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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Glicéria Tupinambá

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 05.01.2024
1982 Brasil / Bahia / Buerarema
Glicéria Tupinambá (Serra do Padeiro, Terra Indígena Tupinambá de Olivença, Bahia, 1982). Líder indígena do povo tupinambá, ativista, professora, pesquisadora, artista visual e audiovisual. Suas pesquisas visuais estão entrelaçadas ao ativismo político e compreendem lutas pelo território, pela educação e por direitos coletivos.

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Glicéria Tupinambá (Serra do Padeiro, Terra Indígena Tupinambá de Olivença, Bahia, 1982). Líder indígena do povo tupinambá, ativista, professora, pesquisadora, artista visual e audiovisual. Suas pesquisas visuais estão entrelaçadas ao ativismo político e compreendem lutas pelo território, pela educação e por direitos coletivos.

Glicéria é criada em território tupinambá e está sempre envolvida com a vida e com os costumes dessas populações. Desde cedo, se engaja nas estratégias e lutas políticas de seu povo, integrando a Associação Indígena Tupinambá da Serra do Padeiro (AITSP) em 2004, ano de sua fundação. Nessa associação, atua como tesoureira e presidente, responsável por conceber e gerenciar diversos projetos que visam ao fortalecimento da aldeia e à melhoria nas condições de vida dos Tupinambá. Participa ativamente das mobilizações de seu povo iniciadas em 2006, que incluem ocupações e retomadas de fazendas estabelecidas dentro de seus territórios. Uma importante conquista das reivindicações da AITSP é a fundação da Escola Estadual Indígena Tupinambá Serra do Padeiro (CEITSP), na qual Glicéria passa a lecionar ao lado de outros professores indígenas. A escola tem como princípio norteador a preservação e o resgate das culturas indígenas de seu entorno, com o objetivo de fortalecer sua identidade.

Essas mobilizações motivam uma série de investidas da Polícia Federal contra o povo tupinambá. Em 2010, como membro da Comissão Nacional de Política Indigenista (CNPI), Glicéria se reúne com o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (1945) para denunciar essas violências. No retorno de Brasília (Distrito Federal), agentes federais conduzem a líder indígena e seu filho recém-nascido do aeroporto de Ilhéus (BA) para a prisão, onde permanece por mais de dois meses. Após libertada, ela é incluída na lista de lideranças indígenas ameaçadas atendidas pelo Programa de Proteção aos Defensores dos Direitos Humanos (PPDDH).

Ao longo da década de 2010, a arte se torna uma ferramenta importante da ativista para difundir a resistência dos povos indígenas e os modos de vida dos tupinambás. Em parceria com a geógrafa Cristiane Gomes Julião, oriunda do povo pankararu, Glicéria dirige Voz das mulheres indígenas, seu primeiro filme. Lançado em 2015, o curta-metragem documental, baseado em entrevistas, dá um panorama das trajetórias políticas de mulheres indígenas da Bahia, Pernambuco, Rio Grande do Norte e Alagoas. Dois anos após o lançamento, o filme ganha o prêmio do público no Festival de Cinema Indígena Cine Kurumin. Aos poucos, Glicéria ganha reconhecimento do meio acadêmico, o que se reflete em uma série de palestras e cursos ministrados no final da segunda década dos anos 2000.

No ano de 2018, é convidada para palestrar na Escola de Estudos Avançados em Ciências Sociais, em Paris (França). Nessa ocasião, encontra um manto Tupinambá confeccionado no século XVI, alocado na reserva técnica do Museu do Quai Branly. Usados em cerimônias, esses mantos possuem um caráter sagrado para os Tupinambá. Confeccionados no período colonial, entre os séculos XVI e XVII, são levados do Brasil pelos europeus e passam a integrar as coleções reais. Recentemente são transferidos para museus etnográficos europeus, onde se encontram cerca de onze deles.

Este achado representa um ponto de inflexão na trajetória da artista, de modo que os mantos assumem um papel central nas pesquisas artísticas. Em 2020, baseando-se no item em posse do museu francês, inicia a criação de um novo manto. Neste processo, mobiliza diversos saberes antigos das mulheres tupinambás sobre tecelagem e trançagem, além de investigar o uso da agulha de tucum1 e a preparação de cordas de algodão com cera de abelha. O novo manto, composto por uma capa e um capuz, é tecido sobre uma base de algodão, em que são fixadas penas, majoritariamente de cor amarronzada, oriundas de diversas aves da região. Embora concebido com base no exemplar conservado no museu francês, ele tem suas medidas ajustadas para o cacique Babau (1974), líder tupinambá.

A produção deste novo manto representa o reencontro com técnicas ancestrais do povo tupinambá, ao mesmo tempo que estabelece um diálogo com os movimentos de restituição de objetos de arte que se avolumam no século XXI. O trabalho é premiado pelo projeto "Um Outro Céu/Another Sky" (2020), realizado por meio de parceria entre a Universidade de Sussex (Reino Unido) e três universidades sediadas na Bahia. O manto também serve de mote para uma exposição intitulada Esta é a Grande Volta do Manto Tupinambá, com cocuradoria de Glicéria e exibida na Galeria Fayga Ostrower (Brasília, Distrito Federal) e na Casa da Lenha (Porto Seguro, Bahia), em 2021. Por suas investigações sobre os mantos tupinambás, a artista é indicada ao Prêmio Pipa  e selecionada para a Bolsa Zum de fotografia no ano seguinte.

Glicéria entrelaça práticas artísticas, ativistas e educativas. No âmbito das artes visuais, suas práticas consideram as tradições dos uupinambás como principal problema, integrando os recentes esforços desse povo para recuperar um conjunto de elementos culturais que sofreram processos históricos de apagamento. Essa atividade também é acompanhada por uma série de práticas audiovisuais que buscam visibilizar as lutas dos povos indígenas brasileiros.

Notas

1. Agulhas confeccionadas a partir dos espinhos do tucum, palmeira amplamente utilizada por povos indígenas brasileiros.

Exposições 2

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