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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Zezão

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.01.2021
14.12.1971 Brasil / São Paulo / São Paulo
Registro fotográfico Marcus Leoni

Zezão, 2020

José Augusto Amaro Capela (São Paulo, São Paulo, 1971). Grafiteiro e fotógrafo. É reconhecido por suas intervenções gráficas na cor azul ⎼ chamadas de flops ⎼, realizadas principalmente em paredes internas de galerias pluviais subterrâneas e saídas de esgoto, além de prédios e calçadas da cidade de São Paulo.

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José Augusto Amaro Capela (São Paulo, São Paulo, 1971). Grafiteiro e fotógrafo. É reconhecido por suas intervenções gráficas na cor azul ⎼ chamadas de flops ⎼, realizadas principalmente em paredes internas de galerias pluviais subterrâneas e saídas de esgoto, além de prédios e calçadas da cidade de São Paulo.

Nascido e criado no centro da cidade, é influenciado por diversas manifestações culturais urbanas: na juventude, participa de movimentos punk, integra grupos de hip-hop e torna-se skatista. Antes de começar a carreira nas artes, atua como motoboy, o que lhe permite acompanhar a dinâmica de criação de pichações e graffitis pela cidade. Um acidente de skate o obriga a abandonar o esporte e o estimula a pichar/grafitar a partir de 19951.

Zezão começa a pichar usando um rolo de espuma pequeno e tinta látex preta. Seu traço se assemelha ao dos crews, grupos de pichadores que criaram um estilo próprio em São Paulo: letras na vertical com inspiração gótica das capas de álbuns de bandas heavy metal. Suas inscrições iniciais são “Come Lixo”, mas depois passa a assinar “VICIO”, ao integrar um coletivo de pichadores no final dos anos 1990. Usa também as inscrições “PIF” (Pintores Infratores Ferroviários), “FDS” (Foda-se) e “DST” (consoantes da palavra “destrói”).

Motivado pelo amigo grafiteiro Binho (1971), começa a desenhar, e, em 1998, o contato com a obra do artista estadunidense Jean Michel Basquiat (1960-1988) o estimula a criar trabalhos mais abstratos. Zezão passa a fazer experimentos formais em lugares isolados para não competir por espaço, evitar que seu trabalho seja coberto por outros grafiteiros e fugir da repressão policial. As primeiras experiências ocorrem no edifício da fábrica Moinho Matarazzo, no bairro do Brás, construído no começo do século XX e abandonado desde os anos 1970.

O estilo de sua pintura nessa fase é uma composição multicor, abstrata, criada com sobras de latas de spray doadas por amigos grafiteiros. A carência de tinta de mesma cor leva Zezão a criar degradês na composição, para aproveitar todo o material disponível. O procedimento dá à imagem um aspecto de fumaça, com efeito psicodélico ⎼ por isso o estilo é batizado por ele de psicodélico, embora também seja conhecido como fumacinhas. Com o tempo, e com mais recursos, Zezão o aprimora, tornando-o mais técnico e colorido.

Nos anos 2000, ele inicia, nas galerias subterrâneas de águas pluviais do sistema de esgoto da cidade, o padrão de desenho pelo qual é reconhecido: o flop. O novo estilo, que padroniza elementos de sua pesquisa tipográfica, consiste em uma forma única, variável, composta de uma ou mais linhas retas ou curvas que geralmente se tornam mais sinuosas nas extremidades. O contorno azul-escuro destaca o preenchimento azul-claro da forma, que se estica em eixo vertical ou horizontal, ou assume um aspecto circular. Parte do material utilizado – rolo de espuma pequeno e tinta látex – vem dos tempos de pichação, mas agora Zezão usa tinta acrílica de base solvente em spray.

O flop é feito inicialmente em paredes de galerias pluviais, ao longo das margens de concreto do Rio Tietê e em volta de dutos, tampas e grades de bueiros. O ambiente subterrâneo chama a atenção do artista por ter espaços de grande proporção, nos quais percebe que o diálogo entre sua intervenção visual e o ambiente escolhido – com volumes criados pelo empilhamento de lixo ao longo do tempo – demanda um projeto específico para cada lugar (site specific).

No começo dos anos 2000, seu trabalho ganha visibilidade na internet com a ajuda do site Lost Art2 e da mídia social Fotolog, em que publica fotos de suas obras. Embora use a fotografia inicialmente para documentar suas intervenções, ao longo do tempo incorpora a ela premissas estéticas, como o enquadramento, a luz e a perspectiva arquitetônica.

Em 2004, um trabalho de Zezão é exposto na mostra coletiva Calaveras. Promovido pela Choque Cultural, primeira galeria especializada em street art do Brasil, o evento expõe em paredes coloridas trabalhos de grafiteiros, quadrinistas e tatuadores. A mesma galeria realiza, em 2005, a primeira exposição individual do artista, Subterrâneos, que reúne fotografias das intervenções feitas por ele na cidade.

Representando artistas da Choque Cultural, Zezão participa em 2006 das exposições Fortes Vilaça na Choque Cultural”3. Contribui para o evento com uma pintura que conduz o visitante ao interior da galeria Fortes Vilaça, além de uma pintura de parede e uma série de fotos de seus flops. A repercussão do evento na imprensa e a visitação expressiva chamam a atenção de curadores e geram outras mostras em museus e centros culturais, que exibem os trabalhos de Zezão4.

Com a exposição coletiva Ruas de São Paulo: a Survey of Brazilian Street Art from São Paulo (2007), organizada pela Choque Cultural na galeria Jonathan Levine, em Nova York, o artista ganha projeção internacional. Zezão apresenta na mostra um flop sobre parede, além de outras obras. Nos anos seguintes, expõe em instituições culturais da Europa, como a Brasilea, na Suíça. Ela promove a exposição individual Zezão (2013), em que o artista exibe flops e psicodélicos em pinturas sobre tela, ou associadas a objetos urbanos como bueiros, além de fotografias que registram suas intervenções nas cidades.

Zezão continua a fazer intervenções na cidade de São Paulo e no exterior, e torna-se um importante agente da difusão dos grafite e de sua manutenção no circuito das artes.

Notas

1. Embora faça pichações (escritos de rua) e graffitis (desenhos), Zezão costuma encarar os dois tipos de trabalho como um só, associando-os ao mesmo conceito de “transgressão”.

2. O site Lost Art, da dupla de fotógrafos paulistanos Ignacio Aronovich (1969) e Louise Chin (1971), mantém durante alguns anos um acervo fotográfico on-line com imagens da cena graffiti de São Paulo e contatos de grafiteiros.

3. O evento consiste no intercâmbio de artistas que representam a Choque Cultural, emergente galeria voltada para a arte de rua, e a Fortes Vilaça, tradicional galeria de arte paulistana. que em 2016 passa a ser Fortes D'aloia & Gabriel. De um lado, artistas como Zezão, Fefê Talavera (1979) e Rafael Highraff (1977) produzem trabalhos inéditos para a Fortes; de outro, artistas como Vik Muniz (1961), Beatriz Milhazes (1960) e Leda Catunda (1961) criam obras exclusivas para a Choque. A exposição é uma das contribuições para a inserção dos graffitis no sistema da arte. 

4. Alguns exemplos dessas exposições são Spray: O Novo Muralismo Latino-Americano (2006), realizada no Memorial da América Latina; Fabulosas Desordens (2007), na Caixa Cultural Rio de Janeiro; e De Dentro Para Fora e De Fora Para Dentro (2011), no Museu de Arte de São Paulo (MASP).

Exposições 18

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Mídias (1)

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Zezão – Série Cada Voz (2020)
Zezão é grafiteiro em São Paulo e tem trabalhos espalhados por muros, prédios e túneis.
O efêmero faz parte de sua obra sendo uma característica imposta pela disputa constante com a administração pública e pela ação do tempo.

Autodidata, Zezão trabalha como motoboy nos anos 90 e aprende a admirar os muros grafitados. Após um acidente, começa finalmente a grafitar e considera a sua virada definitiva para a atuação artística um documentário sobre o artista Jean-Michel Basquiat.

A depressão acompanha sua trajetória e produção. Ele conta como ressignifica seu espaço de trabalho a partir luta emocional até ocupar galerias de arte. Sem abandonar as ruas, Zezão entende o graffiti como um instrumento que oferece visibilidade para às vias e espaços públicos, revolucionando a noção mais tradicional da arte.

ITAÚ CULTURAL
Presidente Alfredo Setubal
Diretor Eduardo Saron
Núcleo de Enciclopédia
Gerente: Tânia Rodrigues
Coordenação: Glaucy Tudda
Produção de conteúdo: Camila Nader
Núcleo de Audiovisual e Literatura
Gerente: Claudiney Ferreira
Coordenação: Kety Nassar
Produção audiovisual: Letícia Santos
Edição de conteúdo acessível: Richner Allan
Direção, edição e fotografia: Marcus Leoni
Montagem: Renata Willig
Assistência de Edição: Rommel Cuellar
Intérprete de Libras: Florio & Fomin (terceirizada)

Fontes de pesquisa 8

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