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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Sortilégio - Mistério Negro

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.06.2024
21.08.1957 - 25.08.1957 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro – Theatro Municipal do Rio de Janeiro
Registro fotográfico autoria desconhecida

Cena do espetáculo Sortilégio, 1957
Acervo Cedoc/FUNARTE

Com texto de Abdias do Nascimento, fundador e diretor do Teatro Experimental do Negro, a montagem de Sortilégio, encenada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com artistas de renome e sucesso de público, coroa o investimento do conjunto na criação de uma dramaturgia própria, que valorize os temas ligados à cultura negra, sem perder de vista o...

Texto

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Com texto de Abdias do Nascimento, fundador e diretor do Teatro Experimental do Negro, a montagem de Sortilégio, encenada no Theatro Municipal do Rio de Janeiro, com artistas de renome e sucesso de público, coroa o investimento do conjunto na criação de uma dramaturgia própria, que valorize os temas ligados à cultura negra, sem perder de vista o objetivo artístico.

O texto é uma fábula moral, que cria uma metáfora da situação do negro no Brasil. Emanuel, advogado negro, rejeita sua própria cultura e sua religião por desejo de ascensão social. Apesar de amar a negra Ifigênia, casa-se com uma mulher branca, Margarida. A esposa trai Emanuel que, humilhado, acaba por matá-la. Perseguido pela polícia, busca refúgio num terreiro, onde é assassinado por Ifigênia, a antiga paixão.

O autor, que interpreta o protagonista, reveste a peça de mistério - meias palavras, sentidos figurados, dubiedade nas ações - colocando-a no limite entre a realidade e a lenda, a vida e o culto. A direção colabora para esse feito, por meio de música litúrgica e batuques, um coro que pontua todo o espetáculo, trajes religiosos e máscaras. O diretor Léo Jusi opta pelo que chama de "estética negra", em detrimento de uma leitura individualista e psicológica da história, e trata "este mistério negro em termos de tragédia social, colocando Emanuel não só como o homem, mas também como o herói, bom e mau, símbolo de uma raça, produto de uma injustiça social".1 Por meio dessa abordagem, o protagonista é julgado pelos deuses não pelo crime profano em relação a Margarida, mas pelo "crime sagrado de alienar-se de sua cultura, o de envergonhar-se de sua raça, o de querer embranquecer".2

No programa, vários artistas e intelectuais assinam artigos de análise da contribuição e do mérito artístico da companhia e da montagem, entre eles, o cenógrafo Tomás Santa Rosa, Roland Corbusier, o ministro Clóvis Salgado, o pintor Candido Portinari, Guerreiro Ramos e Glaucio Gill, que identifica como tema central da peça a busca da liberdade e escreve: "Os valores da perdição permanecem vivos para o homem negro, como no primeiro momento. Pesam-lhe pouco, por isto, os falsos valores da escravidão e libertação com que a cultura grega enfeitiçou os homens. Por isto o negro é a negação do grego, a negação de Orfeu. É o antiapolíneo, o ser fáustico por excelência. Abdias do Nascimento foi buscar, nas entranhas da raça, a teofania do Fausto, reino da poesia absoluta. E como o poeta divino da Comédia, que encontra o Paraíso ao ver extinto o objeto de seus desejos, nu e limpo como o primeiro homem, é também depois da morte de seus desejos, que Emanuel poderá exclamar: 'Eu matei Margarida. Sou um negro livre'." 3

Notas

1. JUSI, Léo. Texto para o Programa. SORTILÉGIO. Direção Léo Jusi; texto Léo Jusi e Glaucio Gill. Rio de Janeiro, 1957. 1 folder. Programa do espetáculo, apresentado no Teatro Municipal em agosto de 1957.

2. Ibid.

3. GILL, Glaucio. Texto para o Programa de Sortilégio.

Ficha Técnica

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Autoria
Abdias Nascimento

Direção
Léo Jusi

Cenografia
Bianco

Figurino
Júlia Van Rogger / máscaras de Omolu

Sonoplastia
Marcus Vinícius

Música
Abigail Moura

Coreografia
Ítalo de Oliveira

Elenco
Abdias Nascimento / Sortilégio - Mistério Negro
Amoa / Teoria dos Iaôs
Ana Pelusi / Teoria dos Iaôs
Conceição do Nascimento / Teoria dos Iaôs
Edi dos Santos / Teoria dos Iaôs
Helba Nogueira / Margarida
Heloísa Hertã / Filha de Santo
Ítalo Nogueira / Orixá
Léa Garcia / Ifigênia/Efigênia
Marlene Barbosa / Teoria dos Iaôs
Matilde Gomes / Filha de Santo
Stela Delfino / Filha de Santo

Contrarregra
Marcílio Faria

Maquinista
Carlos Pomares

Pesquisa
Cláudio Moura

Obras 2

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Fontes de pesquisa 3

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  • GELEDÉS INSTITUTO DA MULHER NEGRA; REDE DE HISTORIADORES NEGROS; ACERVO CULTNE. Léa Garcia - atriz e ativista social negra. Google Arts & Culture. Disponível em: https://artsandculture.google.com/story/-wVhTZvAUazsIA?hl=pt-BR. Acesso em: 10 set. 2022.
  • IPEAFRO. Peças e Espetáculos do Teatro Experimental do Negro: Fichas Técnicas. Rio de Janeiro, RJ, 2016, 15 p.
  • ROCHA, Gabriel dos Santos. Teatro experimental do negro: Rompendo a brancura da cena (1944-1968). Moringa - Artes do espetáculo. João Pessoa, V. 13 N. 1 jan/jun. 2022. Acesso em: 30 set. 2023.

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