Graffiti
![A Gata do Soutien de Bolinhas Correu ao Telefone, 1983 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2000/01/000086001019.jpg)
A Gata do Soutien de Bolinhas Correu ao Telefone, 1983
Alex Vallauri
Grafite (estênceis aplicados com spray)
Texto
As inscrições em muros, paredes e metrôs – palavras e/ou desenhos –, sem autoria definida, tomam Nova York, no início da década de 1970. Em 1975, a exposição Artist's Space confere caráter artístico a parte dessa produção, classificada como graffiti. A palavra, do italiano graffito ou sgraffito, que significa arranhado, rabiscado, é incorporada ao inglês no plural graffiti, para designar uma arte urbana com forte sentido de intervenção na cena pública. Giz, carimbos, pincéis e, sobretudo, spray são instrumentos para a criação de formas, símbolos e imagens em diversos espaços da cidade.
O repertório dos artistas é composto de ícones do mundo da mídia, do cartum e da publicidade, o que evidencia as afinidades do graffiti com a arte pop, e a recusa em separar o universo artístico das coisas do mundo. Os grafiteiros remetem a origem de sua arte às pinturas rupestres e às inscrições nas cavernas. Para o americano Keith Haring (1958-1990), um dos principais expoentes do graffiti nova-iorquino no século XX, o desenho guarda a mesma origem desde a pré-história, com poucas mudanças.
A definição e o reconhecimento dessa modalidade artística impõem o estabelecimento de distinções entre graffiti e pichação, corroboradas por boa parte dos praticantes. Apesar de partilharem um mesmo espírito transgressor, a pichação aparece nos discursos críticos associada a uma produção sem elaboração formal e realizada, em geral, sem projeto definido. No graffiti, os artistas explicitam estilos próprios e diferenciados, mesclando referências às vanguardas e ao universo dos mass media. Artistas como Brassaï (1899-1984), Antoni Tàpies (1923-2012), Alberto Burri (1915-1995) e Jean Dubuffet (1901-1985), também incorporam elementos do grafitti em suas obras.
A produção de Haring se caracteriza pela ironia e crítica. No início dos anos 1980, suas imagens feitas com giz ocupam as superfícies negras das paredes do metrô, destinadas a cartazes publicitários. Bebês engatinhando, cachorros latindo, figuras magricelas são algumas de suas marcas. Em 1982, o mural com cores fluorescentes no Lower East Side e a animação para painel eletrônico na Times Square, em Nova York, projetam o nome do artista, que desenvolve, a partir de então, projetos fora dos Estados Unidos, como o trabalho realizado no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ), em 1984, e a intervenção no Muro de Berlim, em 1986. As telas de Haring, por exemplo, Portrait of Macho Camacho (1985), e Walking in The Rain (1989), guardam semelhanças com o graffiti, seja pela manutenção da linha solta das inscrições e rabiscos, seja pelo repertório mobilizado.
Jean-Michel Basquiat (1960-1988) é outro nome importante dessa modalidade de produção artística. Ele enfatiza as ligações do graffiti e do hip-hop e com o mundo underground dos pichadores que o trabalho de Haring anuncia. De origem haitiana, Basquiat enraíza sua arte na experiência da exclusão social, no universo dos migrantes e no repertório cultural dos afro-americanos. Nos anos 1970, seus "textos pintados" tomam os muros do Soho e do East Village, em Nova York, redutos de intelectuais e artistas, e fazem dele um nome conhecido. Mas é na década seguinte que a caligrafia visual de Basquiat passa a ser reconhecida, pela sua colaboração com o artista americano Andy Warhol (1928-1987) em Arm and Hammer (1985), com sua alusão à anatomia humana, ao rap, ao break dance e à vida nova-iorquina. As obras de Haring e Basquiat tornam-se referências para experimentos com graffiti realizados em grandes cidades de todo o mundo.
Em São Paulo, as imagens do grafiteiro Alex Vallauri (1949-1987) – figuras das histórias de quadrinhos, carrinhos de supermercado, o jacaré da marca Lacoste etc. – começam a ser identificadas entre 1978 e 1979. Destacam-se ainda os trabalhos de Zaidler (1958) e Carlos Matuck (1958).
O grupo Tupinãodá, criado em 1983 – formado por Carlos Delfino, Jaime Prades (1958), Milton Sogabe (1953), José Carratu (1955) e outros –, é mais um nome importante quando o assunto é o graffiti na capital paulista. A Bienal Internacional de São Paulo de 1987 abre espaço para essa produção ao exibir uma parede pintada pelo grupo. O Tupinãodá realiza performances e grafitagens pela cidade até o início da década de 1990, tendo a arte como instrumento para manifestação política.
Na década de 2000, além de ganhar destaque no cenário internacional com nomes como Eduardo Kobra (1976), Zezão (1971), Os Gêmeos, o graffitti brasileiro aumenta o espaço da presença feminina com artistas como Nina Pandolfo (1977) e Panmela Castro (1981), incluindo em suas temáticas questões femininas, ambientais, desigualdade social, racial e de gênero.
Palco de manifestação política e social por sua intervenção na cena pública, o graffitti conquista espaço como arte urbana desde os anos 1970 e se consolida nas décadas seguintes, abrindo caminho para novos artistas e ampliando sua temática com novas abordagens.
Obras 28
A Gata do Soutien de Bolinhas Correu ao Telefone
A Rainha do Frango Assado - Nova York (EUA)
Exposições 1
-
28/4/2016 - 4/6/2016
Fontes de pesquisa 4
- CHALFANT, Henry & PRIGOFF, James. Spraycan Art. London: Thames & Hudson, 1987,.
- DAWSON, Barry. Street Graphics Tokyo. London: Thames & Hudson, 2002.
- HARING, Keith. Keith Haring. Tradução Izabel Murat Burbridge. São Paulo: Centro Cultural Banco do Brasil, 2003.
- RAMOS, Célia Maria Antonacci. Grafite, pichação & Cia. São Paulo: Annablume, 1994. (Selo Universidade, Arte, 20).
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
GRAFFITI.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/termo3180/graffiti. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7