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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Cátia de França

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 04.07.2024
13.02.1947 Brasil / Paraíba / João Pessoa
Catarina Maria de França Carneiro (João Pessoa, Paraíba, 1947). Cantora, compositora, instrumentista, escritora. Criada em um ambiente ilustrado, em que, segundo a própria artista, “faltava manteiga, mas tinha livro”, concebe a partir de colagens de suas referências literárias e musicais, que surgirão ao longo de sua trajetória em composições de...

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Catarina Maria de França Carneiro (João Pessoa, Paraíba, 1947). Cantora, compositora, instrumentista, escritora. Criada em um ambiente ilustrado, em que, segundo a própria artista, “faltava manteiga, mas tinha livro”, concebe a partir de colagens de suas referências literárias e musicais, que surgirão ao longo de sua trajetória em composições de ritmos variados. 

Alfabetizada pela mãe por meio de canções, estuda piano desde os quatro anos, deixando o instrumento aos 15, quando ingressa num colégio interno em Pernambuco. Passa a tocar violão e envereda pela música popular. Aprende também flauta, sanfona e percussão. Em Recife, faz teatro, leciona música e toca em casas noturnas.

No final dos anos 1960, viaja pela Europa junto ao grupo folclórico da Fundação Artístico-Cultural Manuel Bandeira. De volta ao Brasil, muda-se para o Rio de Janeiro, onde integra as bandas de Zé Ramalho (1949), Amelinha (1950) e Sivuca (1930-2006). Em 1970, interpreta a canção “Mariana” (parceria com o poeta e jornalista Diógenes Brayner), uma das vencedoras do IV Festival Paraibano de MPB. Trabalha em trilhas sonoras para cinema e teatro, entre as quais o filme Cristais de Sangue (1975), de Luna Alkalay (1947).

Grava seu primeiro trabalho, 20 Palavras ao Redor do Sol (1979), com a participação de Sivuca, Dominguinhos (1941-2013), Sérgio Boré, Chico Batera (1943), Lulu Santos (1953) e Bezerra da Silva (1927-2005). Com título baseado em um verso de João Cabral de Melo Neto (1920-1999), o disco acumula referências culturais diversas. “O Bonde”, por exemplo, condensa diferentes personagens de José Lins do Rego (1901-1957), remetendo à Recife do início do século XX. A canção “Itabaiana” alude ao clima de euforia da feira desta cidade, também recorrente nos romances do autor. Já outra composição marcante, “Kukukaya (Jogo da Asa da Bruxa)”, provém do folclore cigano da Bulgária e, inscrita numa estética pós-hippie, dialoga com canções de caráter esotérico de Zé Ramalho e Raul Seixas (1945-1989)

Estilhaços (1980) apresenta uma sonoridade mais eclética, abarcando gêneros musicais do litoral e do interior, como forró, xote, ciranda e cantos de aboio, cujas harmonizações são construídas sob o modo mixolídio1. A intertextualidade com José Lins do Rego se faz novamente presente, apesar de o encarte do disco citar apenas Guimarães Rosa (1908-1967). É o que ocorre, por exemplo, na canção “Meu Boi Surubim”, gravada com a cantora Clementina de Jesus (1902-1987). Já “Poço das Pedras” enfatiza a relação do homem com o rio, o que remete à inclusão de temas ecológicos na música popular nos anos 1980.

A compositora ganha projeção no cenário musical nos anos 1970, junto com outros cantores, compositores e instrumentistas nordestinos que, naquele momento, conquistam espaço na indústria fonográfica do eixo Rio-São Paulo. A tendência em mesclar as referências regionais a elementos do rock e da cultura pop perpassa a obra desses músicos, que, vivenciando os desdobramentos da contracultura do final dos anos 1960, sintetizam diversas vertentes, passando pelo folk, o baião e o rock psicodélico. Ela se destaca nesse grupo como única mulher que compõe, toca e interpreta as próprias canções. Além disso, tem papel importante na instrumentação de discos de outros artistas, como a cantora Amelinha, que grava duas de suas composições: “Coito das Araras” e “Ponta do Seixas”.

Ao longo de sua trajetória, o ritmo é o aspecto que mais sofre mudanças. Em seus primeiros trabalhos, é complexo, quase indefinido, sincopado pelo canto, tanto pelo andamento como pelo acento das frases melódicas. Já o álbum Feliz Demais (1985) integra teclado e bateria eletrônica, resultando numa sonoridade menos orgânica, diluída em seus trabalhos posteriores. Em Avatar (1998), retoma as características sonoras dos primeiros trabalhos, tanto na concepção dos arranjos como na forma de cantar, contando com a participação de Chico César (1964), Xangai (1948) e Quinteto de Cordas da Paraíba. 

Comparada a outros nomes de sua geração, como Geraldo Azevedo (1945), Elba Ramalho (1951), Alceu Valença (1946) e Fagner (1949), sua discografia não é extensa e a penetração no mundo pop dos grandes centros urbanos é bem menor. Isso se deve ao fato de não se render a mudanças propostas pelas gravadoras para tornar sua música mais comercial, o que torna seu trabalho apreciado por um público mais restrito. Ainda assim, a artista define seu trabalho como “popular mundial”, identificando referências da música clássica ao blues, passando por Luiz Gonzaga (1912-1989), Jackson do Pandeiro (1919-1982), Elvis Presley (1935-1977), Beatles e o Clube da Esquina.

Em 1990, fixa residência na Paraíba, onde integra a ONG e o Projeto Malagueta, que divulga o acervo cultural da Paraíba. Em 2012, grava o CD independente No Bagaço da Cana um Brasil Adormecido, com a Camerata Arte Mulher, formada por musicistas eruditas da Paraíba e inspirado em textos de José Lins do Rego. Publica cordéis e livros infanto-juvenis, entre os quais A Peleja de Lampião Contra a Fibra Ótica, Saga de Zumbi e Falando da Natureza Naturalmente.

Identificando-se a um grupo de artistas nordestinos que colocam os ritmos regionais em diálogo com a cultura pop, Cátia de França se destaca pelas parcerias e colaborações, pelo diálogo com a literatura brasileira nas letras de suas canções e, ainda, por se tratar de uma mulher que compõe e executa as próprias criações.

Nota

1. O modo mixolídio é uma escala maior com o sétimo grau rebaixado em meio tom, presente nos ritmos nordestinos mencionados.

Obras 9

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