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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

A Nova Dimensão do Objeto

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 08.08.2024
09.1986 - 10.1986 Brasil / São Paulo / São Paulo – Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP)
A exposição A Nova Dimensão do Objeto é realizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), entre setembro e outubro de 1986. Com curadoria de Aracy Amaral (1930), a mostra reúne 28 artistas que experimentam, por meio de variadas técnicas, os limites entre pintura e escultura ou entre bidimensionalidade e tridimensio...

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Histórico

A exposição A Nova Dimensão do Objeto é realizada no Museu de Arte Contemporânea da Universidade de São Paulo (MAC/USP), entre setembro e outubro de 1986. Com curadoria de Aracy Amaral (1930), a mostra reúne 28 artistas que experimentam, por meio de variadas técnicas, os limites entre pintura e escultura ou entre bidimensionalidade e tridimensionalidade. A mostra utiliza o termo “objeto” na produção plástica brasileira para acentuar as dificuldades de palavras estanques (como pintura ou desenho) para qualificar determinada produção das artes visuais. 

A exposição também permite que artistas de três gerações tenham suas obras difundidas e estabeleçam diálogo abrangente sobre a noção de objeto na arte brasileira. Segundo a curadora da exposição, Objetos Cinéticos (c. 1966) de Abraham Palatnik (1928), obra pioneira do cinetismo na América Latina, “encarna bem o artista como inventor do nosso século, o qual o domínio da técnica e imaginativa podem tangenciar através da poética visual da imagem a criação formal e que, por essa mesma razão, tanto interessou os concretos como os neoconcretos”1. Outras obras estão presentes na mostra, como esculturas e instalações de Guto Lacaz (1948) e Barrão (1959), feitas com toda a sorte de aparelhos tecnológicos (televisões, motores, eletrodomésticos) que exploram a relação entre arte e tecnologia. Nessas obras, identificam-se vestígios, signos ou influências da música, da linguagem televisiva, do rádio, dos meios de comunicação, dos computadores portáteis, em suma, de um misto de tecnologia, som e informação rápida que passam a habitar o meio doméstico brasileiro. Dentre os artistas participantes destacam-se: Cao Guimarães (1965), Carlos Fajardo (1941), Iran do Espírito Santo (1963), Jac Leirner (1961), Regina Silveira (1939) e Waltercio Caldas (1946).

É fundamental perceber o contexto para a realização desta mostra e, em especial, o lugar em que ela é exibida. Do ponto de vista institucional, o MAC/USP, na figura de seu diretor Walter Zanini (1925-2013), inova ao difundir, exibir, colecionar e arquivar novas formas de produção nas artes visuais brasileiras, como arte-correio ou mail art, performance, produções em Super-8, videoarte e videoinstalação. Não há na mostra uma preocupação em definir o conceito de objeto, mas em permitir que o público conheça o quão amplas se tornam as vertentes da produção artística. Como Amaral adverte no texto do catálogo, tem-se:

[...] a ideia de uma exposição ampla que apresentasse ao público a criatividade contemporânea brasileira, a partir da feição que o público assume em toda uma geração emergente de artistas, surgiu em função da constatação do grande número de profissionais trabalhando no campo tridimensional, despreocupados em fazer “escultura” em seu sentido convencional2.

A exposição tem como referente, segundo a própria curadora, as potências desencadeadas pelos ready-mades e invenções dadaístas. O deslocamento do uso e do lugar do objeto (agora inserido no meio artístico como uma tática irônica), as assemblages e as colagens de formas, origens, lugares e tempos dispostas no plano são importantes para a produção das artes visuais brasileiras na segunda metade do século XX. Esse é um dos motes da exposição.

Na mostra, há a presença de objetos virtuais, de autoria de Regina Silveira e Georgia Creimer (1964). A primeira, baseada nos desenhos-instalações, posteriormente desenvolvidos em litografia, “aborda móveis com deformações caricaturais, carregando na expressão do desenho do mobiliário em inequívoco retorno à cor e à picturalidade como qualidade em seu trabalho”3. A segunda artista “apresenta desassombradas formas tridimensionais, absolutamente fiel à bidimensionalidade da superfície pintada”4.

A exposição chama a atenção para o desenvolvimento da instalação na arte brasileira. A inclusão de artistas como Carlos Fajardo e Marcello Nitsche (1942-2017) é decorrente dessa pesquisa. A mostra também exibe interesse dos artistas pela pesquisa de materiais, como nos casos de Angelo Venosa (1954) e José Resende (1945). Amaral faz menção a esse aspecto ao tecer uma crítica sobre o trabalho de Resende:

Há alguns anos já lançando mão de pele de animais, Resende abandonou a dureza do ferro pela maleabilidade da superfície de chumbo e da parafina, e eis que apresenta estas duas placas removentes de couro recobertas de diáfano nylon. Entre as duas texturas interpõe-se uma matéria adesiva a conferir uma atração insinuante a esta peça pendente, orgânica como forma a recordar-nos uma frase de poema  dos anos 10, de Blaise Cendrars: “sur la robe elle a un corps…”, densa de sensualidade5.

A mostra exibe um panorama abrangente e qualitativo da produção artística brasileira, em especial dos anos 1980. Retornos, busca de novos materiais, mídias tecnológicas e cinéticas apropriadas pelos artistas, escalas audaciosas na concepção dos trabalhos e aparição de campos ampliados para a pintura e escultura. O meio artístico nacional, por meio de exposições como essa, abre-se à experimentação e deixa de questionar a mídia à qual a obra está atrelada. Como afirma a curadora:

[...] uma vitalidade indubitável emerge desta reunião de produtores de objetos, virtuais ou reais. E assim, colocando lado a lado veteranos e profissionais seguros diante de artistas jovens que apenas surgem, estamos certos de estar proporcionando uma avaliação do momento artístico em que vivemos em nosso país6.

Notas

1 AMARAL, Aracy. Textos do Trópico de Capricórnio: artigos e ensaios (1980-2005). Volume 3: bienais e artistas contemporâneos no Brasil. São Paulo: Editora 34, 2006, p. 155.

2 Idem, p. 152.

3 Idem, p. 157.

4 Idem, ibidem.

5 Idem, p. 157-58.

6 Idem, p. 158-59.

Ficha Técnica

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Fontes de pesquisa 7

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  • ALVARADO, Daisy Valle Machado Peccinini de. Figurações Brasil anos 60: neofigurações fantásticas e neo-surrealismo, novo realismo e nova objetividade brasileira. São Paulo: Itaú Cultural / Edusp, 1999.
  • AMARAL, Aracy. Arte para quê?: a preocupação social na Arte brasileira 1930-1970: subsídio para uma história social da Arte no Brasil. 3. ed. São Paulo: Itaú Cultural : Studio Nobel, 2003. 435 p.
  • AMARAL, Aracy. Textos do Trópico de Capricórnio artigos e ensaios (1980-2005): Modernismo, arte moderna e o compromisso com o lugar. São Paulo: Editora 34, 2006. v.1, 352 p.
  • Angelo Venosa. São Paulo: CosacNaify, 2008.
  • FERREIRA, Glória (Org.). Crítica de arte no Brasil: temáticas contemporâneas. Rio de Janeiro: Funarte, 2006.
  • RETROSPECTIVA Abraham Palatnik: a trajetória de um artista inventor. Curadoria Frederico Morais. São Paulo: Itaú Cultural, 1999. (Eixo Curatorial 1999). Acessado em: 11/07/2023
  • ZANINI, Walter (org.). História geral da arte no Brasil. São Paulo: Fundação Djalma Guimarães: Instituto Walther Moreira Salles, 1983. v. 1.

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