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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Francis Hime

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2023
31.08.1939 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Francis Victor Walter Hime (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939). Compositor, pianista, arranjador, maestro e cantor. Começa a estudar piano aos 6 anos, com a professora Carmen Manhães, no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. De 1955 a 1959, estuda em Lausanne, Suíça, e desenvolve o interesse pela música erudita romântica, que...

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Biografia

Francis Victor Walter Hime (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1939). Compositor, pianista, arranjador, maestro e cantor. Começa a estudar piano aos 6 anos, com a professora Carmen Manhães, no Conservatório Brasileiro de Música, no Rio de Janeiro. De 1955 a 1959, estuda em Lausanne, Suíça, e desenvolve o interesse pela música erudita romântica, que, posteriormente, marca sua produção. Quando volta ao Brasil, tem aulas com os pianistas Tomás Terán (1896-1964) e Wilma Graça (1928-1988). Frequenta, em 1962, as reuniões na casa do poeta Vinicius de Moraes (1913-1980) em Petrópolis, Rio de Janeiro, e conhece Carlos Lyra (1939), Baden Powell (1937-2000), Edu Lobo (1943), Marcos Valle (1943), Wanda Sá (1944) e Dori Caymmi (1943). Em 1963 inicia uma parceria com Vinicius com a canção Sem mais Adeus, gravada por Wanda Sá, Tamba Trio, Dóris Monteiro (1934) e Elizeth Cardoso (1920-1990).

Nos anos 1960 apresenta-se em shows e participa de vários festivais de música popular, entre eles o 1º Festival de Música Popular Brasileira da TV Excelsior, São Paulo, em 1965, com a música Por um Amor Maior, parceria com o cineasta Ruy Guerra (1931), interpretada por Elis Regina (1945-1982). Grava seu primeiro LP instrumental, Os Seis em Ponto, em 1965. No ano seguinte, faz a direção musical e os arranjos do show Pois É, no Teatro Opinião, no Rio de Janeiro, com Vinicius de Moraes, Gilberto Gil (1942) e Maria Bethânia (1946). Em 1968, divide com Dori Caymmi a direção musical de Dura Lex, Sed Lex, no Cabelo só Gumex, peça teatral do dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, e escreve a música para o filme O Homem que Comprou o Mundo, dirigido por Eduardo Coutinho (1933-2014).

Em 1969 casa-se com a cantora Maria Olívia Leuenroth (1943), que adota o nome artístico de Olívia Hime, e vai para os Estados Unidos, onde reside até 1973. Nesse período estuda orquestração com Albert Harris (1916-2005), regência com Roy Rogosin, composição com Paul Glass (1934) e trilha sonora para filmes com Lalo Schifrin (1932), Hugo Friedhopfer (1901-1981) e David Raksin (1912-2004).

Retorna ao Brasil em 1973 e grava o LP Francis Hime, pela Odeon. Faz parte desse disco a música Atrás da Porta, composta em parceria com Chico Buarque (1944), grande sucesso na voz de Elis Regina. Escreve trilha sonora para filmes nacionais, como A Estrela Sobe (1974), de Bruno Barreto (1955); Lição de Amor (1975), de Eduardo Escorel (1945) - que no Festival de Cinema de Gramado recebe o Kikito de melhor trilha sonora e o Prêmio Coruja de Ouro do Instituto Nacional de Cinema (INC), de melhor trilha de cinema do ano -; Dona Flor e Seus Dois Maridos (1976), de Bruno Barreto (1955), dividindo com Chico Buarque mais um Kikito de ouro.

Compõe músicas para as peças de teatro O Rei de Ramos (1979), de Dias Gomes (1922-1999) e direção de Flávio Rangel (1934-1988), em parceria com Chico Buarque; O Banquete (1982), de Mário de Andrade (1893-1945), com direção de Camilla Amado (1939); Tá Ruço no Açougue (1985), uma adaptação de Santa Joana dos Matadouros, de Bertolt Brecht (1898-1956), direção de Antonio Pedro (1940). A partir dos anos 1980, também compõe peças eruditas. Em 1986, escreve a Sinfonia nº 1, dois anos mais tarde, Carnavais para Coro Misto e Orquestra, com texto de Geraldo Carneiro (1952). Rege pela primeira vez, em 1993, a Sinfonia nº 1, à frente da Orquestra Sinfônica Brasileira, no Rio de Janeiro.

Em 2000 compõe a Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião com textos de Geraldo Carneiro (1952) e Paulo César Pinheiro (1949), projeto idealizado por Ricardo Cravo Albin (1940). Dois anos mais tarde, no CD Choro Rasgado, grava a canção Jardim Botânico, em homenagem ao compositor Tom Jobim (1927-1994). Nesse ano, tem seu songbook publicado pela Lumiar Editora. Lança Francis ao Vivo, em CD e DVD, em 2007. Estreia em 2009, na Sala São Paulo, o Concerto para Violão e Orquestra, com o violinista Fábio Zanon como solista, a Orquestra Sinfônica do Estado de São Paulo (Osesp) e regência da mexicana Alondra de la Parra (1980).

Análise

Francis Hime, juntamente com os compositores Edu Lobo, Marcos Valle, Dori Caymmi, Joyce Moreno (1948) e a cantora Wanda Sá, faz parte do grupo da chamada segunda geração da bossa nova. É dono de uma grande e diversificada obra, está sempre envolvido em novos projetos. Utiliza elementos da música popular e da clássica, estabelecendo a ponte entre essas duas formas de composição.

Começa a tocar música popular no piano, de ouvido (a partir da escuta de discos e de outros pianistas), paralelamente ao estudo de música erudita. Na década de 1960 não existem no país escolas especializadas em música popular, as primeiras que apresentam uma nova abordagem no ensino de música são criadas no início da década de 1970.

As primeiras composições de Hime são bossa-novistas, e Vinicius de Moraes, um dos pioneiros desse movimento, é seu primeiro parceiro e a pessoa mais influente em sua obra, com quem, em 1963, compõe as músicas Sem mais Adeus e Anoiteceu. Esta ganha uma versão instrumental do conjunto Zimbo Trio no disco Zimbo Trio + Cordas - É Tempo de Samba, volume 1, produzido pela gravadora RGE, em 1967.

Com Ruy Guerra, escreve, entre outras, a canção lírica Minha (1973). Uma das gravações dessa música é do pianista de jazz norte-americano Bill Evans. Em 2007, ao se apresentar no Festival de Jazz de Montreux, na Suíça, Hime presta uma homenagem a Evans, que alguns anos antes grava sua música nesse mesmo festival. Também em 2007, a pianista Eliane Elias, brasileira radicada nos Estados Unidos, grava o CD Something for You, Blue Note/EMI, em que toca e canta músicas do repertório de Evans, entre elas a canção Minha, homenageando os dois pianistas e compositores.

Com Chico Buarque, Hime compõe alguns sucessos, entre eles Atrás da Porta (Francis Hime, 1973), a cantora Elis Regina grava essa música no disco Elis, de 1972; Trocando em Miúdos (Passaredo, 1977); o choro Meu Caro Amigo, em homenagem ao dramaturgo Augusto Boal (1931-2009), que na época está exilado em Lisboa (Meus Caros Amigos, de Chico Buarque, 1976); e Pivete (Clareando, 1985). Ainda com Chico Buarque compõe o xaxado Passaredo, com uma temática ecológica que dá título ao LP de 1977. Sucesso com o grupo MPB4 e Chico Buarque, Hime também grava a música, mas faz um arranjo diferente, escreve a introdução num clima sinfônico, utilizando flautas e trompas e depois inicia o xaxado característico da composição. Outra parceria com Chico é o samba Vai Passar, de 1983, que no ano seguinte se torna uma referência do movimento das Diretas-Já.

Embora em menor escala, faz letras para suas músicas, entre elas, Olívia, Joana, Cachoeira, Rio Negro, Jardim Botânico em homenagem a Tom Jobim. Compõe melodias sofisticadas e utiliza harmonias que são referências do movimento bossa nova, difíceis de ser reproduzidas por intérpretes pouco acostumados com esse modelo de canção. Também se dedica ao samba e ao choro, entre outros ritmos, como o baião, a marcha-rancho e a valsa.

O conhecimento da orquestra acontece de forma semelhante a outros músicos da época ou mesmo um pouco anteriores: observando e escutando arranjos de vários profissionais. Tom Jobim, por exemplo, aprende com Leo Peracchi (1911-1993), Radamés Gnattali (1906-1988) e outros em estúdios e intervalos de gravações. Mas, é com Paul Glass, quando estuda nos Estados Unidos, que Hime amplia suas possibilidades para compor e escrever para orquestra.

Com Geraldo Carneiro e Paulo César Pinheiro compõe a Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião, em 2000, na qual canta as belezas e a história da cidade. Dividida em abertura e cinco movimentos, cada um deles representa um gênero característico de determinada época: 1º Movimento - O Rio Colônia do Lundu, lundu, de origem africana, vem com os escravos; 2º Movimento - O Rio Imperial da Modinha, modinha, presente nas serestas de rua e nas reuniões boêmias da época; 3º Movimento - O Rio Belle-Époque do Choro, choro, da 1ª República, muitas vezes instrumental, que se apresenta principalmente com flauta, cavaquinho e violão; 4º Movimento - O Rio da Época de Ouro do Samba, samba, lançado a partir de 1917 por Donga, com a música Pelo Telefone; 5º Movimento - O Rio da Bossa Nova, bossa nova, a canção brasileira desde 1957. Hime trabalha com uma orquestra sinfônica tradicional, mas acrescenta uma sessão de percussão, cavaquinho, violão, piano, baixo elétrico e sax. Escreve a trajetória da música popular brasileira apresentando uma sucessão de climas e cores próprias do universo da cidade.

Ao comemorar 70 anos, em 2009, lança um álbum duplo: O Tempo das Palavras... Imagem, pela gravadora Biscoito Fino. Um dos CDs apresenta músicas em parceria com vários poetas e compositores: Geraldo Carneiro, Edu Lobo, Joyce Moreno, Olívia Hime, Paulo César Pinheiro e Paulinho Moska (1967). Uma de suas características é compor com vários letristas, e acredita que trabalhar com alguém novo provoca uma desestabilização e possibilita o aparecimento de novas ideias. Normalmente compõe a melodia e harmonia e entrega para um de seus parceiros pôr a letra, mas neste CD experimenta em cinco músicas do repertório outro processo de criação: escreve a melodia com base em ideias sugeridas pelos versos do poeta Geraldo Carneiro, o ponto de partida nesse caso é a letra. O outro CD do álbum é um trabalho de piano solo com as principais trilhas feitas para cinema. Reescreve para piano todos os arranjos para orquestra e registra em CD um repertório que normalmente fica circunscrito ao cinema, com canções de filmes como Dona Flor e Seus Dois Maridos, A Noiva da Cidade e Marília e Marina.

Obras 49

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Espetáculos 7

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Fontes de pesquisa 13

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  • CAMPOS, Augusto de. Balanço da bossa e outras bossas. São Paulo: Editora Perspectiva, 1968.
  • CASTRO, Ruy. Chega de Saudade: a história e as histórias da bossa nova. São Paulo: Companhia das Letras, 1990.
  • FRANCIS Hime. Site Oficial do Artista. Disponível em: < http://www.francishime.com.br/>. Acesso em 10 de jan. de 2010.
  • Francis Hime. In: DICIONÁRIO Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2002. Disponível em: [http://www.dicionariompb.com.br/francis-hime]. Acesso em: 20 dez. 2009.
  • HIME, Francis. O tempo das palavras... Imagem - CD Duplo, Francis Hime, Biscoito Fino, 2009.
  • HIME, Francis. Sinfonia do Rio de Janeiro de São Sebastião - Francis Hime, com letras de Geraldo Carneiro e Paulo Cesar Pinheiro. Argumento - Ricardo Cravo Albin. Orquestra Sinfônica sob regência de Francis Hime - DVD. Biscoito Fino, Rio de Janeiro, 2000.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MELLO, Zuza Homem de. A era dos festivais: uma parábola. São Paulo: Editora 34, 2003.
  • MOTTA, Nelson. Noites tropicais: solos, improvisos e memórias musicais. Rio de Janeiro: Objetiva, 2000.
  • RIBEIRO, Solano. Prepare seu coração. São Paulo: Geração Editorial, 2003.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • TATIT, Luiz. O século da canção. São Paulo: Ateliê Editorial, 2004.
  • TEATRO ALIANÇA FRANCESA. Belas Figuras: São Paulo, SP, [1983]. Programa do Espetáculo.

Como citar

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