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Enciclopédia Itaú Cultural
Cinema

Beto Brant

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.09.2019
23.05.1964
Roberto Garcia Brant de Carvalho (Jundiaí, SP, 1964). Cineasta, roteirista e produtor. No início dos anos de 1980, inicia curso de atuação com Wolney de Assis (1937-2015). Realiza filmes em bitola Super-8, o que não o afasta do teatro. Passa a frequentar sessões de cineclubes, período em que a influência cinematográfica se sobrepõe às outras art...

Texto

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Roberto Garcia Brant de Carvalho (Jundiaí, SP, 1964). Cineasta, roteirista e produtor. No início dos anos de 1980, inicia curso de atuação com Wolney de Assis (1937-2015). Realiza filmes em bitola Super-8, o que não o afasta do teatro. Passa a frequentar sessões de cineclubes, período em que a influência cinematográfica se sobrepõe às outras artes. Em 1984, ingressa na faculdade de cinema da Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Em 1987, dirige curta-metragem Aurora, seu projeto de conclusão da graduação, em parceria com Renato Ciasca (1961), uma adaptação do romance O Céu em Minhas Mãos (1981), do escritor argentino Mempo Giardinelli (1947). Em 1988, recebe o prêmio estímulo à produção de curtas-metragens, promovido pela Secretaria de Estado da Cultura de São Paulo, e realiza o filme Dov’e Meneghetti. Com a liquidação da Embrafilme,1 em 1990, e a consequente crise do setor cinematográfico nacional, passa a dirigir filmes publicitários.

Nesse período, seu único trabalho autoral é o curta-metragem Jó (1993), realizado em um fim de semana. Com a estreia de seu primeiro longa-metragem, Os Matadores (1997), ganha o prêmio de melhor direção no Festival de Cinema de Gramado do mesmo ano. O filme marca o início da parceria artística do cineasta com o escritor Marçal Aquino (1958), presente em diversas produções. O segundo filme de Brant, Ação entre Amigos (1998), consolida o reconhecimento obtido pelo filme anterior. Em 2002, inaugura a sua produtora, a Drama Filmes, e realiza o terceiro longa-metragem da carreira, O Invasor (2002), que recebe o prêmio de melhor filme latino-americano no Sundance Film Festival do mesmo ano. Também é o único filme latino-americano entre as 32 produções selecionadas para a 27ª edição do Festival New Directors, New Films, em Nova York. Crime Delicado (2005) e Cão sem Dono (2007) são, depois do curta de estreia O Céu em Minhas Mãos, os dois únicos filmes que se baseiam em obras de outros escritores que não as de Marçal Aquino. Os autores são, respectivamente, Sérgio Sant’Anna (1941) e Daniel Galera (1979).

Lança o longa-metragem O Amor Segundo B. Schianberg (2009) com o material feito para série de televisão de mesmo nome, exibido pela TV Cultura de São Paulo. É um filme de baixo orçamento, realizado como produção cooperativada, uma referência constante no sistema de realização independente do diretor. Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios (2011) marca a maturidade na adaptação dos textos de Marçal Aquino na obra de Beto Brant.

A realização de sete longas-metragens em 14 anos revela uma trajetória bem-sucedida no cenário cinematográfico independente brasileiro.

Análise

A falta de perspectivas vivida pela classe cinematográfica brasileira no início dos anos 1990 começa, aos poucos, uma inflexão positiva com a chegada ao mercado das ações de patrocínio por meio de incentivos fiscais. Percebe-se na geração que produz nesse período um acento autoral, não havendo preocupação com a formação de um movimento. Dentro desse contexto, Beto Brant apresenta uma filmografia composta de obras originadas de adaptações literárias, projetos racionalizados sob o ponto de vista da produção, equipes de trabalho formadas por amigos (entre os quais Marçal Aquino e Renato Ciasca), que se transformam em parceiros inseparáveis a cada novo projeto, e um respeito às proposições dos atores na construção das cenas.

Com sete longas-metragens e três curtas criados a partir de adaptações literárias, Brant constrói uma trajetória artística que mostra ao espectador histórias inspiradas na realidade, em diálogo com o tempo presente. Sobre essa característica, o cineasta declara certa vez: “Sempre pensei em ser um contador de histórias; sempre fiquei de olho nos livros de contos que estavam sendo lançados, lendo... lendo”. Essa busca o leva, no início dos anos de 1990, ao encontro do escritor Marçal Aquino, que se torna amigo inseparável, com quem, anos depois, finaliza o filme Os Matadores, o primeiro da longeva parceria. Para contar a história de pistoleiros de aluguel na região da fronteira entre o Brasil e o Paraguai, a fotografia assume um contorno responsável por informar as voltas no tempo da narrativa.

Já em O Invasor, a câmera segue os personagens realizando ousados movimentos no espaço cênico, imprimindo um ritmo ágil, desvendando relações entre classes sociais e fazendo emergir a cidade de São Paulo em seus mais variados espaços urbanos. Nesses filmes percebe-se a busca por um frescor da linguagem, que acentua, por estilização, o universo da violência que define a primeira fase do diretor.

A exibição das fraturas da sociedade presente em seus primeiros longas-metragens é substituída pela exposição de temas de natureza íntima, como a expressão dos sentimentos, os relacionamentos amorosos e a solidão. São assuntos que caracterizam a segunda fase da produção de Beto Brant. Crime Delicado revela um passeio por momentos da vida de três personagens que compõem um instável triângulo amoroso, em uma narrativa que mescla informações de quatro artes distintas (literatura, cinema, teatro e artes plásticas), promovendo uma avaliação de seus significados e deixando transparecer a importância do teatro para o próprio diretor. Em Cão Sem Dono, com codireção de Renato Ciasca, a intimidade se acirra ao ponto de o filme se passar quase todo dentro de um apartamento, observando o encontro entre uma modelo e um homem em crise existencial. Depressão, medo, ceticismo - violências invisíveis para as estatísticas públicas, mas que falam alto na vida privada do jovem casal.  

O Amor Segundo B. Schianberg nasce de uma série feita para televisão, em parceria com a TV Cultura de São Paulo e o SescTV. Câmeras robotizadas são colocadas em posições estratégicas em um apartamento onde se desenvolve todo o filme, simulando um reality show. A equipe técnica permanece no apartamento ao lado, tendo o mínimo de contato com os atores, e a direção é, em grande parte, realizada por mensagens de celular e e-mail. A interpretação dos atores é elaborada em um jogo de improviso, de construção de ideias, baseados no repertório dos personagens que formam o casal da ficção. O filme proporciona a máxima liberdade do ator para a proposição da cena. Para o crítico de cinema Filipe Furtado, o longa é a tentativa de se organizar uma narrativa daquilo que não é mais que um workshop de atores. De acordo o crítico Marcelo Hessel (1980), antes de ser de tratar sobre relações, é um filme de relações.     

Eu Receberia as Piores Notícias dos Seus Lindos Lábios, também com codireção de Renato Ciasca, interliga as fases anteriores do cineasta. Novamente baseada em obra homônima de Marçal Aquino, a trama pontua a presença de uma discussão social que se alia ao processo intimista vivido pelas três personagens principais. Longas tomadas permitem tempo para a atuação do trio de atores composto de Camila Pitanga (1977), Gustavo Machado (1973) e Zécarlos Machado (1950), em um roteiro que equilibra a relação entre o público e o privado.

A direção segura e a abrangência temática da obra de Beto Brant revelam sua capacidade de realizar filmes diferentes entre si, construindo um conjunto autoral e marcadamente independente no que se refere aos esquemas de produção e de distribuição no panorama brasileiro. Reconhecido pela crítica como representante significativo de um cinema autoral que se forma em São Paulo nos anos de 1990, a filmografia do diretor conta histórias que apresentam temáticas de caráter social e o aprofundamento de questões particulares da vida privada. A despeito da diferença entre as encenações em espaços amplos versus espaços de concentração, os filmes procuram representar a posição do cineasta diante da realidade brasileira do tempo presente.

Nota

1. Durante a presidência de Fernando Collor de Mello (1990-1992), a Embrafilme, empresa estatal que subsidia o cinema nacional, é fechada. Com esse evento e uma série de sanções econômicas, a produção de cinema declina.   

Exposições 3

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Fontes de pesquisa 21

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  • A ARTE DA IMPROVISAÇÃO: Entrevista com Beto Brant. In: Teorema, n. 9, p. 3, jul. 2006, p. 28-33.
  • AÇÃO ENTRE AMIGOS. In: Ideia na Cabeça, n. 5, set.-out. 1998, p. 11.
  • BARBOSA, Neusa. Crime Delicado: o caminho entre a arte e a vida. In: Bien'Art, v. 2, n. 14, dez. 2005, p. 56-57.
  • BENTES, Ivana (org.). Ecos do cinema: de Lumière ao digital. Rio de Janeiro: Editora UFRJ, 2007.
  • BENTES, Ivana; SARNO, Geraldo; AVELLAR, José Carlos. Beto Brant: filmar é bom! In: Cinemais, n. 7, set-out 1997, p. 7-30.
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  • COUTO, José Geraldo. Os Matadores: Beto Brant revela o mundo vertiginoso dos pistoleiros de aluguel em seu longa de estreia. In: Cinema, v. 2, n. 8, ago.-set. 1997, p. 14-19.
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  • FURTADO, Filipe. Cinema paulista: um laboratório paulistano. In: Filme Cultura, n. 50, abr. 2010, p. 57-61.
  • GERBASE, Carlos. Até a página em que ela morreu: em Cão sem Dono, Beto Brant e Renato Ciasca fazem cinema evitando o experimentalismo vazio. In: Teorema, n. 11, set. 2007, p. 5-8.
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  • LEAL, Hermes. Beto Brant. Filmografia. In: Revista de Cinema, v. 2, n. 23, mar. 2002, p.12-18.
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