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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Jean Boghici

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 30.05.2017
1928 Romênia
01.06.2015 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Jean Eugene Boghici (Romênia, 1928 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Colecionador, marchand e galerista. Estuda engenharia na Romênia e, aos 19 anos, muda-se para Paris. Nessa cidade, vive sem documentos, dividindo um quarto de hotel com o secretário de Brancusi (1876-1957), o escritor americano James Baldwin (1924-1987) e o antropólogo r...

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Biografia

Jean Eugene Boghici (Romênia, 1928 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2015). Colecionador, marchand e galerista. Estuda engenharia na Romênia e, aos 19 anos, muda-se para Paris. Nessa cidade, vive sem documentos, dividindo um quarto de hotel com o secretário de Brancusi (1876-1957), o escritor americano James Baldwin (1924-1987) e o antropólogo romeno Henri H. Stahl (1901-1991). Com este último, decide vir para o Brasil. Chegam em 1949. Sem dinheiro e documentos, Boghici dorme algumas noites na praia de Copacabana e então segue para Belo Horizonte. Trabalha como eletricista na Casa Isnard e conhece Guignard (1896-1962), conforme relata no catálogo da exposição que mais tarde organiza sobre o artista. Muda-se para Governador Valadares, Minas Gerais, para trabalhar na firma de engenharia Morris Knudsen. Faz desenhos fortemente expressionistas com temas tirados da miséria local. Segundo conta, é então que desenvolve o gosto por desenhar, animado também por uma exposição de Vincent Van Gogh (1853-1890), que vê em Paris, em 1948.

De volta ao Rio de Janeiro, monta uma oficina de conserto de televisões e ao mesmo tempo trabalha como vitrinista nas lojas Ducal, de José Carvalho. Este depois torna-se sócio da Petite Galerie, onde Boghici tem sua primeira experiência como galerista, ao realizar a exposição do pintor primitivo Pedro Paulo Leal (1894-1968). Nesse período, assiste às aulas práticas que o pintor francês André Lhote (1885-1962) ministra a convite de Prefeitura da cidade.

No final dos anos 1950, Boghici tira a sorte grande: é convidado a participar do programa O céu é o limite, da TV Tupi, respondendo a perguntas sobre Van Gogh. Além do gosto pela arte, o motivo do convite é o fato de Boghici ter deixado a barba crescer, ficando parecido com o ator Kirk Douglas (1916) em um filme de 1956 sobre a vida do pintor holandês. Consegue ganhar uma quantia considerável, que lhe permite comprar um apartamento em Copacabana e um carro. Com o dinheiro restante, adquire obras de Milton Dacosta (1915-1988) e Arpad Szenes (1897-1985), entre outros.

É contratado pela Fundação Cultural do Distrito Federal, cujo diretor é o poeta e crítico Ferreira Gullar (1930), para pesquisar arte popular brasileira. Junto com o cronista José Carlos de Oliveira (1934-1986), também contratado, ele percorre o Norte e o Nordeste do país adquirindo obras que formariam o acervo do Museu da Arte Popular de Brasília, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer (1907-2012). Quando o presidente Jânio Quadros (1917-1992) renuncia, em 1961, eles já haviam comprado 40 caixas de obras.

Pouco depois de perder esse emprego, Boghici inaugura, em 1961, a Galeria Relevo. Tem por sócios Jonas Prochovnic, vendedor de automóveis, Eryma Carneiro, advogado tributarista, e seu filho Carlos Eryma. A inauguração ocorre em agosto, na avenida Copacabana, 252. Os sócios são ligados por uma rede de relações que não são apenas profissionais. Prochovnic é quem financia a galeria. Sua revendedora está localizada no mesmo prédio em Copacabana onde moram Lygia Clark (1920-1988), e Giovanna Bonino, dona da galeria que representa a artista, a Galeria Bonino. Henri Stahl, antigo companheiro de quarto de Boghici, é sócio de Prochovnic na revendedora e amigo de Carlos Eryma, cujo pai, Eryma Carneiro, é colecionador. Seu sobrinho, Evandro Carneiro, trabalha na galeria. O secretário da galeria é Matias Marcier, filho do pintor Emeric Marcier (1916-1990), também romeno, cuja exposição inaugura o espaço.

A primeira obra que Boghici vende é uma urna marajoara pertencente a um frequentador da revendedora de Prochovnic. O comprador é o mecenas Raymundo Ottoni de Castro Maya (1894-1968), que se torna cliente habitual da galeria. As obras das exposições vendem bem. Boghici investe em obras de artistas de sucesso, que já têm galerias, como Alfredo Volpi (1896-1988), Di Cavalcanti (1897-1976), José Pancetti (1902-1958), Dacosta e Guignard. Ao mesmo tempo, na contracorrente, aposta nos artistas cariocas da nova figuração, quando a tendência dominante era o informalismo abstrato. É pela produção de artistas como Antonio Dias (1944), Rubens Gerchman (1942-2008) e Wanda Pimentel (1948) que ele se interessa.

Em 1964, depois de uma exposição de Antonio Dias que não faz sucesso, decide levar as obras para Paris, onde boa parte é vendida. A essa altura, Boghici se associa à marchand e jornalista Ceres Franco, que reside em Paris e ali mantém a galeria L'Oeil de Boeuf. Nessa época, eles se aproximam dos jovens artistas ligados à Escola de Paris, como Guillaume Corneille (1922), Peter Foldès (1924), Michel Macréau, Antonio Berni (1905-1981) e Antonio Segui (1934).

Parte desses artistas formam o contingente estrangeiro da mostra Opinião 65, que Boghici e Ceres organizam no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ). A inauguração acontece em agosto de 1965, com a participação de 29 artistas. Estão presentes, entre outros, os brasileiros Antonio Dias, Rubens Gerchman, Carlos Vergara (1941), Hélio Oiticica (1937-1980), Ivan Freitas (1932-2006), Ivan Serpa (1923-1973) e Roberto Magalhães (1940). Dentre os artistas estrangeiros estão Juan Genovés (1930), Wright Royston Adzak (1927), Alain Jacquet (1939-2008) e Gérard Tisserand (1934). O nome da exposição é tirado do show Opinião, realizado no ano anterior com a cantora Nara Leão (1942-1989), que se inspira em uma música do sambista Zé Kéti (1921-1999). A exposição tem boa repercussão, tanto que enseja uma segunda edição em 1966, a Opinião 66, e serve de modelo para duas mostras realizadas na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. Entre outras coisas, é ali que Hélio Oiticica apresenta publicamente seus parangolés pela primeira vez. Alguns artistas participantes consideram que passaram a ser mais respeitados a partir de então.1 Outros enfatizam o aspecto claramente político da arte exposta.2

Em 1966, a Galeria Relevo inaugura a mostra Supermercado 66, que reúne obras de pequeno tamanho de 90 artistas - de Adzak a Zílio, diz Boghici -,3  a preços acessíveis e colocadas dentro de sacos de papel. A Relevo expõe ainda Samuel Buri (1935), Giorgio Morandi (1890-1964) e o pintor chileno Nemésio Antunes. Mas, por volta de 1967, a atividade começa a declinar em função da situação política, da dificuldade em renovar o contrato com o proprietário da loja e da nova paixão de Boghici, uma húngara que vive em Paris.

O marchand fecha a galeria em 1969 e viaja pelo mundo. Explica que seus melhores amigos - Antônio Dias, Rubens Gerchman, Ferreira Gullar e o crítico Mário Pedrosa (1900-1981) - haviam deixado o país. Em Paris, faz um ano de estágio na Escola do Louvre e depois trabalha na galeria Krugier, em Genebra. Vai a Nova York e Moscou, à Bélgica e à Romênia. Adquire obras de brasileiros que ficaram na Europa e nos Estados Unidos e do uruguaio Joaquín Torres-García (1874-1949), assim como uma grande coleção de Debret (1768-1848).

De volta ao Brasil, Boghici abre em 1979 uma nova galeria, chamada Jean Boghici. É inaugurada com uma mostra de Joaquín Torres-García. A galeria expõe artistas importantes, como Alexander Calder (1898-1976), Frans Krajcberg (1921), Vicente do Rego Monteiro (1899-1970), Maria Martins (1894-1973), Guignard e Marcier. Em 1980, apresenta a mostra Homenagem a Mário Pedrosa, por ocasião da volta de Pedrosa do exílio. O catálogo contém textos de escritores e críticos como Hélio Pellegrino (1924-1988), Clarival do Prado Valladares (1918-1983), Pierre Restany (1930-2003) e Ferreira Gullar. Outras coletivas notáveis foram 150 anos de pintura no Brasil: coleção Sérgio Fadel e Mestres da Pintura Chinesa do século XX.

Boghici também organiza eventos no Rio de Janeiro, fora da galeria. No Copacabana Palace, faz a exposição Realismo poético do Rio de Janeiro séculos XIX e XX, Gustavo Dall'Ara e Jorge Eduardo. Na Casa França-Brasil, organiza Missão artística francesa e pintores viajantes: França - Brasil no século XIX, pelos 200 anos da Revolução Francesa, e Cícero Dias 90 anos: oito décadas de pintura. Para a ECO 92, idealiza a mostra Natureza: quatro séculos de arte no Brasil, que ocorre no Centro Cultural do Banco do Brasil (CCBB).

Boghici sempre se pronuncia a respeito do mercado de arte, sugerindo incentivos fiscais,4  maior confiança nos artistas jovens5 e outras medidas para desenvolver o mercado e favorecer os artistas. A galeria Jean Boghici continua aberta no número 180 da rua Joana Angélica, em Ipanema, Rio de Janeiro.

Notas

1 Depoimento de Antônio Dias in: MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro, 1816 - 1994. Rio de Janeiro: Top-books, 1994, p. 282.

2 Depoimento de Carlos Vergara in: idem.

3 Idem, p. 286.

4 BOGHICI, de volta ao mercado. Arte hoje. Rio de Janeiro, n.º 2, p. 53, ago. 1977.

5 RÊGO, Norma Pereira. Situação do Mercado de Arte. [Enquete realizada com Jean Boghici e Franco Terranova] In: GULLAR, Ferreira (org.). Arte brasileira hoje. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1973, p. 205 - 211.

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 9

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  • ARCO das rosas: o marchand como curador. Apresentação José Roberto Aguilar; texto Celso Fioravante; trad. Camila Henman Belchior. São Paulo: Casa das Rosas, 2001.
  • BOGHICI, de volta ao mercado. Arte hoje, Rio de Janeiro, n.º 2, p. 53, ago. 1977.
  • BRASIL Europa: encontros no século XX. Curadoria Marc Pottier, Jean Boghici. Brasília: Caixa Cultural, 2000.
  • MARTINS, Maria. Maria Martins. Texto André Breton, Michel Tapié, Amédée Ozenfant et. al. Rio de Janeiro: Galeria Jean Boghici, 1997. 95 p., il. color. e p&b.
  • MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro: da Missão Artística Francesa à Geração 90: 1816-1994. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
  • MORAIS, Frederico. Panorama das artes plásticas: séculos XIX e XX. 2. ed. rev. São Paulo: Instituto Cultural Itaú, 1991. 164 p.
  • O HUMANISMO lírico de Guignard. Curadoria Jean Boghici; versão em inglês Carolyn Brisset. Rio de Janeiro: Museu Nacional de Belas Artes, 2000. 287 p., il. color.
  • PENNAFORT, Roberta. Incêndios afetaram acervo de colecionador. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 02 jun. 2015. Caderno 2, C5.
  • RÊGO, Norma Pereira. Situação do Mercado de Arte. [Enquete realizada com Jean Boghici e Franco Terranova] In: GULLAR, Ferreira (org.). Arte brasileira hoje. Rio de Janeiro: Paz e terra, 1973, p. 205-211.

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