Zeca Baleiro
Texto
José de Ribamar Coelho Santos. (Arari, Maranhão, 1966). Compositor, cantor, instrumentista e produtor musical. Zeca Baleiro é autor de uma obra marcada pelo equilíbrio entre a experimentação, as referências aos clássicos da música popular brasileira e a levada pop. A essa miscelânea de sonoridades e propostas estéticas – como a embolada, a toada, o samba, o ska, o hip-hop, o rock e o drum'n'bass –, soma-se ainda a poesia, outro traço constitutivo de seu trabalho.
A relação de Zeca Baleiro com a música começa em casa, nas festas folclóricas no Maranhão e na farmácia de seu pai, palco de artistas itinerantes. Aprende a tocar violão na adolescência e aos 18 anos estreia no programa de rádio Contatos Imediatos, ao lado do cantor Nosly Jr., com o baião “Sem Pé nem Cabeça”, em 1984. No ano seguinte, participa do Festival Viva 85, com o samba de breque “O Hipocondríaco”. Em 1986, faz temporada em Belo Horizonte com o show Umaizum. Sua canção “Querubim” ganha o primeiro lugar no 2° Festival Universitário de Música Popular, no Maranhão.
Apresenta Os Vampiros Não Comem Lasanha, em 1991, primeiro show em São Paulo, onde inicia contato com Chico César (1964), que se torna seu amigo e parceiro musical. Entre 1994 e 1996, realiza o projeto Outras Caras, no Centro Cultural São Paulo (CCSP). Passa então a atuar como produtor musical. Anos mais tarde, produz álbuns de artistas como Antônio Vieira (compositor popular do Maranhão), Ceumar (1969) e Rita Ribeiro (1966).
Lança seu primeiro CD, Por Onde Andará Stephen Fry?, em 1997, com participação de cantores de diferentes estilos como Genival Lacerda (1931-1921) e Wanderléa (1946). Torna-se conhecido na grande mídia com a canção “Flor da Pele”, de Gal Costa (1949), em homenagem a “Vapor Barato” (1971), incluída depois no álbum Gal Costa Acústico MTV (1997).
A importância da poesia entre suas referências é identificada nas menções que faz a seus poetas preferidos, como Manuel Bandeira (1886-1968) nas canções “Bandeira” (1997), de seu primeiro álbum, e “Dindinha” (1999), esta última gravada pela cantora Ceumar. Dedica-se ainda a musicar alguns poemas de Augusto dos Anjos (1884-1914), Cruz e Sousa (1861-1898) e de poetas da geração beat.
O segundo CD, Vô Imbolá (1999), é marcado pelo sincretismo de gêneros musicais e ritmos. A música homônima “Vô Imbolá”, espécie de embolada eletrônica, com arranjos de guitarra e bateria de rock, começa com uma paráfrase do poema “Os Patos”, de Rui Barbosa (1849-1923), para, logo em seguida, fundir diferentes elementos e nomes da cultura popular brasileira com outros internacionais. Desse encontro de sonoridades surgem ainda canções como a marcha “Boi de Haxixe”, do mesmo álbum, uma homenagem ao Boi de Axixá e um de seus cantadores, Donato Alves.
A relação de sua música com outras formas de expressão artística fica evidenciada também na toada “Bienal”, em que usa um gênero oriundo notadamente da região Nordeste do país para se reportar à arte moderna. Instigado pelo tema da 23ª Bienal Internacional de São Paulo, "a desmaterialização da obra de arte no fim do milênio", em parceria com Zé Ramalho (1949), faz uma composição inusitada, que não deixa de ser uma ironia à arte e ao mercado de bens culturais no Brasil: “Pra entender um trabalho tão moderno / é preciso ler o segundo caderno / calcular o produto bruto interno / multiplicar pelo valor das contas de água luz e telefone (...)”.
Zeca Baleiro transita ainda por composições mais lentas, reunidas em trabalhos como Líricas (2000) e Baladas do Asfalto e Outros Blues (2005).
Interpreta a canção “Bicho de Sete Cabeças” na trilha sonora do filme homônimo, de 2000, da diretora Laís Bodanzky (1969). Participa, na sequência, dos álbuns Fagner (2001) e Me Leve (2002), do cantor Fagner (1949), e Intimidade (2008), de Oswaldo Montenegro (1956), e da série de songbooks produzida por Almir Chediak (1950-2003), nos volumes Chico Buarque (1999), Braguinha (2002) e João Bosco (2003).
Em 2005 inaugura, com a empresária e cantora Rossana Decelso, a Saravá Discos, selo destinado a divulgar projetos especiais, entre eles o disco póstumo de Sergio Sampaio (1947-1994), Cruel (2005), e o de Odair José (1948), Praça Tiradentes (2012).
Lança o CD Ode Descontínua para Flauta e Oboé (2005), em que trabalha poemas de Hilda Hilst (1930-2004), gravados por cantoras como Maria Bethânia (1946), Ângela Rô Rô (1949) e Rita Ribeiro. No ano seguinte revisita clássicos da MPB como “Pagode Russo” (1947), de Luiz Gonzaga (1912-1989) e João Silva, e “Disritmia” (1974), de Martinho da Vila (1938), regravados no DVD Vô Imbolá (2006).
O repertório de Zeca Baleiro transita entre ritmos nordestinos e variados gêneros urbanos, que se arranjam internamente dando origem a novas sonoridades. Soma-se a isso a influência da tradição da poesia em língua portuguesa, notadamente a brasileira, que se vê representada e serve de inspiração para diversas de suas canções.
Obras 4
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Fontes de pesquisa 4
- BALEIRO, Zeca. Site oficial do artista. Disponível em: http://zecabaleiro.locaweb.com.br/sitezeca/. Acesso em 26 dez. 2011.
- CASTELLANI, Sérgio. A música desbotada contra o tédio e a mesmice. Disponível em: http://zecabaleiro.locaweb.com.br/sitezeca/. Acesso em 26 dez. 2011.
- PALUMBO, Patrícia. Zeca Baleiro. In: Vozes do Brasil. São Paulo: DBA, 2002; p. 134-147.
- VERAS, Celso. Tudo que é demais é pouco ou a propósito de Zeca, o Baleiro. Disponível em: http://zecabaleiro.locaweb.com.br/sitezeca/. Acesso em 26 dez. 2011.
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ZECA Baleiro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa281417/zeca-baleiro. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7