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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Mulambö

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.06.2024
1995 Brasil / Rio de Janeiro / Saquarema
Foto de Autoria desconhecida/Galeria Mendes Wood DM

Costão, 2019
Mulambö
Acrílica sobre fotografia impressa em papel hahnemühle photo rag 308 g (com moldura)

João Gabriel da Motta (Saquarema, Rio de Janeiro, 1995). Artista visual. Sua obra se ancora na cultura popular brasileira, com uso de símbolos e materiais do cotidiano das periferias como elementos centrais para reformulação de narrativas e personagens suburbanos.

Texto

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João Gabriel da Motta (Saquarema, Rio de Janeiro, 1995). Artista visual. Sua obra se ancora na cultura popular brasileira, com uso de símbolos e materiais do cotidiano das periferias como elementos centrais para reformulação de narrativas e personagens suburbanos.

O artista costuma dizer que “nasceu João, mas cresceu Mulambö". O apelido surge na infância: depois de passar o dia jogando bola e voltar para casa sujo, a mãe costuma dizer que o menino está sempre "esmolambado". Ao assumir a alcunha, o artista também sintetiza a característica de seu trabalho de reimaginar e legitimar símbolos muitas vezes associados ao universo do subúrbio e das pessoas marginalizadas.

Em sua obra, Mulambö emprega materiais e elementos subestimados, como papelão, tijolo, pneu e fotografia de momentos de família. Em Queria um pincel, me deram uma vassoura, pinta um tridente, símbolo de Netuno e de Exu, sobre uma vassoura de piaçava. Em As dificuldades de manter os pés no chão, troca as tiras de um chinelo da marca Havaianas® por arames farpados. Esses são alguns exemplos de como a produção do artista explora suas origens e revela as subjetividades do cotidiano periférico como forma de construir seu discurso.

A primeira aproximação do artista com as artes visuais acontece por meio de histórias em quadrinhos e ilustrações que realiza durante o ensino médio. A estética das HQ e da pop art está presente em alguns de seus trabalhos como Seleção (2018), ilustração de uma foto de um time de futebol formado por amigos na juventude; e G.E.R.S, série na qual ilustra cenas do cotidiano de uma escola de samba. Nessas duas obras, Mulambö trabalha com uma paleta reduzida de cores apenas com vermelho, preto e branco. Para o artista, essas cores representam a cultura do subúrbio e as religiões afro-brasileiras, além de trazerem objetividade, porque são cores também usadas em placas de trânsito e avisos de "perigo", por exemplo.

Formado em artes pela Universidade Federal Fluminense (UFF), a carreira de Mulambö começa a se estabelecer em 2019, quando realiza as exposições individuais Tudo Nosso, no Museu de Arte do Rio (MAR), e Prato de Pedreiro, no Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica. A experiência de organizar as duas mostras faz com que o artista desenvolva habilidades curatoriais, aprimore sua narrativa artística e aprenda a montar exposições e a discutir seu próprio trabalho.

Sua produção apresenta uma busca pela valorização da ancestralidade, além de protestar contra o racismo, a elitização da cultura e a violência policial. Em Perigo de gol, montagem fotográfica com o jogador de futebol Garrincha (1933-1983) e um policial da ditadura militar brasileira1, representa um drible na repressão e na violência.

A pandemia de Covid-19, em 2020, afeta não apenas a vida cotidiana de Mulambö, mas também a subjetividade de seu trabalho, até então muito ligado à rua. O isolamento social faz o artista questionar como sua arte sobreviveria poeticamente sem o contato direto com esse universo. 

Alguns dos trabalhos desenvolvidos nessa época são apresentados em 2021, na mostra individual Mulambo Todo de Ouro, realizada na galeria Portas Vilaseca, no Rio de Janeiro. Ao expor pela primeira vez em uma galeria comercial, o artista se debruça sobre o significado do ouro, como material, subjetividade e metáfora, trançando um fio dourado no conjunto das obras.

Entre os trabalhos expostos estão Massa, pintura dourada sobre couro, em que retrata torcedores na extinta Geral do Maracanã; e uma versão de São Sebastião do Rio de Janeiro, em que pinta de dourado a imagem do santo em uma coluna de pneus. Nessa obra, o artista sobrepõe o martírio de Sebastião ao de vítimas que têm seus corpos carbonizados em favelas e periferias do Rio de Janeiro, com pilhas de pneus usadas como "micro-ondas".

Em 2021, realiza a primeira exposição individual fora do país, Out of Many, Muchos Más, na galeria Das Schaufenster, em Seattle, nos Estados Unidos. Em 2023, participa da residência Homesession, em Barcelona, na Espanha, onde apresenta a exposição "Punta de Lanza". 

Entre os trabalhos apresentados, o artista articula a figura do jogador de futebol Vini Jr. (2000), vítima de racismo da torcida espanhola, para criar imagens e símbolos antirracistas e traçar diálogos com as culturas afro-brasileiras. Uma das obras traz um retrato do jogador com o mapa do Brasil pintado no centro do rosto, afirmando que Vini Jr. representa e é um orgulho para o país.

A obra de Mulambö reinterpreta a cultura popular. A utilização de materiais cotidianos das periferias são elementos centrais de seus trabalhos. Sua produção reflete a valorização da ancestralidade e trata de questões sociais, como o racismo e a violência policial.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Obras 13

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Foto de Autoria desconhecida/Galeria Mendes Wood DM

Bandeira Mulamba

Vários tecidos costurados
Foto de Autoria desconhecida/Galeria Mendes Wood DM

Costão

Acrílica sobre fotografia impressa em papel hahnemühle photo rag 308 g (com moldura)
Foto de Autoria desconhecida/Galeria Mendes Wood DM

Garganta

Acrílica sobre pá de obra
Foto de Autoria desconhecida/Galeria Mendes Wood DM

Gengiva

Tinta spray sobre tijolos

Exposições 50

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Exposições virtuais 1

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Fontes de pesquisa 12

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