woyzeck, do dramaturgo alemão Georg Büchner (1813-1837). Na volta a Salvador, enfrenta uma maratona de ensaios para encenar, em 1993, uma das peças mais aguardadas do ano: a elogiada superprodução Medeamaterial, versão moderna do alemão Heiner Muller (1929-1995) para a tragédia grega milenar Medéia, de Eurípedes (480 a.C- 406 a.C), com a atriz convidada Vera Holtz no papel principal. 

Em 1994, o Bando assume uma posição sobre as conseqüências sociais do projeto de recuperação do Centro Histórico de Salvador, posto em prática na época pelo governo baiano, vai a campo ouvir moradores do local e lança Bai Bai Pelô, completando a sua trilogia sobre o universo sociocultural do Pelourinho. A peça marca a estréia do ator Lázaro Ramos no grupo e revela a cantora baiana Virgínia Rodrigues.

A partir desse trabalho, o elenco solidifica a sua militância negra com temas que denunciam de forma contundente a discriminação racial. Centra foco na realidade social das invasões e favelas do país com Zumbi (1995), escrita em parceria com a dramaturga baiana Aninha Franco; no trágico episódio da Chacina da Candelária (RJ) em Erê pra Toda a Vida/Xirê (1996), o primeiro espetáculo de dança do Bando; na reflexão sobre negritude e consumo no fenômeno de popularidade Cabaré da Rrrrrraça (1997) e na violência urbana em Relato de uma Guerra que (não) Acabou (2002).

Ao longo do seu percurso, agrega ao repertório grandes textos da dramaturgia universal: inspirado em A Ópera de três Vinténs, de Bertolt Brecht (1898-1956) e Kurt Weill (1900-1950), monta as versões Ópera de três Mirréis (1996) e Ópera de 3 Reais (1998); discute a guerra em Material Fatzer (2001), de Brecht e Heiner Muller; e enche de fusões com a cultura baiana o clássico Sonho de uma Noite de Verão, de William Shakespeare (1564- 1616), com o qual ganha o Prêmio Braskem de Teatro, realizado anualmente em Salvador, de melhor espetáculo adulto de 2006

Nas encenações de temática afrodescendente, merece destaque, ainda, Áfricas (2007), primeira montagem do seu repertório dedicada ao público infanto-juvenil, e Bença (2010), que reflete sobre o tempo e a morte.

A companhia tem representado o Brasil com suas peças em vários eventos internacionais, como o Out of Lift (London International Festival of Theatre) em Londres (1996), a Estação Cena Lusófona em Portugal (2003), a Semana de Teatro em Angola (2006) e a Copa da Cultura na Alemanha (2006). Além das incursões pela dança, cinema e televisão, o grupo tem dois livros publicados: Trilogia do Pelô, de Marcio Meirelles e Bando de Teatro Olodum (1995), e O Teatro do Bando: Negro, Baiano e Popular (2003), do jornalista Marcos Uzel. É também responsável pelas edições do Fórum Nacional de Performance Negra, em parceria com a Cia. dos Comuns (RJ).

Espetáculos 5

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Fontes de pesquisa 18

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  • MEIRELLES, Marcio; OLODUM, Bando de Teatro. Trilogia do Pelô. Salvador: Fundação Casa de Jorge Amado, 1995.
  • PROGRAMA do espetáculo Bai Bai Pelô, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, out. 1994.
  • PROGRAMA do espetáculo Cabaré da Rrrrraça, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, ago. 1997.
  • PROGRAMA do espetáculo Essa É Nossa Praia, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Gregório de Mattos, jan. 1991.
  • PROGRAMA do espetáculo Material Fatzer, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha , jul. 2001.
  • PROGRAMA do espetáculo Medeamaterial, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Castro Alves, ago. 1993.
  • PROGRAMA do espetáculo Relato de uma Guerra que (não) Acabou, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, jan. 2002.
  • PROGRAMA do espetáculo Um Tal de Dom Quixote, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, abr. 1998.
  • PROGRAMA do espetáculo Zumbi Está Vivo e Continua Lutando, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Passeio Público, nov. 1995.
  • PROGRAMA do espetáculo Zumbi, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, abr. 1995.
  • PROGRAMA do espetáculo Áfricas, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, jul. 2007.
  • PROGRAMA do espetáculo Ó Pai, Ó!, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro do ICBA, fev. 1992.
  • PROGRAMA do espetáculo Ópera de 3 Reais, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, out. 1998.
  • PROGRAMA do espetáculo Ópera de Três Mirreis, Bando de Teatro Olodum, Salvador, Teatro Vila Velha, out. 1996.
  • UZEL, Marcos. A noite do teatro baiano. Salvador: P55 Edições, 2010.
  • UZEL, Marcos. O teatro do Bando - Negro, baiano e popular. Salvador: P555, 2003. (Cadernos do Vila).
  • ___. A mulher negra no Bando de Teatro Olodum: relações raciais e de gênero no espetáculo Cabaré da Rrrrraça. Dissertação de mestrado aprovada pelo Programa Multidisciplinar de Pós-Graduação em Cultura e Sociedade/UFBA, Salvador: 2011.
  • ___. Expressão negra Olodum e um olhar. 1991. Monografia (graduação) Faculdade de Comunicação -FACOM, UFBA, Salvador, 1991.

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