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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Enciclopédia Negra

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.11.2023
01.05.2021 - 08.11.2021 Brasil / São Paulo / São Paulo – Pinacoteca de São Paulo (Pina_)
A exposição Enciclopédia Negra é apresentada na Pinacoteca do Estado de São Paulo no período entre 1 de maio a 8 de novembro de 2021. A mostra é um desdobramento do livro homônimo organizado por Lilia Moritz Schwarcz (1957), Flávio dos Santos Gomes (1964) e Jaime Lauriano (1985), publicado pela Companhia das Letras em março do mesmo ano. A publi...

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A exposição Enciclopédia Negra é apresentada na Pinacoteca do Estado de São Paulo no período entre 1 de maio a 8 de novembro de 2021. A mostra é um desdobramento do livro homônimo organizado por Lilia Moritz Schwarcz (1957), Flávio dos Santos Gomes (1964) e Jaime Lauriano (1985), publicado pela Companhia das Letras em março do mesmo ano. A publicação reúne as biografias de mais de quinhentas e cinquenta personalidades negras, em quatrocentos e dezesseis verbetes individuais e coletivos; a exposição torna pública pela primeira vez cento e três obras inéditas realizadas por trinta e seis artistas para a publicação.

Muitas das personalidades encontradas na Enciclopédia negra tiveram as suas imagens e histórias de vida apagadas ou nunca registradas. O objetivo do livro é interromper essa invisibilidade. Da mesma forma, a mostra integra uma das missões atuais da Pinacoteca, a de revisar narrativas consolidadas na história social e institucional, sobretudo no que se refere à representatividade de gênero e raça.

A doação dos artistas das cento e três obras da mostra cria uma importante intervenção no acervo da Pinacoteca: se até aquele momento a instituição possui vinte e seis obras de artistas negros, ela passa a contar depois da exposição com cento e vinte e nove obras e a representar trinta novos artistas negros, dezoito deles mulheres e doze homens.

A exposição ocupa três salas da Pina Luz1 e conta com curadoria da equipe do projeto Enciclopédia Negra e da Pinacoteca de São Paulo. Diferentemente da organização alfabética da publicação, a mostra é organizada em seis núcleos temáticos, aglutinando biografias de tempos históricos diversos e ressaltando aspectos comuns entre elas: "Rebeldes"; "Personagens Atlânticos"; "Protagonistas Negras"; "Artes e Ofícios"; "Projetos de Liberdade"; e "Religiosidades e Ancestralidades".

"Rebeldes" reúne o retrato de personagens importantes para a história de enfrentamento da sociedade brasileira escravocrata. Encontra-se nessa sessão o retrato de Zumbi dos Palmares (1655-1695), realizado em 2020 por Arjan Martins (1960). Grande líder dos mocambos em Palmares no século XVII, Zumbi é um personagem incontornável para a história nacional, porém com poucos registros nas fontes da época.

O núcleo "Personagens Atlânticos" apresenta protagonistas do espaço econômico, político, social e cultural criado entre os continentes africano, europeu e as Américas. Entre eles, encontra-se Mahitica (século XIX), angolano atuante no comércio atlântico como Bomba, uma espécie de intérprete dos traficantes de escravos. Memórias orais do povo N'Goio2 sugerem que a vinda dele para o Brasil como escravizado está ligada ao resgate de parentes escravizados no país. Seu retrato, Mahitica (Vogue) (2020), é de autoria de Elian Almeida (1994).

Em "Protagonistas Negras" se encontram importantes personalidades femininas de luta e resistência. Como Adelina (séc. XIX), conhecida como Boca da Noite, escravizada doméstica no Maranhão que participa de manifestações abolicionistas e atua na fuga de escravizados e na manutenção de quilombos. Seu retrato é realizado em 2020 por Hariel Revignet (1995).

"Artes e Ofícios" recupera personagens que se destacam em diversas áreas do conhecimento, como cientistas e intelectuais. Está nessa sessão o retrato realizado em 2020 por Warley Desali (1983) do professor Pretextato dos Passos e Silva (?-1886), que funda no século XIX uma escola de primeiras letras na corte do Rio de Janeiro para receber alunos pretos e pardos como alunos.

Já "Projetos de Liberdade" reflete o que foi a liberdade para os escravizados em uma sociedade ainda escravista. O quadro Esperança Garcia (2020), de Bruno Batistelli (1985), retrata Esperança Garcia do Piauí (séc. XIX), escravizada em uma ex-fazenda jesuítica no Piauí. Alfabetizada para não se separar de sua família, escreve uma petição às autoridades pedindo para não ser transferida de fazenda, procedimento comum na época.

"Religiosidades e Ancestralidades" explora as redes de solidariedade criadas pela religião desde o início da escravidão. O religioso Agostinho Pereira (1799-?), mais conhecido como Divino Mestre, é acusado de comandar uma seita de negros que sabiam ler e escrever. Criminalizado por alfabetizar pessoas, tem textos e livros apreendidos e é condenado à prisão. Seu retrato, A divindade que está vivendo de agora (Divino Mestre) (2020) é de Heloisa Hariadne (1998).

Além das obras inéditas, poucos acréscimos são realizados na exposição com obras do acervo. Destacam-se a série de desenhos Estudos para imolação (2009-2014), de Sidney Amaral (1973-2017), em que o artista joga com narrativas históricas, e a famosa pintura Baiana, de autoria desconhecida, do Museu Paulista da Universidade de São Paulo (USP) em comodato com a Pinacoteca, um retrato do século XIX de uma mulher negra adornada com joias e luvas (nesse período dificilmente uma pessoa com esse perfil é retratada individualmente). Há ainda obras da exposição permanente Pinacoteca: Acervo que dialogam com a mostra, como obras de nomes como Arthur Timóteo da Costa (1882-1922) e Heitor dos Prazeres (1898-1966), artistas fundamentais para o repertório da Enciclopédia.

A exposição Enciclopédia Negra colabora com a revisão de narrativas consolidadas na história social brasileira e com a visibilidade de personalidades negras importantes. A mostra é um marco para o acervo da Pinacoteca do Estado de São Paulo e incentiva a atuação de artistas negros, homens e mulheres, que passam a integrar a coleção do museu.

Notas
1.
A Pinacoteca possui dois edifícios abertos ao público: a Pinacoteca Luz e a Pinacoteca Estação. A primeira é conhecida pelos visitantes como Pina Luz, antiga sede do Liceu de Artes e Ofícios. A Pinacoteca Estação, ou Pina Estação (próxima à Pina Luz), foi inaugurada em 2004 e abriga os armazéns e escritórios da Estrada de Ferro Sorocabana.
2. Povo do reino de Cabinda, Angola.

Ficha Técnica

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