Amelinha
Texto
Amélia Claudia Garcia Collares Bucaretchi (Fortaleza, Ceará, 1950). Cantora. Inicia-se no canto aos 12 anos, apresentando-se em trio com a irmã e uma amiga nas festividades escolares. Aos 20 anos, muda-se para São Paulo e cursa o preparatório em Comunicação na Fundação Armando Alvares Penteado (Faap). Nessa época, apresenta-se em festivais universitários com a banda Maresia. Por intermédio do compositor Raimundo Fagner (1949), aproxima-se de Toquinho (1946) e Vinícius de Moraes (1913-1980), com os quais participa de uma temporada em Punta Del Leste, Uruguai. Nos anos 1970, apresenta-se ao lado de Fagner no Teatro Municipal de São Paulo e em programas de TV. Estreia em disco em 1974, com participação no LP Romance do Pavão Mysterioso, do cantor Ednardo (1945).
Em 1977, participa da canção “Acalanto para um Punhal”, no álbum Jardim da Infância, de Robertinho de Recife (1963). Desponta na mídia com o disco Frevo Mulher (1978), produzido pelo compositor e ex-marido Zé Ramalho (1949). Além da faixa-título, o álbum traz “Galope razante”, de Zé Ramalho, “Dia branco”, de Geraldo Azevedo (1945) e Renato Rocha (ca. 1945), “Santa Tereza”, de Fagner, “Coito das Araras”, de Cátia de França (1947). O disco conta com participações especiais de Dominguinhos (1941-2013) e Elba Ramalho (1951).
Na década seguinte, lança a canção “Foi Deus Quem Fez Você”, de Zé Ramalho, segundo lugar do Festival da Música Popular Brasileira 80 (MPB 80) e registrada no álbum Mulher Nova, Bonita e Carinhosa Faz o Homem Gemer sem Sentir Dor. A faixa-título é tema do seriado Lampião e Maria Bonita, produzido pela Rede Globo. Em 1983, grava a canção “Romance da Lua Lua”, adaptação de Flaviola do poema do espanhol Federico García Lorca (1898-1936). Em 1984, inicia nova fase musical, com produção de Mariozinho Rocha (1949) e acompanhamento do grupo Roupa Nova. Em 1989, realiza turnê com o show Saudades da Amélia, trazendo no repertório canções de Chico Buarque (1944), Tom Jobim e Caetano Veloso (1942).
Afasta-se do cenário musical devido a problemas vocais, retornando à cena em 1994, com um repertório que inclui canções de João do Vale (1934-1996) a Luiz Gonzaga (1912-1989). Em 2002, grava a coletânea Pessoal do Ceará, em parceria com Ednardo e Belchior (1946). Em 2011, lança o CD Janelas do Brasil, com músicas inéditas, como “O Silêncio”, de Zeca Baleiro (1966) e “Felicidade”, de Marcelo Jeneci (1982) e Chico César (1964).
Análise
O repertório de Amelinha destaca-se pela versatilidade. É influenciada pelas manifestações folclóricas nordestinas, como pastoris e reisados, e perpassa a música nacional e internacional popular, veiculadas pelo rádio nos anos 1960. Cantoras como a italiana Rita Pavone (1945), a francesa Édith Piaf (1915-1963) e as brasileiras Elizeth Cardoso (1920-1990) e Nara Leão (1942-1989) integram seu universo sonoro, bem como o rock dos anos 1970 e a nueva canción representada pela chilena Violeta Parra (1917-1967) e pela argentina Mercedes Sosa (1935-2009). Outros gêneros presentes em sua escuta são o baião de Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro (1919-1982), o pop rock da jovem guarda, o blues, o jazz e o swing dos estadunidenses Ray Charles (1930-2004) e Glenn Miller (1904-1944)1. Exerce importante papel na divulgação da obra de alguns músicos, como Zé Ramalho, Raimundo Fagner e Fausto Nilo (1944). Pelo timbre vocal e por divulgar compositores de sua geração, é chamada de “Gal Costa do Ceará”. Em quase 40 anos de carreira, grava compositores de diferentes perfis, como Djavan (1949), Moraes Moreira (1947), Alceu Valença (1946), Gilberto Gil (1942) e Vinícius de Moraes.
Em sua trajetória, podem-se identificar três fases. Na primeira, ligada aos compositores conterrâneos como Fagner, Robertinho de Recife e Ednardo, a escolha do repertório associa-se à criteriosa seleção de arranjadores e músicos de apoio, processo que resulta em álbuns experimentais. Esses artistas têm concepções estéticas e artísticas que transcendem fronteiras regionais, ao incorporar códigos urbanos e cosmopolitas. Amelinha atua como porta-voz desse grupo. Em seu repertório, destaca-se a densidade das composições, escolhidas por ela de maneira intuitiva, que causam estranhamento para a sociedade da época. O ápice dessa fase encontra-se no casamento com o compositor Zé Ramalho. A parceria alcança popularidade com músicas pouco convencionais, como “Frevo Mulher” – cujo compasso binário e dançante, combinando frevo e forró, torna-se sucesso imediato – e “Mulher Nova Bonita e Carinhosa…” – na qual a voz de Amelinha confere potência à letra, que enaltece os poderes eróticos femininos.
Na segunda fase, que coincide com sua ruptura com Zé Ramalho, destaca-se uma aproximação com a música popular romântica dos anos 1980. Assumindo um novo compromisso com a música, a cantora busca outras formas de expressão e opta por arranjos mais simples.
A partir dos anos 1990, inicia uma releitura de sua obra, sobretudo dos últimos trabalhos, e dá ênfase à voz, privilegiada pelo acompanhamento de violão. Embora não possua a mesma tessitura vocal para alcançar as regiões mais agudas, como nos primeiros trabalhos, sua voz ganha mais corpo e serve de veículo para a releitura da carreira, como afirma nos bastidores do seu DVD Janelas do Brasil ao Vivo (2013). A cantora sente-se à vontade para gravar a música da qual é musa: “Ai, Quem me Dera”, de Vinícius de Moraes, registrada por Clara Nunes (1943-1983), em 1976. Considerado pela cantora como o álbum que “passa a limpo a sua história musical”, seu último trabalho apresenta coerência com o conjunto da obra, permitindo à cantora assumir e ressignificar as opções estéticas.
Nota
1. Relatado por Amelinha em entrevista ao Centro Cultural Banco do Nordeste. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=5yp_4-mB9zM. Acesso em: 4 abr. 2016.
Obras 17
Fontes de pesquisa 6
- AIRES, Mary Pimentel. Terral dos sonhos: o cearense na música popular brasileira. Fortaleza: Secretaria da Cultura e do Desporto do Estado do Ceará, 1994. (Série Teses Cearenses, 6).
- AMELINHA. Entrevista concedida pela cantora ao ator e dramaturgo Ricardo Guilherme para o programa Nomes do Nordeste, produzido pelo Centro Cultural Banco do Nordeste. Fortaleza, 30 maio 2006.
- AMELINHA. Entrevista concedida pela cantora à radialista Cristina Coghi para o programa Cesta de Música. Rádio CBN. São Paulo, 1 mar. 2013. Disponível em: http://cbn.globoradio.globo.com/boletins/cesta-de-musica/2013/03/01/AMELINHA-NO-CESTA-DE-MUSICA.htm. Acesso em: 03 mar. 2013
- CASTRO, Wagner. No Tom da Canção Cearense: Do rádio e TV, dos lares e bares na era dos festivais (1963-1979). Fortaleza: Edições UFC, 2008.
- ROGÉRIO, Pedro. Pessoal do Ceará: formação de um campo e de um habitus musical na década de 1970. 2006. 140 f. Dissertação (Mestrado em Educação) – Faculdade de Educação, Universidade Federal do Ceará (UFC), Fortaleza, 2006. Disponível em: http://www.repositorio.ufc.br/bitstream/riufc/3147/1/2006_Dis_PRogerio.pdf.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
Como citar
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AMELINHA.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa357271/amelinha. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7