Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Gustavo Caboco

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 12.04.2024
1989 Brasil / Paraná / Curitiba
Reprodução do artista

Não apagarão nossa memória, 2021
Gustavo Caboco
Impressão fotográfica sobre papel algodão

Gustavo Martini Malucelli (Curitiba, Paraná, 1989). Artista visual. Originário do povo indígena Wapichana, suas obras e pesquisas são atravessadas pelo (re)encontro com seus familiares da Terra Indígena Canauamin, em Boa Vista, Roraima, e se materializam por meio de diferentes técnicas como bordados, desenhos, murais, poesia, vídeos, performance...

Texto

Abrir módulo

Gustavo Martini Malucelli (Curitiba, Paraná, 1989). Artista visual. Originário do povo indígena Wapichana, suas obras e pesquisas são atravessadas pelo (re)encontro com seus familiares da Terra Indígena Canauamin, em Boa Vista, Roraima, e se materializam por meio de diferentes técnicas como bordados, desenhos, murais, poesia, vídeos, performances e objetos.

Sua mãe é desterrada e raptada de sua aldeia em 1968, com apenas dez anos, para "trabalhar" em Boa Vista e Manaus, passando por diversos lares provisórios até ser efetivamente adotada por uma família curitibana. Todavia, as lembranças de sua terra e aldeia são mantidas vivas e narradas durante a infância de Gustavo, o que alimenta sua memória sobre seu povo de origem. O retorno acontece em 2001, quando Gustavo conhece seus familiares. Do encontro nasce a possibilidade de contar sua trajetória pessoal e familiar por meio da arte.

A partir desta viagem, realizada quando tinha apenas 12 anos de idade, o artista imerge no projeto que denomina Retorno à terra, cujas pesquisas e criações remetem à tentativa de retomar e ressignificar o elo com suas origens indígenas e ampliar a voz do povo Wapichana. Tal processo também é demarcado pelas relações de diferenças: se na escola zombavam de sua ascendência, quando ele conhece seus familiares há a percepção de que também é diferente deles.

A escolha de seu nome artístico é um desdobramento desse sentimento: ele utiliza o termo caboco – o termo caboclo muitas vezes é utilizado como algo pejorativo, deslocado e sem raízes – para criar um lugar de diálogo e ressignificação que marca sua trajetória. O artista afirma que utiliza Caboco Wapichana como crítica às tentativas de apagamento das raízes indígenas no Brasil.

Retorno à terra conta com desenhos, murais, xilogravuras, poesia e performances produzidas a partir de diálogos com familiares de sua e de outras etnias, sendo cada pintura acompanhada de um diálogo em poesia que constrói a narrativa de seus encontros com sua identidade.

Em 2015, Gustavo Caboco é convidado para participar da Ghetto Biennale, Haiti, cujo tema é "Kreyòl, Vodu e o Lakou: formas de resistência". Essa bienal de arte nasce nas favelas de Porto Príncipe, capital do Haiti, em 2009, e é sede do coletivo de artistas "Atis Rezistans". A temática e as observações dos imigrantes haitianos em Curitiba aproximam Gustavo da bienal. Sua exposição, intitulada Alivium: não podemos curar todas as doenças, mas podemos aliviar a dor, conta com murais feitos de forma independente em destroços do terremoto que ocorreu no país em 2010.

Em 2017, os processos estéticos de Retorno à terra, que envolve tanto uma tentativa de amplificar a voz do povo wapichana quanto o caminhar para as suas próprias origens, resultam na exposição itinerante “Passo”, na Galeria 195, em Itacaré, Bahia, no espaço e centro cultural Re-Ocupa, em São Luís, Maranhão, no quilombo Santa Rosa dos Pretos, em Itapecuru-Mirim, Maranhão, e no Museu Alfredo Andersen, em Curitiba, Paraná. 

No mesmo ano produz Plantar o corpo, performance na qual o artista registra a si mesmo em duas imagens: na primeira, está deitado em solo arenoso, com pouca possibilidade de fecundação e plantio e, na segunda, aparece imerso em uma cachoeira, no meio da mata, local onde ele e a natureza, de forma nutritiva, se fundem.

Em 2018, é o vencedor do Concurso Tamoios de Textos de Escritores Indígenas, da Fundação Nacional do Livro Infantil e Juvenil (FNLIJ), com o texto Semente de caboco, em que reflete sobre a ancestralidade e diáspora indígenas, bem como sobre o papel da arte indígena na contemporaneidade. No texto, o artista parte das tentativas de organizar sua história, mesclando desenho e poesia para abordar questões de silenciamento e falta de escuta. 

Em 2019, lança o livro-semente Baaraz Kawau. O livro bilíngue português-wapichana também é fruto da aproximação com seus familiares e outros artistas indígenas. Influenciado pelo incêndio no Museu Nacional, no Rio de Janeiro, em 2018, que destrói mais de 20 milhões de artefatos histórico-culturais, entre os quais mais de 40 mil objetos de 300 povos indígenas, o livro recebe um título que significa "o campo após o fogo". Em 2020, Baaraz Kawau é vencedor do 3º Prêmio SeLecT de Arte e Educação, na categoria artista.

Participa da 14ª Bienal Internacional de Arte Contemporânea de Curitiba e da exposição Vaivém, no Centro Cultural Banco do Brasil, em São Paulo, em 2019. Vaivém remete ao balanço da rede, todavia é uma sátira sobre o senso comum da invenção da brasilidade: Caboco expõe Bananeira, como forma de se reinserir no rizoma wapichana e demonstrar as redes em que o artista caminha.

Em 2021, participa do Festival de Arte Indígena rec•tyty, em São Paulo, como forma de celebração coletiva por meio da arte e forma de resistência, pulsação e vontade de querer estar vivo. O festival conta com a curadoria do filósofo Ailton Krenak (1953), da pesquisadora Naine Terena (1980), da educadora Cristine Takuá (1981), do cineasta Carlos Papá Guarani (1970) e da curadora Sandra Benites (1975).

No mesmo ano participa da 34ª Bienal de São Paulo com a instalação Kanau'kyba (2020), desenvolvida em parceria com sua mãe e seus primos Roseane Cadete (1990), Wanderson Wapixana (1994) e Emanuel Wapichana (2013). O projeto é atravessado pelos deslocamentos e encontros de diferentes paisagens conectados à terra ancestral de wapichana.

Gustavo Caboco é um dos nomes mais representativos da arte indígena contemporânea e, por meio de suas obras, busca reconstituir a história de sua ancestralidade wapichana e propor narrativas contra-hegemônicas sobre os modos de vida e as práticas culturais dos povos originários do território brasileiro.

Obras 1

Abrir módulo

Exposições 14

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 13

Abrir módulo

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: