Jackson do Pandeiro

Jackson do Pandeiro, 1972
Texto
José Gomes Filho (Alagoa Grande, Paraíba, 1919 – Brasília, Distrito Federal, 1982). Cantor, percussionista, compositor. É conhecido como o “rei do ritmo” por sua habilidade em promover encontros de diferentes gêneros e construir novos arranjos para a música brasileira, especialmente entre canções tradicionais nordestinas e a música de origem afro-brasileira.
Começa a tocar zabumba acompanhando sua mãe, a cantora de coco Flora Mourão, em apresentações na sua cidade natal, Alagoa Grande. Em 1932, muda-se com a família para Campina Grande, após a morte do pai. Na cidade, toca bateria no conjunto musical do Clube Ipiranga, em 1936, sendo efetivado, em seguida, como percussionista.
Adota o nome artístico Zé Jack, baseado nos filmes de faroeste a que assiste durante a adolescência. Em 1940, muda-se para João Pessoa, na Paraíba, para trabalhar na Rádio Tabajara. O nome Jackson do Pandeiro é adotado oito anos depois, quando passa a morar em Recife e trabalhar na Rádio do Jornal do Commercio.
Sua habilidade particular com instrumentos de percussão, como o pandeiro, é referência para a regravação de clássicos da música brasileira, construindo novos arranjos e dando-lhes novas cadências. O músico altera a marcação predefinida das canções, adiantando a execução da música em relação à letra.
Transita entre ritmos como cocos, xaxados e frevos e busca referências nos clubes de música, como o paraibano Cassino Eldorado e, também, em terreiros de candomblé. Incorpora a inspiração das batucadas dos ritos religiosos em suas gravações.
O repertório de Jackson do Pandeiro traz para a cena da música popular brasileira um nordeste festivo e lúdico, com suas tradições musicais. Seu primeiro compacto, gravado em 1953, traz a composição “Sebastiana”, um coco em parceria com Rosil Cavalcanti (1915-1968) e o rojão “Forró no Limoeiro”, de Edgar Ferreira (1922-1995). Além disso, sua presença de palco e figurinos trazem para a cena um nordestino urbano, diferente de Luiz Gonzaga (1912-1989), ligado às raízes sertanejas.
Segundo o produtor musical Carlos Fernando (1938-2013), o frevo acelerado é uma criação de Jackson. Antes de seu EP Micróbio do Frevo (1955), o ritmo era mais lento.
Além de percussionista e cantor, Jackson também atua na composição de canções do final da década de 1950, assinadas por Almira Castilho (1924-2011). Casa-se com ela em 1956 e torna-se seu companheiro de trabalho por cerca de 11 anos, nas composições e apresentações. A ex-professora e cantora é também a responsável por ensiná-lo a assinar seu nome artístico, já que Jackson só é alfabetizado aos 35 anos. Uma das composições da parceria é “Chiclete com Banana”, lançada em 1951, que traz pela primeira vez a nomenclatura samba-rock, alusão à mistura dos dois ritmos na música.
Em 1966, lança Cabra da Peste, em que está presente o encontro de ritmos experimentados ao longo de seus trabalhos. É o caso de canções como “Capoeira Mata Um”, mistura de coco e samba, e “Bodocongó", baião com elementos rítmicos do samba, composto em parceria com Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira (1915-1979).
A relação com o samba, ritmo reconhecido como carioca na época, é forte em suas misturas rítmicas e nos carnavais do Rio de Janeiro, dos quais Jackson é campeão em alguns anos. Na produção musical, trabalha no primeiro disco do sambista Bezerra da Silva (1927-2005), O Rei do Coco (1975) e atua como instrumentista em todas as canções.
O coco e o samba, além dos batuques que Jackson busca em ritos religiosos, proporcionam o encontro rítmico entre a música negra e o cancioneiro tradicional nordestino, fazendo do músico expoente de uma sonoridade única na música popular brasileira.
Assim como intérpretes como Tim Maia (1942-1998), Jackson também passa por uma fase Racional1. Em seu disco Nossas Raízes (1974), o compositor abre espaço para letras que trazem a filosofia para suas música como “Mundo de Paz e Amor”, na qual Jackson canta “Meu caminho é racional, o meu mundo é de paz e amor”.
A atuação de Jackson como instrumentista é fundamental para construir novos arranjos para canções tradicionais, além de trabalhar com a mistura de ritmos, criando sonoridades singulares na música popular brasileira.
Nota
1. Religião derivada do espiritismo, fundada em meados da década de 1930 pelo médium carioca Manoel Jacintho Coelho (1903-1991), que tem como base os livros do Universo em Desencanto, enciclopédia extensiva das ciências terrenas e espirituais.
Fontes de pesquisa 7
- FERREIRA, Mauro. Jackson do Pandeiro, 'rei do ritmo' nascido há 100 anos, motiva musical de teatro e ano cultural na Paraíba. G1, Globo, 5 jan. 2019. Pop & Arte. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2019/01/05/jackson-do-pandeiro-rei-do-ritmo-nascido-ha-100-anos-motiva-musical-de-teatro-e-ano-cultural-na-paraiba.ghtml. Acesso em: 21 ago. 2019
- FREITAS, Gustavo. Chiclete com Banana - Jackson do Pandeiro. Músicas Brasileiras. 3 jul. 2012. Disponível em: https://musicasbrasileiras.wordpress.com/2012/07/03/chiclete-com-banana-jackson-do-pandeiro/. Acesso em: 23 ago. 2019
- JUNIOR, Audaci. Cabruêra e Os Fulanos apresentam o “lado obscuro” do Jackson do Pandeiro. Correio da Paraíba, João Pessoa, 20 mar. 2018. Disponível em: https://correiodaparaiba.com.br/cultura/show/cabruera-e-os-fulano-apresentam-o-lado-obscuro-de-jackson-do-pandeiro/. Acesso em: 23 ago. 2019
- JUNIOR, Nabor. Jackson do Pandeiro: Sua majestade, o rei do ritmo. O Menelick 2º Ato, São Caetano do Sul, maio 2010. Disponível em: http://www.omenelick2ato.com/musicalidades/jackson-do-pandeiro. Acesso em: 21 ago. 2019
- Jackson do Pandeiro. Rio de Janeiro: 1972. 1 dossiê fotográfico. Acervo Arquivo Nacional. Disponível em: http://sian.an.gov.br/sianex/Consulta/login.asp. Acesso em: 20 jun 2019.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. R780.981 M321e 2.ed.
- ROSCHEL, Renato. Jackson do Pandeiro. Almanaque Música. Folha da Manhã. Disponível em: http://almanaque.folha.uol.com.br/jacksondopandeiro.htm. Acesso em: 23 ago. 2019
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JACKSON do Pandeiro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa258421/jackson-do-pandeiro. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7