Panmela Castro

Panmela Castro, 2020
Texto
Panmela Castro (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1981). Artista visual, ativista, grafiteira, performer e educadora. Utiliza o graffiti como aliado em sua produção e ativismo em defesa dos direitos da mulher e da igualdade de gênero, retratando em murais rostos de personagens femininos duplicados, conectados e envoltos por elementos simbólicos. Reconhecida internacionalmente, seu trabalho, além da pintura e do graffiti, inclui performances, fotografia, vídeo, esculturas e instalações participativas.
Nascida na Penha, subúrbio na Zona Norte do Rio de Janeiro, adota o codinome Anarkia Boladona em 2005, ao participar do movimento de pichação carioca que, na época, tem reduzida participação feminina. Motivada por uma experiência pessoal de violência doméstica praticada por seu então marido, Panmela encontra no grafite a expressão oportuna para desenvolver sua pesquisa, que entrelaça experiências pessoais, espaço público e questões políticas. A artista escala prédios e picha trens para deixar sua marca pela cidade.
Ingressa na Escola de Belas Artes da Universidade Federal do Rio de Janeiro (EBA/UFRJ), onde conclui o bacharelado em pintura, e depois torna-se mestre em processos artísticos contemporâneos pelo Instituto de Artes da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ). No entanto, admite que o período de pichação proporciona um repertório mais determinante do que o da universidade, pois as violências sistêmicas que vivencia marcam seu engajamento em questões relativas à opressão – doméstica e na cidade – sobre o corpo feminino e ao papel da educação como agente de mudança social.
Os questionamentos sobre a condição feminina revelam, em enormes murais, sua indignação ante a imposições de gênero culturais e religiosas. Retrata de maneira recorrente personagens míticas, com cores intensas, quentes e fluorescentes. É o caso de Eva, que aparece com a maçã em mural próximo à Estação Leopoldina, no Rio de Janeiro (2015), e Liberté (Liberté II, técnica mista s/ tela, 2012), figura acompanhada de uma ave cujas garras a machucam, evocando a dor que cerca a liberdade desejada.
O mural Femme Maison, produzido para a Trienal Frestas (2017), no Sesc Sorocaba, interior de São Paulo, provoca polêmica quando um vereador propõe ao Ministério Público que as cabeças femininas entrelaçadas por uma flor, por seu formato, causam repúdio à população.
Durante a produção dos graffitis, a relação do corpo feminino com a cidade desperta seu interesse para além da imagem registrada nos muros. Essa relação passa a estar presente em suas vigorosas performances – que muitas vezes se desdobram em vídeos e objetos –, nas quais Panmela explicita a violência e as imposições de papéis que a sociedade reserva às mulheres. Em Caminhar (2017), a artista entra em uma bacia de tinta e caminha pela rua marcando o chão de vermelho, em referência aos índices de feminicídio que são diluídos como a memória negligenciada das mulheres mortas. No vídeo A Noiva (2019), Panmela aparece usando um vestido branco, risca um fósforo para atear fogo na saia e retira o vestido já em chamas. Nua, estática, aguarda a combustão da peça de roupa.
A partir de 2010 funda e coordena a Nami, Rede Feminista de Arte Urbana, cujo nome é inversão das sílabas de palavra mina. A rede acompanha artistas, produz exposições e workshops dos projetos Graffiti Pelo Fim da Violência Contra as Mulheres e AfroGrafiteiras e mantém um museu.
Participa de festivais e projetos de arte pública em mais de 20 países, entre os quais se destacam o mural Together We Are Stronger (2019), no Stedelijk Museum, em Amsterdam; Dororidade (2018), no Quarteirão Cultural da Lavradio, no Rio de Janeiro; Women's Rights Are Human Rights (2017), na First Street Green Art Park, em Nova York; Somos Somas (2016), no Urban Nation Museum de Berlim.
É designada como a Rainha do Graffiti Brasileiro pela TV norte-americana CNN, e é premiada como Grafiteiro do Ano (2007) e Grafiteiro da Década (2010), pela Central Única das Favelas (Cufa), no Rio de Janeiro. Recebe ainda o prêmio Vital Voices Global Leadership Awards (2010), e integra a lista 150 Women Who Shake The World (2012).
Com atuação engajada – em sua expressão artística, palestras e workshops –, Panmela Castro aponta questões sobre desigualdade de gênero propondo um diálogo entre arte e público. Destaca-se globalmente na cena do graffiti e abre caminho para outras mulheres artistas, sugerindo que uma arte socialmente consciente possa transmitir mensagens que ajudem a implementar importantes e necessárias mudanças estruturais, sociais e culturais.
Exposições 21
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12/5/2010 - 16/6/2010
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3/9/2010 - 3/10/2010
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4/6/2017 - 31/1/2016
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26/11/2016 - 27/11/2016
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10/12/2017 - 12/3/2016
Mídias (1)
Também conhecida como Anarkia Boladona, Panmela relaciona seu trabalho com o grafitti à amizade com grupos que dominam a técnica no subúrbio do Rio de Janeiro. Reconhece a importância de seu trabalho como precursor da atuação feminina na arte de rua e rejeita o rótulo de excessivamente política.
No campo da performance, Panmela fala de uma situação de violência vivida em um relacionamento anterior e diz que seu trabalho gera um processo de cura.
Indicada a vários prêmios internacionais, Panmela revela o medo de ser esquecida ou não reconhecida, e cita a artista Anna Bella Geiger como exemplo de admiração.
ITAÚ CULTURAL
Presidente Alfredo Setubal
Diretor Eduardo Saron
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Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo:
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Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Montagem: Renata Willig
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 6
- ENCRUZILHADAS da Arte Afro-brasileira. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2023. 1 press release. Disponível em: https://ccbb.com.br/sao-paulo/programacao/encruzilhadas-da-arte-afro-brasileira/. Acesso em: 30 dez. 2023.
- LOURENÇO, Amanda. Muros Feministas – Panmela Castro, ou Anarkia Boladona, usa o grafite para discutir o direito das mulheres. Carta Capital, São Paulo, ano XVII, n. 696, p. 14-15, 9 maio 2012.
- PAGE, Thomas. Panmela Castro: Brazil’s graffiti queen, delivering justice through the nozzle of a paint can. CNN Style, 5 mar. 2017. Arts.
- PANMELA CASTRO. [Currículo virtual]. Disponível em: https://www.panmelacastro.com/exhibitions/current/. Acesso em: 15 nov. 2020
- PANMELA Castro. Direção: Heloisa Passos. [S.l.]: Focus Forward, short films big ideas, [s.d.]. Curta. (3min23s). Disponível em: https://www.focusforwardfilms.com/films/67/panmela-castro. Acesso em: 15 nov. 2020.
- PANMELA Castro. In: VITAL Voices Global Partnership. Disponível em: https://www.vitalvoices.org/people/panmela-castro/. Acesso em: 15 nov. 2020.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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PANMELA Castro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa558382/panmela-castro. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7