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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Antonio Pitanga

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 31.01.2024
13.06.1939 Brasil / Bahia / Salvador
Antônio Luiz Sampaio (Salvador, Bahia, 1939). Ator. Reconhecido por longa trajetória na dramaturgia brasileira, com personagens que combatem sistemas de opressão social e racial. Consciente em relação aos personagens que assume nas telas e nos palcos, torna-se também uma das figuras emblemáticas do Cinema Novo nos anos 1960 e 1970, sendo peça-ch...

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Antônio Luiz Sampaio (Salvador, Bahia, 1939). Ator. Reconhecido por longa trajetória na dramaturgia brasileira, com personagens que combatem sistemas de opressão social e racial. Consciente em relação aos personagens que assume nas telas e nos palcos, torna-se também uma das figuras emblemáticas do Cinema Novo nos anos 1960 e 1970, sendo peça-chave na repercussão internacional do movimento.

Nascido no Pelourinho, de família humilde, estuda num internato quando criança. Na juventude, exerce profissões diversas, como sapateiro, alfaiate e marceneiro. Como telegrafista numa companhia soteropolitana, circula diariamente pela cidade e toma contato com a Escola de Teatro da Bahia, onde conhece jovens atores como Othon Bastos (1933), Geraldo Del Rey (1930-1993) e Sonia dos Humildes (1939-1980). Interessado na cultura como instrumento socializador, faz teste para o filme Bahia de todos os santos (1960), dirigido por Trigueirinho Netto (1929). Sua atuação marcante faz com que se torne conhecido pelo nome do personagem, Pitanga. A partir do filme A grande cidade (1966), de Cacá Diegues (1940), passa a ser creditado como Antônio Pitanga.

Em 1960, começa a estudar na Escola de Teatro da Universidade Federal da Bahia, onde participa da montagem da Ópera de três tostões, de Bertolt Brecht (1898-1956), sob direção de Eros Martim Gonçalves (1919-1973), e faz seu primeiro protagonista em A morte de Bessie Smith, de Edward Albee (1928-2016), com direção de Luiz Carlos Maciel (1938-2017).

Figura ativa no movimento cultural de Salvador na década de 1960, atua em filmes e peças com personagens de perfis questionadores. A maneira arrojada como os interpreta, investindo nos movimentos corporais, destaca-se na atuação moderna brasileira. De acordo com o crítico Francis Vogner, “essa técnica acessava outros sentidos (sensações e significados) em uma performance que extrapolava o cálculo racional naturalista, afirmando o corpo e tudo que ele traz em termos de memória e narrativa. Pitanga impôs um estilo”.1

Em 1961, protagoniza Barravento, primeiro longa-metragem de Glauber Rocha (1939-1981). O filme é marco do Cinema Novo, movimento de renovação da produção audiovisual brasileira que busca retratar identidades profundas e elementos populares da vivência no país. Pitanga interpreta Firmino, ex-pescador que, após algum tempo longe de sua comunidade, volta para casa e tenta livrar os moradores da dominação religiosa. A descrição do personagem feita pelo crítico Jean-Claude Bernardet (1936) é exemplar das escolhas de papéis que guiam Pitanga: “Suas ideias são outras, não se veste como os pescadores, sua exuberância no falar e no gesticular contrasta com o comportamento dos pescadores, tem experiências desconhecidas dos moradores do vilarejo, teve encrencas com a polícia”, descreve2.

Em 1967, prestes a protagonizar a peça O poder negro, no Teatro Oficina, com texto original do norte-americano LeRoi Jones (1934-2014) e direção do dramaturgo Fernando Peixoto (1937-2012), a encenação é vetada pela censura federal sob alegação de “atentado ao decoro público”. O personagem de Pitanga é Clay, homem sem consciência de sua negritude, reunindo as contradições que atraem o ator a assumir papéis desafiadores. A classe artística brasileira se mobiliza contra a censura a O poder negro e, em agosto de 1968, a peça é liberada e faz grande sucesso.

Pitanga participa de filmes emblemáticos e de repercussão mundial, como A grande feira (1961), de Roberto Pires (1934-2001), O pagador de promessas (1962), de Anselmo Duarte (1920-2009), Sol sobre a lama (1963), de Alex Viany (1918-1992), e Ganga Zumba (1963), de Cacá Diegues. Na segunda metade dos anos 1960, durante a ditadura militar, sai do Brasil em autoexílio e percorre países africanos por dois anos, em busca da ancestralidade. Visita Gana, Nigéria e Senegal, onde exibe alguns dos filmes nos quais é ator e faz contatos com comunidades daquele continente.

Em 1979, lança o filme Na boca do mundo, único do qual também é diretor. Nos anos 1980, divide-se principalmente entre cinema e televisão, participando de 14 telenovelas entre 1981 e 1990. Por sua sugestão, o escritor Silvio de Abreu (1942) cria uma família negra de classe média que se torna um dos núcleos mais comentados da novela A próxima vítima, em 1995. No papel do contador Cléber Noronha, o ator divide a cena com sua amiga Zezé Motta (1944) e com a filha Camila Pitanga (1977).

A família do ator volta a se reunir profissionalmente em 2016, quando Camila codirige, com o cineasta Beto Brant (1964), o documentário Pitanga, que registra parte da carreira do pai; e em 2019, na peça

Embarque imediato, na qual contracena com o filho Rocco Pitanga (1980). O texto do dramaturgo Aldri Anunciação (1977) para esta peça trata de dois homens negros confinados pela imigração e em meio a um embate de diferentes gerações da diáspora africana. “Ele (Pitanga) interpreta um velho africano numa sala de retenção alfandegária de um aeroporto internacional. A larga sabedoria milenar do personagem ecoa na grandeza histórica do ator octogenário”, destaca Paulo Bio Toledo em crítica na “Folha de S. Paulo”3.

De presença magnética nas telas e nos palcos e saudado constantemente como patrimônio vivo das artes brasileiras, Antônio Pitanga conjuga a luta por reconhecimento da ancestralidade negra com a habilidade de ocupar espaços criativos dos mais variados perfis. Segue como uma figura atuante no cenário cultural do país, acumulando no corpo e nas vivências fatia significativa da memória cênica e audiovisual brasileira.

Notas

1. REIS, Francis Vogner. MOSTRA DE CINEMA DE TIRADENTES, 23., 2020, Tiradentes. Catálogo [...]. Tiradentes: Universo Produção, 2020.

2. BERNARDET, Jean-Claude. Brasil em tempo de cinema. São Paulo: Companhia das Letras, 2007.

3. TOLEDO, Paulo Bio. Antonio Pitanga comove em peça 'Embarque Imediato', governada pela palavra. Folha de S.Paulo, São Paulo, 27 fev. 2020. Ilustrada. Disponível em: https://www1.folha.uol.com.br/ilustrada/2020/02/antonio-pitanga-comove-em-peca-embarque-imediato-governada-pela-palavra.shtml. Acesso em: 9 ago. 2021.

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