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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 13.05.2024
1966
Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius, é um disco resultante da parceria do violonista Baden Powell (1937-2000) e do poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), lançado em 1966 pelo selo Forma e conta com arranjos e regência do maestro César Guerra-Peixe (1914-1993) Nos vocais, além de Vinicius, o disco tem a participação de Quarteto em Cy e Dulce Nunes ...

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Análise

Os Afro-Sambas de Baden e Vinicius, é um disco resultante da parceria do violonista Baden Powell (1937-2000) e do poeta Vinícius de Moraes (1913-1980), lançado em 1966 pelo selo Forma e conta com arranjos e regência do maestro César Guerra-Peixe (1914-1993) Nos vocais, além de Vinicius, o disco tem a participação de Quarteto em Cy e Dulce Nunes (1936). Há, ainda, vocais gravados por um grupo de amigos da dupla, creditados como “coro misto” e apelidados no texto de contracapa do disco por Vinícius como “coro da amizade”. Vinicius justifica a escolha por estas vozes: “Não nos interessava fazer um disco ‘bem feito’ do ponto de vista artesanal, mas sim espontâneo, buscando a transmissão simples do que queriam nossos sambas dizer (...) E embora não sejamos cantores, no sentido profissional da palavra, preferimos gravar as músicas nós mesmos a entregá-las a cantores e cantoras que realmente distorcem a melodia e o ritmo das canções em benefício de seu modo comercial de cantar, ou de suas deformações profissionais, adquiridas no sucesso efêmero junto a um público menos exigente.”

A inspiração do trabalho é o ritmo e a harmonia do candomblé, religião brasileira de matriz africana. Desde o começo da parceria entre o violonista e o letrista, em 1962, os dois dedicam tempo para escutar um disco presenteado pelo compositor Carlos Coqueijo (1924-1988) a Vinicius, com gravações ao vivo de samba de roda e cantos de candomblé da Bahia. Baden Powell fica impressionado com o som do berimbau nestas gravações e com os rituais religiosos que presencia em viagem a Salvador. Esse impacto é registrado na composição “Berimbau” (1964). Nela, Baden imita, no violão, o som percussivo do instrumento que dá nome à canção que, embora não conste em Os Afro-Sambas, pertence à série composta para o disco. Outra influência para Baden Powell são os estudos de canto gregoriano em aulas com o compositor e maestro Moacir Santos (1926-2006). O violonista nota semelhanças entre os cantos gregorianos e os africanos e compõe alguns sambas sob o sincretismo desta descoberta.

A expressão “afro-samba” traz uma contradição, pois o samba é um gênero de raiz africana. Apesar disso, serve para identificar o conjunto de composições que Baden e Vinicius criam com a fusão de cantos africanos e gregorianos com os elementos rítmicos do candomblé.

Os arranjos do disco contrapõem os instrumentos de percussão comuns nos terreiros (agogô, afoxé, atabaque, bongô) com sax, flauta, violão, baixo e bateria. A combinação é considerada inovadora na chamada música popular brasileira da época, ainda pouco acostumada a incorporar sons percussivos das manifestações tradicionais.

A primeira e mais famosa faixa do disco é “O Canto de Ossanha”, que deve muito de sua popularidade às várias interpretações que a cantora Elis Regina (1945-1982) fez no programa O Fino da Bossa. Segundo ela, a música foi cantada pela primeira vez no programa e a letra foi concluída nos ensaios para a gravação. Em Os Afro-Sambas, a música traz Vinícius na voz principal e Betty Faria em um sensual contracanto. Há, porém, controvérsia em relação ao tratamento que Vinícius dá, na letra, à divindade Ossanha (que também pode ser chamada de Ossaim, Ossonhe ou Ossamim), orixá das folhas litúrgicas e medicinais, quando ele o chama de “traidor”, característica que não corresponde à personalidade de tal santo, segundo as premissas do candomblé.

Em “Canto de Iemanjá”, a cantora Dulce Nunes simula o canto da entidade, representada como rainha do mar na cultura do candomblé, em uma interpretação que Vinicius descreve da seguinte forma na contracapa do LP: “O canto inicial (...) possui um tal mistério que até hoje não posso ouvi-lo sem me perturbar fundamente. Dulce Nunes interpretou-o à perfeição, com uma voz abstrata, como que vinda de fora do além, do mágico mundo marítimo de Iemanjá”. É dela também o solo sem palavras, apenas vocalizes, em “Tempo de Amor”, a primeira faixa do lado B, muitas vezes creditada como “Samba do Veloso” (Baden a compôs no Bar Montenegro, também conhecido como Veloso, mesmo endereço no Rio de Janeiro em que Tom Jobim e Vinícius tiveram a inspiração para o clássico da bossa nova “Garota de Ipanema”).

Em 1990, Baden Powell regrava o repertório de Os Afro-Sambas, com os mesmos arranjos e com o Quarteto em Cy, mas com o intuito de obter melhor qualidade de som. O disco é lançado pela gravadora Biscoito Fino. Além das oito canções do disco original, inclui outras duas parcerias com Vinícius de Moraes (“Labareda” e “Variações Sobre Berimbau”), além de uma composição só dele, “Abertura”. O repertório deste disco inspirou os seguintes: Afro Sambas de Baden Powell e Vinicius de Moraes (1996), de Paulo Bellinati (1950) e Mônica Salmaso (1971); Saravá, Baden Powell (2002), de Clara Sandroni (1960) e Marcos Sacramento (1960) e Afro Samba Jazz (2009), de Mário Adnet (1957) e Philippe Baden Powell (1978).

A cantora Céu (1980) grava uma versão de “Tempo de Amor” em 2010, com participação do pianista norte-americano Herbie Hancock (1940).

Fontes de pesquisa 2

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  • DREYFUS, Dominique. O violão vadio de Baden Powell. São Paulo: Editora 34, 1999.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).

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