Amanda Melo da Mota Silveira (São Lourenço da Mata, Pernambuco, 1978). Artista visual. Destaca-se por criar relações de interferência múltipla entre corpo e espaço, humano e natureza, por meio de desenho, performance, objeto, fotografia e vídeo. Alia a arte ao encontro, para que estes resultem em vivência transformadora e visualidade poética.

Durante a adolescência, realiza intercâmbio estudantil nos Estados Unidos e, diante da possibilidade de montar sua grade curricular, propõe-se a estudar aquilo que não encontra na educação formal brasileira, como teatro e artes visuais. Cursa o ciclo básico de artes e, em 1997, ganha seu primeiro prêmio na exposição da escola.

Em 2000, ingressa na licenciatura em educação artística com habilitação em artes visuais da Universidade Federal do Pernambuco (UFPE) e logo começa a apresentar seus trabalhos em exposições. Sua ação Isolante (2003) repercute na Semana de Artes Visuais do Recife (SPA das Artes). A obra em vídeo traz uma performance na qual a artista fica inteiramente coberta por fita isolante e sai à rua para ter contato com os transeuntes. Por fim, ela retorna ao local inicial para retirar a fita e apresentar seu corpo real, tão diferente da figura inusitada sobre a qual os passantes projetam sua curiosidade. Como premiação no evento, recebe bolsa para estudar em Londres, na Inglaterra. 

Sua primeira mostra internacional como artista profissional ocorre na Latin American Contemporary Art, na Light Gallery, em Londres, em 2004. Nesse ano também recebe o prêmio Chamex de Arte Jovem. Tem duas exposições individuais em 2005, por meio da seleção no Projeto Trajetórias da Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj), em Recife, Pernambuco, e no Projeto Atos Visuais da Fundação Nacional de Artes (Funarte), em Brasília, Distrito Federal. Participa da edição 2005-2006 do Rumos Artes Visuais do Itaú Cultural. Em 2007, conclui a graduação e é premiada na terceira edição da Bolsa Pampulha, em Belo Horizonte, Minas Gerais.

Desenvolve pesquisa cartográfica em praias do litoral brasileiro, nas quais desenha com lápis aquarelável e papel dentro do mar, deixando que a oscilação do oceano interfira em seus movimentos e que a água salgada desfaça a precisão dos traços. Expõe a série de desenhos Sal é mar (2009) no 47º Salão de Artes de Pernambuco, no qual é premiada em 2009. O corpo não é evidenciado diretamente nessa obra, mas aparece enquanto ação e resistência ao seguir desenhando mesmo diante da dificuldade apresentada pelo meio. Ainda assim, o mar é abraçado como co-autor essencial para a consecução das imagens finais.

Apresenta exposição individual no Centro Cultural São Paulo (CCSP), em 2010, e participa da 32ª e da 33ª edições do Panorama de Arte Brasileira, no Museu de Arte Moderna de São Paulo (MAM-SP), em 2011 e 2013. Nesse último ano, também é selecionada para a Panoramas do Sul, mostra competitiva do 18º Festival de Arte Contemporânea Sesc_Videobrasil.

Em 2014, lança o livro-catálogo Água forte no Museu de Arte Moderna Aloisio Magalhães (Mamam), em Recife, com a retrospectiva do conjunto de sua obra até então. Nos dois anos posteriores, participa de residência artística na Sanskriti Foundation, em Nova Delhi, na Índia, a convite do Ministério das Relações Exteriores do Brasil, e da sessão de videoarte Dissonance, no The Getty Research Institute, em Los Angeles, nos Estados Unidos.

Cursa especialização em pedagogia sistêmica pelo Centro Universitário Doctor Emilio Cárdenas (Cudec-México)/Faculdade Innovare (Brasil) e em teorias e práticas em cuidados integrativos pela Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Traz as perspectivas e ferramentas terapêuticas como elementos a comporem seus processos artísticos.

Na Residência Artística Intercambiável Floripa.SP, em 2017, ocupa o Espaço Cultural Armazém (Coletivo Elza), em Florianópolis, Santa Catarina. Durante o período, visita sítios arqueoastronômicos¹ e estabelece contato com grupos que celebram solstícios e equinócios, com pesquisadores de arqueoastronomia, rezadeiras e as mulheres do Coletivo Elza. A partir dessas vivências, produz performances e fotografias exibidas em Cosmografias Atemporais (2019), estabelecendo relações entre o passado remoto da ilha, as práticas de seus habitantes e o momento presente. Cinco fotografias intituladas Cosmografia (2017-2019) recebem o prêmio aquisição no 11º Salão Nacional Victor Meirelles, em 2022.

Diante das intensas queimadas no Pantanal em 2020, Amanda Melo se reúne a outros doze artistas e à comunidade ribeirinha local no Projeto Pantanal Agora (2020). Dá-se uma residência artística e, por meio da proposição Artista brigadista (2020), idealizada por Melo, são realizados cursos para formar duas brigadas de incêndio comunitárias, distribuindo equipamentos adequados adquiridos por meio da venda de obras dos artistas envolvidos. 

Possui trabalhos nos acervos do Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM-Rio); no Museu de Arte da Pampulha (MAP), em Belo Horizonte; no Centro Cultural Banco do Nordeste e no Centro Cultural Dragão do Mar, ambos em Fortaleza, Ceará; e na Fundação Joaquim Nabuco (Fundaj) em Recife.

Amanda Melo tem o conjunto da obra plural em meios, mas seu centro criativo se encontra nas relações. Para que exista cada trabalho, deve haver contato, seja com a natureza, com o espaço ou com o outro. É assim que se torna possível pensar a existência e novas formas de estar no mundo, propondo transformações a si mesma e ao outro como seres conscientes de sua estadia transitória no planeta.

Nota
1. Sítios arqueoastronômicos são locais onde os povos originários observam os astros celestes.