Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Abigail Moura

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 03.06.2022
1904 Brasil / Minas Gerais / Eugenópolis
1970 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Abigail Cecílio de Moura (Patrocínio de Muriaé, Minas Gerais, 1904 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1970). Arranjador, regente, compositor, trombonista, baterista, poeta. Considerado pioneiro na incorporação de elementos rítmicos africanos na música brasileira, lidera a Orquestra Afro-Brasileira por quase três décadas. 

Texto

Abrir módulo

Abigail Cecílio de Moura (Patrocínio de Muriaé, Minas Gerais, 1904 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1970). Arranjador, regente, compositor, trombonista, baterista, poeta. Considerado pioneiro na incorporação de elementos rítmicos africanos na música brasileira, lidera a Orquestra Afro-Brasileira por quase três décadas. 

No começo dos anos de 1930, muda-se para o Rio de Janeiro, onde ganha a vida como baterista e trombonista. Compõe canções de sucesso, como a marcha “Que é o amor” (1937), parceria com Vicente Paiva (1908-1964) e F. J. dos Santos. Também compõe para o teatro, assinando a música da opereta "Mandioca Puba" (1942), de Canuto Silva (1903-1932). 

Autodidata, aprende orquestração exercendo a função de copista na Rádio MEC, por meio das cópias que realiza para as orquestras da rádio. No espaço da rádio também realiza os ensaios da Orquestra Afro-Brasileira, fundada em 1942 e dedicada à música brasileira de matriz africana, cujo objetivo consiste em “transmitir as mais profundas mensagens da arte negra”1

A partir de 1945, a orquestra é integrada unicamente por músicos negros, em sintonia com outros grupos artísticos afro-brasileiros surgidos após a redemocratização, como  o Teatro Experimental do Negro, com o qual Moura contribui por meio da composição musical das peças Aruanda (1948), de Joaquim Ribeiro, e Sortilégio (1951), de Adbias Nascimento (1914-2011). Ele também escreve poemas dedicados à causa negra, como “Sombras que sofrem”, incluído na Antologia de la poesía negra americana (1953), do poeta portorriquenho Ildefonso Palés Matos (1899-1996).

Dando continuidade à tradição inaugurada por Pixinguinha (1897-1973) de integrar elementos percussivos afro-brasileiros à orquestra de metais em arranjos dos anos 1930, Moura inclui instrumentos percussivo-religiosos do candomblé, como o trio de atabaques (rum, rumpi e lê), o urucungo (espécie de berimbau), a angona-puíta (ancestral da cuíca), o adjá e o gonguê (espécies de sineta), o agogô, o afoxé e o ganzá. Nas apresentações, uma aura de religiosidade toma forma pelo uso de indumentária e gestual ritualísticos, e a orquestra rende homenagem a efemérides ligadas à história dos africanos no Brasil. 

À percussão somam-se as vozes (coro e solista), além de instrumentos da tradição musical jazzística, como piano e sopros (saxofones, clarinetes, trompetes e trombones). Tal formação, contudo, em nada remete ao jazz, em função da rítmica característica – os metais e o piano seguem a mesma clave da percussão – e da orquestração em bloco, cuja sonoridade se assemelha à de uma orquestra de salão. Ao fundir o que ele qualifica de “primitivo” e “civilizado”, Moura alia o resgate de suas raízes africanas à construção de uma identidade moderna.  

Em “Obaluayê”, parte do primeiro disco da orquestra de 1951, a música se inicia com um canto responsorial entre solista e coro, enquanto uma kalimba marca o tempo binário. Em seguida, metais e piano dissolvem a aura ritualística para introduzir uma ambiência mais moderna, com acordes jazzísticos em ritmo sincopado. A percussão afro-brasileira reintroduz a marcação binária, e o canto retorna, não mais na versão ritualística, mas em melodia original, com arpejos e alternância entre a terça maior e menor, o que revela a atualização do arranjador em relação aos procedimentos eruditos. 

O primeiro LP, Obaluayê! (1957), conta com oito composições do artista. Além de dirigir a Orquestra Afro-Brasileira, grava discos de música popular à frente de sua jazz-band. Entre os raros registros dessa atividade, um disco de 1960 contém o charleston “Rhode la Rocque”, de Bequinho (1895-1980) e o cateretê “Eu só quero é beliscar”, de Eduardo Souto (1882-1942). 

O segundo LP, Orquestra afro-brasileira (1968), lançado no ano em que uma lei estadual fluminense reconhece a utilidade pública da orquestra, conta com  a fusão de música folclórica e ritualística, como na faixa “Calunga”. No trabalho de composição,  a memória afetiva se mistura às pesquisas de Moura com trabalhos de etnógrafos como Edison Carneiro (1912-1972), Roger Bastide (1898-1974) e Manuel Querino (1851-1923).

Ao longo de quase trinta anos, a orquestra realiza mais de uma centena de concertos, em locais como Associação Brasileira de Imprensa e Automóvel Club, reunindo público intelectualizado. Participa também de programas radiofônicos difundidos por emissoras educativas, como a Rádio Clube do Brasil, a Roquette-Pinto e a própria Rádio MEC, o que permite à orquestra se desenvolver como um espaço de experimentação.

O trabalho do pesquisador Gregório de Villanova resulta em um livro-CD (2003) com alguns fonogramas do artista e da Orquestra Afro-Brasileira, por ocasião da mostra Negras memórias, no Museu Afro Brasil. Também no Museu Afro Brasil, em 2014, é realizada a exposição Breves notícias: Abigail Moura e a Orquestra Afro-Brasileira. No mesmo ano, no Dia da Consciência Negra, acontece um show da Orquestra Afro-Brasileira, liderada pelo músico Carlos Negreiros, percussionista da orquestra nos anos 1960.

As composições de Abigail Moura derivam de uma intensa pesquisa da cultura negra, tematizada também em poesias. Seu trabalho inovador funde a música erudita com o jazz e os ritmos afro-brasileiros, atingindo uma sonoridade única. 

Nota

1. MOURA, Abigail. Uma definição do que é essa orquestra negra. Programa de um dos concertos da Orquestra Afro Brasileira. Apud VILLANOVA, Grégoire de; ARAUJO, Emanuel (Coord.). Abigail Moura – Orquestra Afro-Brasileira. Publicação integrada à exposição Negras Memórias, Memórias de Negros. São Paulo: Museu Afro-Brasileiro, 2003.

Espetáculos 5

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • DIAS, Andrea Ernst. Mais “Coisas” sobre Moacir Santos, ou os caminhos de um músico brasileiro. Tese (Doutorado em Música) – Escola de Música da Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2000.
  • ESPETÁCULOS Teatrais. [Pesquisa realizada por Rosyane Trotta]. Itaú Cultural, São Paulo, [20--]. 1 planilha de fichas técnicas de espetáculos.
  • LOPES, Ney. Dicionário literário afro-brasileiro. Rio de Janeiro: Pallas, 2007.
  • PROGRAMA Antena MEC FM. Especial sobre Abigail Moura. Novembro de 1914. Disponível em: < http://radios.ebc.com.br/antena-mec-fm/novidade/2014-11/consciencia-negra-abigail-moura >. Acesso em: 15 nov. 2016.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: