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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Wanda Pimentel

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 10.06.2024
1943 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
23.12.2019 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Reprodução Fotográfica Paulo Scheuenstuhl

Série Envolvimento, 1969
Wanda Pimentel
Tinta acrílica sobre tela
130,00 cm x 97,00 cm
Coleção Gilberto Chateaubriand - MAM RJ

Wanda Pimentel (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943 – Idem, 2019). Artista visual. Dedica-se principalmente à pintura. Combina elementos construtivos e estética pop, explorando temas como feminismo e paisagem urbana. 

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Wanda Pimentel (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943 – Idem, 2019). Artista visual. Dedica-se principalmente à pintura. Combina elementos construtivos e estética pop, explorando temas como feminismo e paisagem urbana. 

Estuda pintura com Ivan Serpa (1923-1973), entre os anos de 1965 e 1968, no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-RJ). A série Envolvimentos (1968-1984) é seu primeiro trabalho a ganhar destaque. A obra traz o rigor dos fundamentos construtivos, aprendidos com Serpa, misturados a uma estética pop em que apresenta recortes do cotidiano do seu apartamento.

Usando uma paleta de cores muito vivas e puras, como verde, vermelho e amarelo, pinta cenas nas quais o corpo é fragmentado e cercado de aparelhos eletrodomésticos. As cenas são absorvidas pelo próprio cotidiano da casa onde a artista vive com os pais no bairro do Botafogo, no Rio de Janeiro. Faz também uma crítica à sociedade do consumo, incorporando às pinturas produtos que são objetos de desejo de uma época, como televisão, carro, sapatos, bem como objetos que podem representar risco à figura humana, como serrote, faca e tesoura.

A série tem um quê de autorretrato. Em entrevista ao crítico Hans Ulrich Obrist (1968)1, a artista assume que posa para si mesma e pinta em seu quarto durante as madrugadas. Segundo a curadora Camila Bechelany (1979), a série, de teor feminista com forte crítica à objetificação do corpo da mulher, apresenta uma relação ambígua entre objetos e corpo, levantando a questão: os objetos são humanizados ou o corpo é objetificado? É válido ressaltar que a artista produz este trabalho durante a ditadura militar (1964-1985)2 e reproduz o clima de tensão e perigo da época a partir do atrito dos fragmentos do corpo humano com os objetos.

A série Bueiros (1970-1971), um de seus raros trabalhos escultóricos, contrasta com sua obra anterior. Se em Envolvimentos a artista abre uma fresta para ver uma cena do ambiente privado, nas esculturas em madeira que simulam os bueiros das vias públicas incita uma inquietação a partir do que acontece por baixo daquelas tampas. 

Nos anos 1980, desenvolve a série de pinturas Montanhas do Rio, retratando a paisagem carioca por meio de janelas entreabertas, misturando o mundo interior e o exterior. O tema coincide com a mudança da artista para a região da Lagoa, na zona sul carioca, e remete à sua nova vista. O trabalho segue ainda a linha de desenhos chapados e a tendência construtiva presente nas linhas retas das janelas – de tons mais rebaixados, como amarelo pálido, azul-claro e marrom – que emolduram as montanhas. As pinturas ganham destaque na novela Vale tudo, exibida na Rede Globo, em 1988. A personagem Helena Roitman, interpretada por Renata Sorrah (1947), é uma artista plástica cujos quadros exibidos são de Pimentel.

Depois de um hiato de alguns anos sem expor, a artista volta a mostrar regularidade nos anos 1990, realizando exposições individuais no Centro Cultural Banco do Brasil (1994) e no Paço Imperial (1997 e 1999), na capital fluminense. A partir da década de 2010, passa a trazer detalhes mais declaradamente biográficos ao seu trabalho. A série Memória (2011) é composta por 13 caixas fechadas com acrílico, preservando objetos pessoais como giletes, tesoura, emaranhados de linha prateada, fios de seda, régua e alfinetes em almofada de coração. As urnas transparentes, usadas para apresentar a memorabilia pessoal, contêm fundo negro com traços brancos, retomando a herança construtiva de Serpa.

Entre seus últimos trabalhos está Geometria/flor (2015). Repetindo um fundo com linhas retas, a artista realiza arabescos florais quase abstratos. A pintura de inspiração barroca é carregada de dourado. A cor atípica é relacionada, pela artista, à origem portuguesa de seu pai – imigrante da região dos Açores. A pincelada solta das flores contrasta com linhas rigorosas feitas com régua, presentes no fundo da composição.

Em 2017, a artista expõe pela primeira vez individualmente no Museu de Arte de São Paulo (Masp), com a série Envolvimentos. Um ano após a sua morte, em 2020, o MAM-RJ realiza uma retrospectiva com trabalhos da artista que fazem parte do acervo do colecionador Gilberto Chateaubriand (1925-2022).

Dedicando-se principalmente à pintura, os primeiros trabalhos de Wanda Pimentel apresentam uma incontestável crítica de gênero. O rigor da estética construtiva está presente em diversas fases de sua produção, apresentando-se de diferentes formas. Embora seu cotidiano esteja presente em diversas obras, apenas suas últimas pinturas assumem um caráter biográfico.

Notas

1. OBRIST, Hans Ulrich. Hans Ulrich Obrist: entrevistas brasileiras. 1. ed. Rio de Janeiro: Cobogó, 2018. v. 1, p. 302.

2. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 8

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Reprodução Fotográfica Autoria desconhecida

Exposições 183

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Fontes de pesquisa 19

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