Um século de agora

Capa da publicação da exposição Um século de agora, 2023
Texto
Um Século de Agora é uma exposição coletiva realizada no Itaú Cultural, entre novembro de 2022 e abril de 2023, no contexto do centenário da Semana de Arte Moderna de 1922, com a proposta de refletir sobre as reverberações do evento modernista no cenário artístico brasileiro contemporâneo. A mostra amplia os horizontes artísticos ao envolver algumas gerações de artistas advindos de diversos contextos e localidades do Brasil. As obras ali apresentadas rompem com definições e entendimentos naturalizados sobre história, tempo, nação e tradição. Além disso, relacionam-se com ampla gama de experiências sociais e políticas, evidenciando também diferentes cosmogonias e cosmovisões.
A mostra é realizada pelo Núcleo de Artes Visuais do Itaú Cultural. A curadoria é compartilhada entre a professora e pesquisadora mato-grossense Naine Terena (1980), a pesquisadora e crítica de arte sergipana Júlia Rebouças (1984) e a pesquisadora e educadora baiana Luciara Ribeiro (1989). Durante o processo de investigação curatorial, o trio conta com o apoio de um grupo de interlocutores convidados para discussão conceitual da mostra, integrado, entre outras pessoas, pelo artista uruguaio Fernando Velázquez (1970), pelo artista e professor Orlando Maneschy (1968) e pela artista e curadora Ué Prazeres (1995).
A mostra tem a participação de 25 artistas e coletivos representantes de 11 estados brasileiros. As mais de 70 obras ali exibidas são, em sua maioria, produzidas ou concluídas em 2022, sendo algumas delas comissionadas para a exposição. Um Século de Agora, que ocupa três andares do edifício do Itaú Cultural, busca evidenciar a pluralidade existente no Brasil, com suas diferentes formas de existências e expressões. Assim, as obras ali presentes são realizadas em múltiplas linguagens artísticas.
As atividades de difusão da mostra são uma faceta de grande importância. Elas ocorrem tanto por meio da acessibilidade disponível no espaço expositivo, quanto por meio de visitas educativas presenciais e virtuais, produtos multimídia e formações de professores. Os conteúdos de 13 obras da exposição são trabalhados de modo a se tornarem acessíveis, por meio, por exemplo, de audiodescrição, vídeo-guias e piso tátil.
A curadoria propõe possibilidades de mudanças nas perspectivas usuais dos circuitos culturais nacionais – que possuem predominância do viés branco, patriarcal e sudestino –, visando, assim, a construção de uma identidade nacional brasileira compartilhada por variados protagonismos.
Essa preocupação se torna evidente nas escolhas dos trabalhos para a mostra, como as fotografias que compõem a obra nós estávamos esperando por vocês da artista carioca abigail Campos Leal (1988). Nessa série, iniciada durante a pandemia de Covid-19, a artista retrata divindades ancestrais em meio a um cenário pós-apocalíptico de cura, como forma de discutir a permanência e a resistência de elementos da cosmologia trans, apesar das tentativas de apagamento dessas pessoas e seus corpos.
Já a baiana Glicéria Tupinambá (1982) trata de outras cosmogonias. Ela exibe o manto Assojaba tupinambá (2021), composto por malha modelada com a técnica do jereré, cera de abelha jataí e plumagem de aves da Serra do Padeiro, da Bahia. A obra representa a transformação e a resistência cultural, dialogando com a ancestralidade do povo Tupinambá e suas indumentárias históricas, pilhadas durante o período colonial e armazenadas em coleções fora do Brasil, concentradas principalmente na Europa.
O Coletivo Revolução Periférica aborda outras estratégias de resistência em relação aos processos históricos que silenciam e apagam alguns povos, enquanto engrandecem outros. O coletivo participa da mostra com os registros fotográficos do ato contra a estátua de Borba Gato realizado pelo coletivo, em julho de 2021, e as faixas “Revolução Periférica – a favela vai descer e não vai ser Carnaval” e “A periferia segue viva”. O ato de atear fogo à escultura do bandeirante Borba Gato é simbólico para levantar o debate sobre a incongruente representação de personalidades truculentas em monumentos públicos oficiais que celebram o passado colonial escravista brasileiro. Já as faixas reforçam a resistência e persistência das populações em condições periféricas.
Por outro lado, a obra sonora Orelhinha (2021), da artista mineira Sara Lana (1988), discute formas de se preservar a história com uma abordagem que se distancia das metodologias tradicionais, pautadas no uso comum de documentos escritos. O trabalho de Lana enfatiza a oralidade como ferramenta útil na documentação das histórias e memórias em diversas partes do Brasil, uma vez que parcela significativa dos habitantes do país não domina a escrita. Após constatar a grande quantidade de telefones públicos, conhecidos como orelhões, nas margens de rios como o Doce, o São Francisco e o Jequitinhonha, a artista resolve utilizá-los como microfones de gravação. Ela liga para eles e conversa com quem atende, documentando a cultura ribeirinha.
Um Século de Agora retoma discussões relacionadas à Semana de Arte Moderna e as amplia por meio das produções artísticas datadas de 2022, buscando a inserção de identidades e problemáticas preteridas nos circuitos artísticos, a partir dos quais a Semana de 1922 se consagra. Assim, a mostra reforça novas possibilidades de ação para se entender o Brasil e suas identidades, confrontando os parâmetros hegemônicos nas narrativas da arte nacional.
Ficha Técnica
Júlia Rebouças
Luciara Ribeiro
Naine Terena
Artista participante
A TRANSÄLIEN
abigail Campos Leal
Aislan Pankararu
Amanda Melo
Carmézia Emiliano
Dalva de Barros
davi de jesus do nascimento
Davi Pontes
Denilson Baniwa
Glicéria Tupinambá
Gustavo Caboco
João Cândido da Silva
José Bezerra
Júlia Debasse
Juliana dos Santos
Juliana Xukuru
Keila Sankofa
Lídia Lisboa
Linga Acácio
Luana Vitra
Roberto Magalhães
Sara Lana
Obras 2
Batalha II
Pandora Libertando os Males do Mundo
Exposições 1
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13/2/1922 - 17/2/1922
Mídias (1)
Fontes de pesquisa 7
- INSTITUCIONAL: panorama da arte e da cultura brasileiras. Um Século de Agora. Itaú Cultural: São Paulo, [2023]. Disponível em: https://um-seculo-de-agora.webflow.io/institucional. Acesso em: 31 out. 2023.
- ITAÚ CULTURAL (Org.). Um século de agora. Autores Abigail Campos Leal; Aislan Pankararu; Amanda Melo da Mota; vários autores. São Paulo: Itaú Cultural, 2023.
- LAURIANO, Carolina. Um Século De Agora para construir um novo futuro. Revista Select, São Paulo, 8 mar. 2023. Disponível em: https://select.art.br/um-seculo-de-agora-para-construir-um-novo-futuro/. Acesso em: 1 nov. 2023.
- MOSTRA um Século de Agora: Itaú Cultural. Dasartes. [S.l.], [2023]. Disponível em: https://dasartes.com.br/agenda/mostra-um-seculo-de-agora-itau-cultural/. Acesso em: 7 nov. 2023.
- MOSTRA ‘Um Século de Agora’ puxa fios narrativos de 1922 na produção da atualidade. Revista Museu, Rio de Janeiro, [2023]. Disponível em: https://www.revistamuseu.com.br/site/br/galeria/15675-mostra-um-seculo-de-agora-puxa-fios-narrativos-de-1922-na-producao-da-atualidade.html. Acesso em: 6 nov. 2023.
- OBRAS: entre instalações, vídeos, pinturas, fotografias, um diálogo com passado, presente e futuro. Um Século de Agora. Itaú Cultural: São Paulo, [2023]. Disponível em: https://um-seculo-de-agora.webflow.io/obras. Acesso em: 6 out. 2023.
- RELEASE: Mostra Um Século De Agora puxa fios narrativos de 1922 na produção da atualidade. Um Século de Agora. Itaú Cultural: São Paulo, [2023]. Disponível em: https://um-seculo-de-agora.webflow.io/release. Acesso em: 31 out. 2023.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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UM século de agora.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/evento606608/um-seculo-de-agora. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7