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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Juliana dos Santos

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 09.10.2024
1987 Brasil / São Paulo / São Paulo
Juliana Oliveira Gonçalves dos Santos (São Paulo, São Paulo, 1987). Artista visual, arte-educadora, pesquisadora. Tem a experimentação como campo fundamental em seu fazer estético, seja em seu diálogo com a dança e a música, na passagem pela criação híbrida em pintura, performance, vídeo, fotografia e instalação, ou no posicionamento pela defesa...

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Juliana Oliveira Gonçalves dos Santos (São Paulo, São Paulo, 1987). Artista visual, arte-educadora, pesquisadora. Tem a experimentação como campo fundamental em seu fazer estético, seja em seu diálogo com a dança e a música, na passagem pela criação híbrida em pintura, performance, vídeo, fotografia e instalação, ou no posicionamento pela defesa de que a arte realizada por negros pode tocar qualquer tema desejado e utilizar a técnica que quiser eleger.

Nasce no Parque Peruche, em São Paulo, onde tem contato com as escolas de samba da região e, através de seu pai, a dança se torna familiar e cotidiana. Começa a se interessar pelo desenho e é ensinada pelo tio. Sua mãe – artesã dedicada ao patchwork1 – a inscreve em classes de desenho aos seis anos. Aprende as cores com a avó paterna pintando panos de prato. Ingressa como bolsista em colégio com poucos estudantes negros. Destaca-se por suas habilidades artísticas e, durante o oitavo ano, é incentivada por uma professora a ser artista.

No Cursinho Popular do Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo (USP), faz seu primeiro contato com discussões étnico-raciais. Inicia a graduação em Artes Visuais na Universidade Estadual Paulista Júlio Mesquita Filho (UNESP) no campus de Bauru em 2008. Mais uma vez, é uma das poucas alunas negras e começa a questionar a abordagem eurocêntrica do ensino de artes.

Junto às artes visuais, passa pela criação em teatro, faz parte do Balé Folclórico de São Paulo-Abaçaí, no qual permanece profissionalmente por dois anos, e tem contato com a música ao participar de afoxés, tocando xequerê. Juliana dos Santos não vê separação entre as artes, buscando experimentar continuamente e alimentar suas práticas poéticas com as vivências do corpo e da música.

Em 2013, faz a primeira apresentação da performance Qual é o Pente? (2013-2015), que se torna vídeo em 2016. Nela, a artista convida sua avó materna para finalmente realizar o desejo de alisar o cabelo da neta. O instrumento utilizado é o pente-quente aquecido no fogão. A violência dessa técnica é contrastada com outro ensinamento da avó através da ação da artista de tratar os cabelos com chá de carqueja para que os fios cresçam fortes e volumosos, reafirmando a resistência contra a opressão.

Entre 2013 e 2015, trabalha como arte-educadora no Museu Afro Brasil (MAB), no qual aprofunda seus conhecimentos a respeito da história, cultura e arte afro-brasileira em contato com equipe interdisciplinar. Conclui a graduação e ingressa no mestrado em artes da UNESP com o interesse em discutir questões sobre um ensino de artes no qual não perdure a invisibilidade étnica e o racismo estrutural. 

Nesse período, passa a trabalhar no Núcleo de Educação Étnico-racial da Secretaria Municipal de Educação de São Paulo, atuando junto às escolas na formação de professores e gestores e na dissolução de conflitos para a implementação da Lei nº 10.639/2003, que trata da obrigatoriedade do ensino de história e cultura afro-brasileira e africana em todos os níveis educacionais. Os trabalhos no MAB e na Secretaria de Educação são fundamentais nas reflexões levantadas na dissertação defendida em 2017.

Assim como na arte-educação, Juliana dos Santos afirma o estabelecimento de relações ao longo dos processos como parte fundamental de sua poética enquanto artista. Volta-se cada vez mais à investigação do azul, tomando a flor Clitória Ternátea como matéria principal. O vegetal aparece como imagem junto à fotografia de sua mãe construindo a casa da família na cianotipia2 Clitoria (2017) – obra premiada no 16º Salão Ubatuba de Artes Visuais. Posteriormente, propõe ao público a ingestão do azul extraído da planta em chá e tapioca na performance Comer e beber o azul (2018-2020). Nesses momentos, começa a receber relatos das experiências dos participantes, principalmente de pessoas pertencentes a grupos étnicos não-brancos.

Durante o início de sua trajetória internacional, ao expor em Viena em 2018, a artista é interpelada por curadores e instituições em constante demanda por sua narrativa enquanto mulher negra do sul periférico, ainda que deseje tratar também de outros temas e questões técnicas da arte – não interditados aos artistas brancos. A reflexão sobre esse embate amplia a investigação do azul como proposição de experiência sensível compartilhada e metáfora da vivência negra em um espaço de construção de imaginação. 

A instalação Entre o Azul e o que não me deixo/deixam esquecer (2019) – individual apresentada no Paço das Artes – traz uma sala com panos caídos a partir do teto e que levam à perda de referência do espaço geométrico do cômodo. Com a entrada do visitante, a luz azulada é ativada junto à camada sonora da voz da artista relatando experiências azuis. Ambos se intensificam enquanto há exploração do espaço, buscando propiciar ao participante sua vivência particular do azul. Essa obra também é exposta na 12a Bienal do Mercosul, ampliando sua dimensão de encontro ao compartilhar a experiência com pessoas negras de Porto Alegre e ao coletar suas falas para o áudio da instalação.

Em 2019, ingressa no doutorado em artes da UNESP e, a partir de 2021, passa a ter obras no acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo (Pina_), do Museu da Língua Portuguesa e do Centro Cultural São Paulo (CCSP)
Juliana dos Santos reconhece e afirma a importância do campo sensível das experiências negras para além das vivências de opressão. Ela forma um terreno comum para que o que se imagina crie possibilidades outras de estar no mundo cada vez mais potentes e vastas.

Notas

1. Técnica que consiste em unir retalhos de variados tecidos pela costura, formando diferentes combinações de cores e padronagens.

2. Cianotipia é uma técnica de fotografia analógica na qual a impressão da imagem se dá em tons de azul.

Exposições 10

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