Aislan Pankararu
Texto
Aislan Santos (Petrolândia, Pernambuco, 1990). Médico, artista visual autodidata. Originário do povo Pankararu, trabalha com desenho e pintura, resgatando elementos pictóricos da pintura corporal de seu povo e da flora do sertão nordestino.
Nascido em Petrolândia, interior de Pernambuco, Pankararu é apresentado à cultura de seu povo indigena por sua avó. Quando criança, chega a ter contato com arte, mas o interesse se aprofunda durante o período de internato da Faculdade de Medicina da Universidade de Brasília (UNB). Nesta época, é tomado pelos estudos com aulas práticas e teóricas, sobrando pouco tempo para voltar para casa e ver a família. A arte o ajuda a suprir essa falta.
Dedica-se a desenhar elementos de pinturas corporais identitárias do povo Pankararu em papel kraft usando tinta branca. A cor é uma alusão ao barro branco usado para desenhar os elementos nos corpos. A coloração desses elementos é um contraponto aos povos originários da Amazônia, que costumam usar o pigmento preto extraído do jenipapo.
O trabalho do artista visa à apresentação da cultura indígena do sertão, evidenciando ainda elementos da flora da caatinga como a flor do mandacaru e o imbu, fruto típico da região. Os Pankararu habitam as margens do Rio São Francisco, no interior de Pernambuco, entre as cidades Petrolândia, Itaparica e Tacaratu, mas é possível encontrar comunidades também em Minas Gerais e São Paulo.
Outra figura bastante presente na obra de Pankararu são os praiás, entidades encantadas que atuam como mensageiros do céu e da terra. Essas entidades são representadas vestindo um traje de palha que os cobrem da cabeça aos pés.
Enquanto faz estágio na área de ginecologia e obstetrícia, o artista começa a desenhar figuras femininas, representando as mulheres indígenas. Um exemplo é a pintura Sypave: Mãe dos povos (2020), em que pinta um torso feminino coberto de pinturas corporais com o símbolo do feminino no centro.
Em 2020, realiza sua primeira exposição, Abá Pukuá (Homem Céu), em parceria com a comissão de humanização do Hospital Universitário de Brasília (HUB), onde também trabalha. A exposição é uma forma de Pankararu apresentar sua cultura para a comunidade médica, moradores de Brasília e reforçar a sua presença como um indígena na instituição.
Segundo o artista, o ingresso na faculdade desperta nele diversas questões sobre sua história, suas origens e sobre ser um representante dos povos originários frequentando um espaço ocupado predominantemente por pessoas brancas, elitizadas, que, de forma direta ou indireta, questionam a sua presença na universidade de medicina. A arte é a forma de Pankararu se reconectar com suas origens, mas também de responder à sociedade, marcando o seu espaço.
Realiza sua segunda individual, Yeposanóng, no Memorial dos Povos Indígenas, no Distrito Federal, em 2021. Nesta mostra, o artista aumenta a gama de cores exploradas em suas obras, indo além do branco, vermelho e preto, presente nos primeiros trabalhos. Imbu (2021) apresenta tons de verde, azul e amarelo para homenagear o fruto sagrado que representa, para os Pankararus, a fartura.
A presença da linha e de formas circulares é marcante no trabalho do artista, seja em trabalhos abstratos, como XE R - UGÛY (2020), ou mais figurativos, a exemplo de Existe no semiárido (2021), referências claras às pinturas corporais identitárias dos Pankararus, que confere também identidade ao trabalho do artista.
Formado em medicina pela UNB, Pankararu começa sua produção como uma forma de se conectar com suas origens. Seu trabalho reflete a estética das pinturas corporais identitárias do povo Pankararu e trata sobre temas acerca da cultura e da natureza de sua comunidade no sertão de Pernambuco.
Exposições 12
-
14/2/2020 - 30/3/2020
-
-
5/2/2021 - 2/5/2021
-
-
31/10/2022 - 30/1/2021
Exposições virtuais 1
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- ANGEL, Nicole. Estudante indígena de medicina da UnB cria obras sobre própria cultura em forma de 'desabafo'. G1, Distrito Federal, 26 fev. 2020. Disponível em: https://g1.globo.com/df/distrito-federal/o-que-fazer-no-distrito-federal/noticia/2020/02/26/estudante-indigena-de-medicina-da-unb-cria-obras-sobre-propria-cultura-em-forma-de-desabafo.ghtml. Acesso em: 2 set. 2022.
- ARTE indígena contemporânea - Ep. 6: Aislan Pankararu. Direção: Gisele Kato. São Paulo: Instituto Cultural Vale, 2022. (23 min). Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=ahyQsU104ps. Acesso em: 2 set. 2022.
- ENTREVISTA: Aislan Pankararu fala sobre arte e a criação da identidade do Festival de Cinema e Cultura Indígena. Festival de Cinema e Cultura Indígena, Distrito Federal, 2022. Disponível em: https://fecci.com.br/entrevista-aislan-pankararu/. Acesso em: 2 set. 2022.
- MESA 1: No simultâneo, popular e contemporâneo. São Paulo: SP-Arte, 2022. (62 min). Disponível em: https://youtu.be/VamSSu59p0E. Acesso em: 2 set. 2022.
- PANKARARU, Aislan. [Currículo virtual]. Enviado pelo artista em: 30 jan. 2023.
- REC.TYTY- FESTIVAL DE ARTES INDÍGENAS. Aislan Pankararu. Rec.Tyty, [São Paulo], [2021]. Disponível em: https://rectyty.com.br/aislan-pankararu/. Acesso em: 16 set. 2022.
- TUXÁ, Yacunã. [Currículo]. Enviado pela artista em: 21 jul. 2022.
- UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO - UFPE. Exposição virtual Hoje Somos Muitas Árvores terá início no próximo sábado (28). UFPE, Recife, 23 ago. 2021. Disponível em: https://www.ufpe.br/cac/destaques/-/asset_publisher/5oMn4ZTTDJpm/content/exposicao-virtual-hoje-somos-muitas-arvores-tera-inicio-no-proximo-sabado-28-/40615. Acesso em: 08 set. 2022.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
AISLAN Pankararu.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa643274/aislan-pankararu. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7