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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Odair José

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 14.03.2022
16.08.1948 Brasil / Goiás / Morrinhos
Odair José de Araújo (Morrinhos, Goiás, 1948). Compositor e cantor. Como um cronista de costumes, aborda tabus e preconceitos em linguagem simples, direta e sentimental, estabelecendo um discurso que ganha milhares de ouvintes, principalmente nas camadas populares.

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Odair José de Araújo (Morrinhos, Goiás, 1948). Compositor e cantor. Como um cronista de costumes, aborda tabus e preconceitos em linguagem simples, direta e sentimental, estabelecendo um discurso que ganha milhares de ouvintes, principalmente nas camadas populares.

Cresce ouvindo modas de viola e boleros. Com amigos de escola, monta o conjunto Monft para tocar Beatles e Rolling Stones, sua primeira experiência na música. Torna-se crooner de bandas de baile aos 12 anos. Pouco depois muda-se para Goiânia, e, em 1966, vai para o Rio de Janeiro, onde toca e canta em boates suburbanas e circos. 

Estreia em disco em 1970 na gravadora CBS, pela qual lança dois álbuns e o compacto simples com a canção “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar” (1972), que explora o ambiente dos inferninhos e submundos cariocas, estabelecendo sua atuação na música como um retrato dos costumes de sua época, especialmente em ambientes marginalizados. 

Na Polydor, grava o LP Assim Sou Eu... (1972), com canções como “Esta Noite Você Vai Ter que Ser Minha” e “Pense pelo Menos em Nossos Filhos”, e o LP Odair José (1973), com as faixas “Deixe Essa Vergonha de Lado”, “Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pilula)", “Cadê Você” e “Que Saudade de Você”. 

Esses primeiros trabalhos exploram as facetas do relacionamento amoroso entre homem e mulher, falando da dissolução do casamento, da admiração pela amada, da volta do amor perdido e da perda da virgindade. Em Odair José, o compositor trata do amor por uma empregada doméstica e da surpresa ao ver a mulher amada nua nas páginas de uma revista masculina; aborda também o tema da solidão, além de questionar o controle da natalidade – campanha do governo militar – na clássica “Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)”, em parceria com a cantora Ana Maria. 

Embora sua produção esteja distante do universo da música dita engajada politicamente de seus contemporâneos, como Geraldo Vandré (1935) e Edu Lobo (1943), e seja considerada brega e alienada pelas camadas intelectuais, alcança uma grande parcela da população e é alvo da censura da ditadura militar (1964-1985)1 por causa de temas que conflitam com o conservadorismo da sociedade brasileira. Essa relação fica evidente em sua participação no Phono 73, festival de música com o elenco da gravadora Phonogram, em que canta com Caetano Veloso (1942) “Eu Vou Tirar Você Desse Lugar”. Ao mesmo tempo que é vaiado pelo público, formado majoritariamente por universitários e intelectuais, a execução da gravação do show é proibida pelo governo por causa da canção “Uma Vida Só (Pare de Tomar a Pílula)”, pois, embora não seja reconhecida como uma canção política, é parte de um ato de resistência contra imposições do regime que atacam especialmente camadas mais populares.

Em 1977, lança o disco conceitual O Filho de José e Maria. Produzido por Guilherme Araújo, é inspirado na sonoridade do guitarrista norte-americano Joe Walsh (1947) e do britânico Peter Frampton (1950), e no livro O Profeta, de Khalil Gibran (1883-1931). Na obra, Odair José explora a temática religiosa de forma não convencional: temos Jesus Cristo como personagem rebelde e central de uma ópera rock, que narra sua história a partir da separação de seus pais, José e Maria. Odair José também muda a linha estética de seu trabalho e se aproxima do rock progressivo, numa referência ao gênero musical que marca o início de sua carreira. O álbum, no entanto, não consegue a mesma projeção dos anteriores, sendo rejeitado pelos setores conservadores da crítica musical do período.

Na gravadora Continental, em 1978, retoma a temática que caracteriza seus primeiros álbuns, que aborda personagens ignorados pela sociedade, como prostitutas e empregadas domésticas, tabus para a época, como sexo e divórcio, além dos temas românticos.

Na primeira década dos anos 2000, lança apenas dois discos: um ao vivo e outro de inéditas, Só Pode Ser Amor (2006), o 31º da carreira. Com o lançamento do livro Eu Não Sou Cachorro, Não - Música Popular Cafona e Ditadura Militar (2002), do jornalista Paulo Cesar de Araújo, sua obra é revisitada no disco Vou Tirar Você Desse Lugar - Tributo a Odair José (2005) e ganha versões e interpretações de grupos como Pato Fu, Picassos Falsos, Mundo Livre S/A e Mombojó.

Odair José representa de maneira ousada e única os costumes e os dilemas amorosos de parcelas expressivas da sociedade brasileira, tornando-se, desde o início de sua carreira nos anos 1970, um dos principais compositores e cantores do gênero brega romântico no país.

Nota

1. Também denominada de ditadura civil-militar por parte da historiografia com o objetivo de enfatizar a participação e apoio de setores da sociedade civil, como o empresariado e parte da imprensa, no golpe de 1964 e no regime que se instaura até o ano de 1985.

Fontes de pesquisa 12

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  • ARAÚJO, Paulo Cesar de. Eu Não Sou Cachorro, Não - Música Popular Cafona e Ditadura Militar. 3ª ed. - Rio de Janeiro: Record, 2002.
  • GAVIN, Charles; SOUZA, Tárik de; CALADO, Carlos; DAPIEVE, Arthur. 300 Discos Importantes da Música Brasileira. São Paulo: Ed. Paz e Terra, 2008.
  • JOSÉ, Odair. Entrevista concedida a Alexandre Matias, da Revista Bizz. Cotia, SP, 2006. Disponível em: < http://www.gardenal.org/trabalhosujo/2006/08/oj_silva.html> Acesso em: 24.out.2009.
  • JOSÉ, Odair. Odair José Mostra o "Outro Lado" da MPB. Entrevista concedida pelo artista a Ronaldo Evangelista, da Folha de S. Paulo. São Paulo: 03.mar.2006. Disponível em: http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/ult90u58384.shtml. Acesso em 10.dez.2009.
  • JOSÉ, Odair. Odair José Volta ao Disco. Entrevista concedida a Elias Nogueira. s/d. Disponível em http://www.jovemguarda.com.br/entrevista-odair-jose.php. Acesso em 05.dez.2009.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MEMÓRIA Musical. Site do Instituto Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: http://www.memoriamusical.com.br. Acesso em: 24.out.2009.
  • ODAIR José. Em: Memória da Ditadura. Disponível em: http://memoriasdaditadura.org.br/artistas/odair-jose/. Acesso em: 28 jun. 2021.
  • ODAIR José. In: Dicionário Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Site mantido pelo Instituto Cultural Cravo Albin. Rio de Janeiro, s/d. Disponível em: <http://www.dicionariompb.com.br> Acesso em: 10.dez.2009.
  • SEDANO, Eder Aparecido Ferreira. Odair José: “música brega”, censura e politização popular na década de 1970. In: ANPUH-BRASIL - SIMPÓSIO NACIONAL DE HISTÓRIA, 30., 2019, Recife. Anais… Recife: ANPUH, 2019. Disponível em: https://www.snh2019.anpuh.org/resources/anais/8/1564627352_ARQUIVO_Artigo-Anpuh2019certo.pdf. Acesso em: 28 jun. 2021.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 1: 1901-1957). São Paulo: Editora 34, 1997. (Coleção Ouvido Musical).
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).

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