Gustavo Caboco
![Não apagarão nossa memória, 2021 [Obra]](http://d3swacfcujrr1g.cloudfront.net/img/uploads/2024/07/73137_640709.jpg)
Não apagarão nossa memória, 2021
Gustavo Caboco
Impressão fotográfica sobre papel algodão
Texto
Gustavo Martini Malucelli (Curitiba, Paraná, 1989). Artista visual. Originário do povo indígena Wapichana, suas obras e pesquisas são atravessadas pelo (re)encontro com seus familiares da Terra Indígena Canauamin, em Boa Vista, Roraima, e se materializam por meio de diferentes técnicas como bordados, desenhos, murais, poesia, vídeos, performances e objetos.
Sua mãe é desterrada e raptada de sua aldeia em 1968, com apenas dez anos, para "trabalhar" em Boa Vista e Manaus, passando por diversos lares provisórios até ser efetivamente adotada por uma família curitibana. Todavia, as lembranças de sua terra e aldeia são mantidas vivas e narradas durante a infância de Gustavo, o que alimenta sua memória sobre seu povo de origem. O retorno acontece em 2001, quando Gustavo conhece seus familiares. Do encontro nasce a possibilidade de contar sua trajetória pessoal e familiar por meio da arte.
A partir desta viagem, realizada quando tinha apenas 12 anos de idade, o artista imerge no projeto que denomina Retorno à terra, cujas pesquisas e criações remetem à tentativa de retomar e ressignificar o elo com suas origens indígenas e ampliar a voz do povo Wapichana. Tal processo também é demarcado pelas relações de diferenças: se na escola zombavam de sua ascendência, quando ele conhece seus familiares há a percepção de que também é diferente deles.
A escolha de seu nome artístico é um desdobramento desse sentimento: ele utiliza o termo caboco – o termo caboclo muitas vezes é utilizado como algo pejorativo, deslocado e sem raízes – para criar um lugar de diálogo e ressignificação que marca sua trajetória. O artista afirma que utiliza Caboco Wapichana como crítica às tentativas de apagamento das raízes indígenas no Brasil.
Retorno à terra conta com desenhos, murais, xilogravuras, poesia e performances produzidas a partir de diálogos com familiares de sua e de outras etnias, sendo cada pintura acompanhada de um diálogo em poesia que constrói a narrativa de seus encontros com sua identidade.
Em 2015, Gustavo Caboco é convidado para participar da Ghetto Biennale, Haiti, cujo tema é "Kreyòl, Vodu e o Lakou: formas de resistência". Essa bienal de arte nasce nas favelas de Porto Príncipe, capital do Haiti, em 2009, e é sede do coletivo de artistas "Atis Rezistans". A temática e as observações dos imigrantes haitianos em Curitiba aproximam Gustavo da bienal. Sua exposição, intitulada Alivium: não podemos curar todas as doenças, mas podemos aliviar a dor, conta com murais feitos de forma independente em destroços do terremoto que ocorreu no país em 2010.
Em 2017, os processos estéticos de Retorno à terra, que envolve tanto uma tentativa de amplificar a voz do povo wapichana quanto o caminhar para as suas próprias origens, resultam na exposição itinerante “Passo”, na Galeria 195, em Itacaré, Bahia, no espaço e centro cultural Re-Ocupa, em São Luís, Maranhão, no quilombo Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru-Mirim, Maranhão, e no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, Paraná.
No mesmo ano produz Plantar o corpo, performance na qual o artista registra a si mesmo em duas imagens: na primeira, está deitado em solo arenoso, com pouca possibilidade de fecundação e plantio e, na segunda, aparece imerso em uma cachoeira, no meio da mata, local onde ele e a natureza, de forma nutritiva, se fundem.
Em 2018, é o vencedor do Concurso Tamoios de Textos de Escritores Indígenas, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), com o texto Semente de caboco, em que reflete sobre a ancestralidade e diáspora indígenas, bem como sobre o papel da arte indígena na contemporaneidade. No texto, o artista parte das tentativas de organizar sua história, mesclando desenho e poesia para abordar questões de silenciamento e falta de escuta.
Em 2019, lança o livro-semente Baaraz Kawau. O livro bilíngue português-wapichana também é fruto da aproximação com seus familiares e outros artistas indígenas. Influenciado pelo incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018, que destrói mais de 20 milhões de artefatos histórico-culturais, entre os quais mais de 40 mil objetos de 300 povos indígenas, o livro recebe um título que significa "o campo após o fogo". Em 2020, Baaraz Kawau é vencedor do 3º Prêmio SeLecT de Arte e Educação, na categoria artista.
Participa da 14ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba e da exposição Vaivém, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, em 2019. Vaivém remete ao balanço da rede, todavia é uma sátira sobre o senso comum da invenção da brasilidade: Caboco expõe Bananeira, como forma de se reinserir no rizoma wapichana e demonstrar as redes em que o artista caminha.
Em 2021, participa do Festival de Arte Indígena rec•tyty, em São Paulo, como forma de celebração coletiva por meio da arte e forma de resistência, pulsação e vontade de querer estar vivo. O festival conta com a curadoria do filósofo Ailton Krenak (1953), da pesquisadora Naine Terena (1980), da educadora Cristine Takuá (1981), do cineasta Carlos Papá Guarani (1970) e da curadora Sandra Benites (1975).
No mesmo ano participa da 34ª Bienal de São Paulo com a instalação Kanau'kyba (2020), desenvolvida em parceria com sua mãe e seus primos Roseane Cadete (1990), Wanderson Wapixana (1994) e Emanuel Wapichana (2013). O projeto é atravessado pelos deslocamentos e encontros de diferentes paisagens conectados à terra ancestral de wapichana.
Gustavo Caboco é um dos nomes mais representativos da arte indígena contemporânea e, por meio de suas obras, busca reconstituir a história de sua ancestralidade wapichana e propor narrativas contra-hegemônicas sobre os modos de vida e as práticas culturais dos povos originários do território brasileiro.
Obras 1
Não apagarão nossa memória
Exposições 14
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24/4/2019 - 26/5/2019
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22/5/2019 - 29/7/2019
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14/9/2019 - 4/10/2019
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28/11/2020 - 30/4/2019
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4/9/2021 - 5/12/2020
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 13
- 34ª BIENAL Internacional de São Paulo. São Paulo: Fundação Bienal, 2020. Exposição realizada no período de 4 set. 2020 a 5 dez. 2021. Disponível em: http://34.bienal.org.br/exposicoes/7311. Acesso em: 15 jul. 2021.
- ALZUGARAY, Paula. Uma semente Wapichana. Select, 29 jan. 2021. Disponível em: https://www.select.art.br/uma-semente-wapichana/. Acesso em: 11 nov. 2021.
- Exposição "Atos de revolta: outros imaginários sobre independência": 17 set. 2022 a 26 fev. 2023. ArtSoul, 2023. Disponível em: https://artsoul.com.br/revista/eventos/exposicao-atos-de-revolta-outros-imaginarios-sobre-independencia. Acesso em: 06 jan. 2023.
- FONSECA, Raphael (curadoria). Vaivém/To-and-Fro. São Paulo : Conceito, 2019.
- GERMANO, Beto. O retorno à terra de Gustavo Caboco em busca de suas raízes. Artequeacontece, São Paulo, 4 fev. 2021. Disponível em: https://www.artequeacontece.com.br/o-retorno-a-terra-de-gustavo-caboco-em-busca-de-suas-raizes/. Acesso em: 10 nov. 2021.
- GUSTAVO CABOCO (PR/RR). Instituto Moreira Salles, [sem data]. Disponível em: https://ims.com.br/convida/gustavo-caboco/. Acesso em: 11 nov. 2021.
- GUSTAVO CABOCO. 34ª Bienal de São Paulo, 2021. Disponível em: http://34.bienal.org.br/artistas/786. Acesso em: 10 nov. 2021.
- GUSTAVO CABOCO. Bienal de Curitiba. Disponível em: http://bienaldecuritiba.com.br/2019/artista/gustavo-caboco/. Acesso em: 12 nov. 2021.
- MOQUÉM_Surarî: arte indígena contemporânea. São Paulo: Museu de Arte Moderna de São Paulo, 2021. Disponivel em: https://mam.org.br/exposicao/moquem_surari-arte-indigena-contemporanea/. Acesso em: 23 ago. 2021.
- NUNES, Mônica. rec.tyty, festival de arte indígena contemporânea, é uma ‘celebração para suspender o céu’: de 17 a 25/4. GUSTAVO CABOCO WAPICHANA. Conexão Planeta, 16 abr. 2021. Disponível em: https://conexaoplaneta.com.br/blog/rectyty-festival-de-arte-indigena-contemporanea-apresenta-multiplas-linguagens-de-17-a-25-4/. Acesso em: 9 nov. 2021.
- RAHE, Nina. O livro como ponto de encontro. Select, v. 9, n. 48. set./nov. 2020. Disponível em: https://www.select.art.br/o-livro-como-ponto-de-encontro/. Acesso em: 10 nov. 2021.
- RAHE, Nina. Plantar o corpo. Select, v. 10, n. 50, abr./jun. 2021. Disponível em: https://www.select.art.br/plantar-o-corpo. Acesso em: 11 nov. 2021.
- SOBRE os ombros de gigantes. São Paulo: Galeria Nara Roesler, 2021. Disponível em: https://nararoesler.art/usr/library/documents/main/2021_nara-roesler-sp_sobre-os-ombros-de-gigantes_preview.pdf. Acesso em: 17 abr. 2021.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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GUSTAVO Caboco.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa640709/gustavo-caboco. Acesso em: 02 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7