Vik Muniz
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Pictures of Paper: Crowd at Coney Island, Temperature 89°, They came early and they stayed late, July 1940, after Weegee, 2009
Vik Muniz
impressão digital em nitrato de prata
180,00 cm x 231,00 cm
Acervo Banco Itaú
Texto
Vicente José de Oliveira Muniz (São Paulo, São Paulo, 1961). Fotógrafo, desenhista, pintor e gravador. Conhecido como Vik Muniz, é um artista plástico contemporâneo cujo trabalho se caracteriza pela exploração de diferentes materiais e técnicas.
Cursa publicidade na Fundação Armando Álvares Penteado (Faap), em São Paulo. Muda-se para Nova York em 1983, onde reside e trabalha. Após breve período ligado à escultura, passa a se dedicar ao desenho e, sobretudo, à fotografia. Desde 1988, realiza séries nas quais investiga temas relativos à percepção e à representação de imagens nos meios artísticos e de comunicação. Exemplo dessa fase é a série The best of life, na qual reproduz, de memória, uma parte das famosas fotografias veiculadas pela revista americana Life. Convidado a expor os desenhos, o artista os fotografa e dá às fotografias tratamento de impressão em periódico, simulando um caráter de realidade às imagens originárias de sua memória.
Nas séries seguintes, emprega materiais inusitados (como açúcar, chocolate líquido, gel para cabelo, lixo e poeira) para recriar figuras referentes tanto ao universo da história da arte como do cotidiano. As obras recebem, na maioria dos casos, o nome do material utilizado. Seu processo de trabalho consiste em compor as imagens com os materiais, normalmente instáveis e perecíveis, sobre uma superfície e fotografá-las.
A série Sugar Children [Crianças de açúcar], de 1996, é um exemplo desse processo. Em um período de férias na ilha de St. Kitts, no Caribe, o artista fotografa algumas crianças do local, cuja atividade econômica principal é a lavoura de cana-de-açúcar. Posteriormente, retrata os rostos dessas crianças em desenhos feitos com açúcar sobre papel preto. O uso desse material, mais do que refletir a inventividade técnica do artista, potencializa o simbolismo de seu trabalho: o açúcar, associado geralmente à doçura de momentos felizes da infância, é o que submete essas crianças (e seus pais, os lavradores) ao ciclo de pobreza. A obra causa grande impacto e projeta o artista internacionalmente.
Na série Pictures of magazines [Retratos de revistas], de 2003, expõe retratos tanto de personalidades brasileiras, como o jogador de futebol Pelé (1940) e o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (1945), como de um anônimo vendedor de flores. O artista realiza uma complexa operação de decomposição e recomposição da imagem fotográfica. Os retratos são obtidos pela reunião de pequenos fragmentos de páginas de periódicos que, sobrepostos em um trabalho preciso, compõem os rostos dos retratados.
O interesse do artista por personagens e histórias permanece na série Pictures of garbage [Imagens do lixo], de 2008, realizada no Jardim Gramacho, localizado no bairro carioca Duque de Caxias, até então o maior aterro sanitário da América Latina. Muniz conta que o objetivo inicial do trabalho é fazer uma série fotográfica sobre o lixo, mas muda o foco ao conviver com as pessoas que moram e trabalham no local. Encantado com a alegria e a força desses personagens em situação tão adversa, o artista os transforma em protagonistas: fotografa alguns deles e reconstrói essas imagens com objetos do lixo, recolhidos no próprio aterro1. The Gipsy (Magna), Mother and Children (Suellen) e Marat (Sebastião) – uma recriação do conhecido quadro A morte de Marat (1973), do pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825) – são algumas das obras dessa série.
O projeto realizado no Jardim Gramacho dá origem ao documentário Lixo extraordinário (2010). Retratando o processo de trabalho do artista, o longa-metragem compartilha com o espectador toda a beleza e a alegria encontrada em um lugar onde imaginava haver apenas sofrimento. O filme é indicado ao Oscar de 2011, na categoria de melhor documentário em longa-metragem, e recebe diversos prêmios de festivais nacionais e internacionais (28 no total), entre os quais se destacam o Festival de Sundance (Estados Unidos) e o Festival Internacional de Cinema de Berlim (Alemanha). A renda obtida com esse trabalho é revertida para a associação de catadores do aterro e, desde então, Muniz atua como ativista social e embaixador da Boa Vontade da Unesco.
O artista segue inovando na produção de suas obras, surpreendendo o espectador e fazendo-o refletir sobre questões contemporâneas relevantes. Lampedusa, de 2015, é um exemplo disso. Na Bienal Internacional de Artes de Veneza, o artista instala, nos canais da cidade, um “barco de papel”, como aqueles feitos com dobraduras simples na infância. Simulando papel de jornal, na embarcação estão estampadas notícias da morte de refugiados imigrantes no naufrágio de 2013, ocorrido na cidade de Lampedusa, costa italiana.
Vik Muniz se destaca pela diversidade, combinando complexidade (de técnicas e processos) e simplicidade (na escolha dos temas e nas formas de representação), o que torna sua obra acessível ao público. Na busca por representar aspectos da realidade, suas imagens suscitam no espectador a sensação de estranheza e o questionamento de como enxergamos e representamos o mundo. Também inova ao estabelecer uma relação original entre o artista, a obra de arte e o espectador, que deve não apenas refletir, mas também se deixar levar pelos mecanismos da ilusão. É um dos artistas plásticos contemporâneos mais reconhecidos no Brasil e no mundo.
Nota
1. ALVES FILHO, Francisco. A arte que vem do lixo. IstoÉ, São Paulo, 28 jan. 2011. Disponível em: https://istoe.com.br/121937_A+ARTE+QUE+VEM+DO+LIXO/. Acesso em: 28 nov. 2021.
Obras 8
Dinheiro vivo: Arara
Imigrantes
Mass, 2
Multidão
Exposições 467
Exposições virtuais 1
-
9/12/2021 - 7/2/2020
Mídias (1)
Produção: Documenta Vídeo Brasil
Captação, edição e legendagem: Sacisamba
Intérprete: Erika Mota (terceirizada)
Locução: Júlio de Paula (terceirizado)
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 20
- A FIGURA humana na coleção Itaú. São Paulo, SP: Itaú Cultural, 2000.
- A QUIETUDE da terra, vida cotidiana, arte contemporânea e projeto axé. Concepção e edição France Morin; edição John Alan Farmer; versão em inglês H. Sabrina Gledhill, Lavinia Sobreira Magalhães, Alejandro Reyes, Nadine Fajerman. Salvador: Museu de Arte Moderna da Bahia, 2000.
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- CENTRO CULTURAL LIGHT (RIO DE JANEIRO, RJ). Horizonte reflexivo. Curadoria Eduardo Brandão, Lisette Lagnado; versão em inglês Stephen Berg. Rio de Janeiro: Centro Cultural Light, 1998.
- CITY canibal. Curadoria Vitória Daniela Bousso. São Paulo: Paço das Artes, 1998.
- FARIAS, Agnaldo. Arte brasileira hoje. São Paulo: Publifolha, 2002. (Folha explica, 40).
- FUKS, Rebeca. As 10 criações mais impressionantes de Vik Muniz. Cultural Genial, [s.l.], [s.d.]. Disponível em: https://www.culturagenial.com/vik-muniz-obras/. Acesso em: 28 nov. 2021.
- LATIN american sale. New York: Christie's, 2000. 241 p., il. color.
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- MUNIZ, Vik. Clayton Days: picture stories by Vik Muniz, for very little folks. Entrevista Linda Benedict-Jones. Pittsburgh: Frick Art & Historical Center, 2001.
- MUNIZ, Vik. Ver para crer. Versão em inglês Izabel Murat Burbridge. São Paulo: MAM, 2001.
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- O ESPÍRITO da nossa época: coleção Dulce e João Carlos de Figueiredo Ferraz. Curadoria Stella Teixeira de Barros, Ricardo Resende; versão em inglês Thomas William Nerney, Izabel Murat Burbridge. São Paulo: MAM, 2001.
- PANORAMA da Arte Brasileira, 1995. Curadoria Ivo Mesquita. São Paulo: MAM, 1995. Catálogo de exposição.
- SEMANA Fernando Furlanetto, 1., 1998, São João da Boa Vista. 1º Semana Fernando Furlanetto. Produção Samantha Moreira. São João da Boa Vista: Prefeitura Municipal, 1998.
- SÉCULO 20: arte do Brasil. Curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso. Lisboa: Centro de Arte Moderna José de Azeredo Perdigão, 2000.
- VIK MUNIZ recria clássicos na sua nova mostra em SP e reflete sobre o real e o imaginário: 'é você quem faz seu olhar'. O Globo, Rio de Janeiro, 12 nov. 2021. Disponível em: https://oglobo.globo.com/cultura/artes-visuais/vik-muniz-recria-classicos-na-sua-nova-mostra-em-sp-reflete-sobre-real-o-imaginario-voce-quem-faz-seu-olhar-25273944. Acesso em: 28 nov. 2021.
- WHITNEY Biennial, 2000 Biennial Exhibition. Curadoria Michael Auping, Valerie Cassel, Hugh M. Davies, Jane Farver, Andrea Miller-Keller, Lawrence R. Rinder. New York: Whitney Museum of American Art, 2000.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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VIK Muniz.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9203/vik-muniz. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7