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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Geraldo Vandré

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 17.10.2022
12.09.1935 Brasil / Paraíba / João Pessoa
Reprodução fotográfica Correio da Manhã/Acervo Arquivo Nacional

Geraldo Vandré, 1968

Geraldo Pedrosa de Araújo Dias (João Pessoa PB 1935). Compositor e cantor. Passa a infância e a adolescência na Paraíba e em Pernambuco, onde entra em contato com a música tradicional nordestina. Nos anos 1950, muda-se para o Rio de Janeiro para estudar e dedicar-se à carreira de cantor de rádio. Grava um disco no qual imita Orlando Silva, Franc...

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Biografia

Geraldo Pedrosa de Araújo Dias (João Pessoa PB 1935). Compositor e cantor. Passa a infância e a adolescência na Paraíba e em Pernambuco, onde entra em contato com a música tradicional nordestina. Nos anos 1950, muda-se para o Rio de Janeiro para estudar e dedicar-se à carreira de cantor de rádio. Grava um disco no qual imita Orlando Silva, Francisco Alves e Carlos José - que o inspira na criação de seu primeiro nome artístico, Carlos Dias.Ingressa no curso de direito no Rio de Janeiro e no movimento estudantil. Integra o Centro Popular de Cultura (CPC) e conhece Carlos Lyra, seu primeiro parceiro de composição. Em 1961, com o nome artístico Geraldo Vandré, grava, em 78 rpm, Quem Quiser Encontrar o Amor, parceria com Carlos Lyra. Lança seu primeiro LP, Geraldo Vandré, em 1964.

No ano seguinte, faz a trilha sonora de A Hora e a Vez de Augusto Matraga, filme com direção de Roberto Santos, e participa do 1º Festival Nacional de Música Popular Brasileira, da TV Excelsior, interpretando Sonho de um Carnaval, de Chico Buarque, e concorre como autor de Hora de Lutar. Em 1966, fica em primeiro lugar nos festivais da TV Excelsior e da TV Record, respectivamente com Porta-Estandarte, parceria com Fernando Lona, e Disparada, com Theo de Barros, instrumentista que o acompanha no grupo Quarteto Novo, formado por Theo de Barros (viola), Heraldo do Monte (violão), Hermeto Pascoal (flauta) e Airto Moreira (percussão). O sucesso rende-lhe em 1967 um programa na TV Record, que fica no ar por apenas um mês.

No 3º Festival Internacional da Canção da Record, em 1968, conquista o público com Caminhando ou Pra Não Dizer que Não Falei de Flores. Essa é a sua última apresentação antes de ter sua obra censurada e seguir para o exílio. Depois de viver no Chile e em vários países europeus, onde realiza alguns shows, fixa residência em Paris. Retorna ao Brasil em 1973, depois de ser forçado a retratar-se publicamente. Nesse ano lança seu último álbum, Das Terras de Benvirá.

Depois de décadas de silêncio, Vandré reaparece em 1995 com uma canção que exalta a Força Aérea Brasileira (FAB), chamada Fabiana. A nova posição em relação às Forças Armadas reforça as suspeitas de que ele teria sido torturado, sofrendo sequelas psicológicas. Dois anos mais tarde, o conjunto Quinteto Violado lança o álbum Quinteto Canta Vandré, com 12 composições, incluindo Disparada e Pra Não Dizer que Não Falei das Flores.

As canções de Geraldo Vandré são gravadas por dezenas de intérpretes entre os quais Carlos Lyra (também parceiro das músicas), com Aruanda, em 1963, e Quem Quiser Encontrar o Amor, em 1965; Baden Powell, A Maré Encheu, em 1965, Canção do Amor sem Fim (parceria com Alaíde Costa), em 1963; Jair Rodrigues, com Disparada, Fica Mal com Deus, em 1966, Arueira e Modinha, em 1967, Pra Não Dizer que Não Falei das Flores (Caminhando), em 1968; Elis Regina, com Samba de Mudar (parceria com Baden Powell), em 1966; Luiz Gonzaga, Fica Mal com Deus, em 1971, e Pra Não Dizer que Não Falei das Flores, em 1980; Vinicius de Moraes e Dorival Caymmi, Aruanda, em 1966; Quinteto Violado, Maria Rita, em 1981, Na Terra como no Céu, em 1977, O Plantador, em 1980; Rolando Boldrin, Como um Homem Perdeu Seu Cavalo (parceria com Hilton Accioli), em 1990; Nara Leão, com Aruanda, em 1966, executada no espetáculo Liberdade, Liberdade, de Flávio Rangel e Millôr Fernandes. Disparada é gravada também por Zizi Possi, em 1999; Yamandu Costa, em 2003; e Hamilton de Holanda, em 2005.

 

Comentário Crítico

Geraldo Vandré é um dos mais importantes representantes do que é conhecido como a canção engajada dos anos 1960, que marca os festivais organizados pelos canais de televisão brasileiros. Como outros artistas engajados de sua geração, muitos dos quais envolvidos com o movimento estudantil. Vandré compõe canções que denunciam as mazelas sociais. Em um contexto de restrição da liberdade de expressão e da cassação de direitos políticos, efetuadas pelo regime militar estabelecido no Brasil a partir de 1964, suas composições veiculam um discurso de esperança de uma sociedade melhor para o povo oprimido.

Ele inicia a carreira com influência da bossa nova. Porém, além de gravar canções de temática do Amor, Sorriso e a Flor, como Sonho de Amor e Paz (1961), Samba em Prelúdio (1961), ambas de Baden Powell e Vinicius de Morais, Você que Não Vem (1962), Quem Quiser Encontrar o Amor (1961), parceria com Carlos Lyra, faz composições com temáticas sociais, como a toada Canção Nordestina e o baião Fica Mal com Deus, ambas de autoria própria. Seu primeiro LP, lançado em 1964, contém algumas dessas músicas gravadas em 78 rpm, e apresenta marcas da estética bossa-novista, como a forma contida de cantar e a presença do trio de jazz formado por piano, bateria e contrabaixo. Nesse disco, emprega também um tipo de escala musical medieval, característica do Nordeste brasileiro.

A incorporação de elementos musicais nordestinos não é prática exclusiva de Vandré. No entanto, ele se diferencia dos demais compositores por introduzir, além de escalas musicais modais, instrumentos geralmente utilizados por músicos regionais, caso da viola caipira e de diversos instrumentos de percussão como a tumbadora e o triângulo, unidos de maneira inédita com o trio de jazz. Para isso, Vandré conta com a ajuda do grupo Quarteto Novo.

No 2º Festival de Música Popular Brasileira da TV Record, realizado em 1966, a contribuição dos instrumentistas do Quarteto Novo é notável. Na ocasião, Disparada é classificada em primeiro lugar. Interpretada pelo cantor Jair Rodrigues, tem o acompanhamento de uma queixada de burro, instrumento de percussão tocado por Airto Moreira, que evoca imagens da seca nordestina. A canção - uma moda de viola - narra a transformação de um sertanejo que, de gado controlado pelo fazendeiro, passa a boiadeiro e a cavaleiro de um "reino que não tem rei". Combina imagens relacionadas ao passado medieval e o sertão nordestino, criando uma metáfora da tomada de consciência pelo povo de sua missão histórica de lutar pelo poder.

Esse tema retorna no LP Canto Geral, de 1968. Na contracapa do disco, Vandré exprime o desejo de fazer-se instrumento de comunicação e conscientização do povo e da urgência de se repartir a propriedade. Na faixa de abertura, Terra Plana, profere um discurso no qual afirma que sua motivação para cantar vem da necessidade de combater "o poder que cresce sobre a pobreza e faz dos fracos riqueza". Nas músicas desse disco, o eu lírico apresenta-se como um porta-voz destemido que tem sua trajetória pessoal combinada com uma acinzentada história de opressão, miséria e desolação.

Em Canto Geral, Vandré radicaliza o discurso, como se pode observar no título de canções como Guerrilheira (parceria com Hilton Accioli). Esse tom permanece na exaltada Cantiga Brava: "O terreiro lá de casa/ não se varre com vassoura/ varre com ponta de sabre/ bala de metralhadora". É esse o tom de um disco integrado pelos sons da queixada de burro, do reco-reco, do triângulo, do violão e da viola e que, por essa razão, talvez possa ser classificado como uma obra regional ou sertaneja.

O arranjo pouco elaborado dessas canções, comparado com o de seus primeiros discos, é ainda mais simples na guarânia Caminhando ou Pra Não Dizer que Não Falei de Flores. No dia de apresentação no 3º Festival Internacional da Canção da TV Record, a melodia que dá notoriedade a Vandré é acompanhada apenas por seu violão, que, como em grande parte de suas composições, executa apenas dois acordes.

Como outros autores engajados, Vandré pretende com isso facilitar a compreensão da mensagem. Utilizando uma linguagem direta, Caminhando apresenta a defesa da igualdade como base da condição humana, questionando, de um lado, o pacifismo ("Acreditam nas flores/ vencendo o canhão") e, de outro, o poder militar ("Há soldados armados/ amados ou não/ quase todos perdidos/ de armas na mão"). Na última estrofe projeta "a certeza na frente/ a história na mão", terminando com o refrão que convida à ação: "Vem, vamos embora/ que esperar não é saber/ quem sabe faz a hora/ não espera acontecer".

Para seu desgosto, as previsões são erradas. Depois do exílio forçado, o Brasil vira palco de repressão sangrenta contra os opositores do regime militar, que se mantém no poder por 20 anos.

Obras 5

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Espetáculos 4

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Fontes de pesquisa 12

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  • "A Tropicália machucou a MPB", diz Airto Moreira. Folha de S. Paulo, São Paulo, 27 jun. 2003. Ilustrada. Disponível em: < http://www1.folha.uol.com.br/fsp/ilustrad/fq2706200319.htm >. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • A INCUBADEIRA. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1959]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro de Arena.
  • FRASER, Etty. Etty Fraser. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Não Catalogado
  • INSTITUTO MOREIRA SALES. Acervo de música. Disponível em: <http://ims.uol.com.br/>. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • KFURI, Maria Luiza. Discos do Brasil. Disponível em: <http://www.discosdobrasil.com.br/discosdobrasil/indice.htm>. Acesso em: 12 jul. 2010.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. R780.981 M321e 2.ed.
  • Programa do Espetáculo - Campeões do Mundo - 1980. Não catalogado
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • SOUZA, Tarik. O som nosso de cada dia. Porto Alegre: LP&M, 1983.
  • SOUZA, Tárik. Geraldo Vandré. São Paulo: Abril Cultural, 1971. 1 disco de vinil, 33 rpm, estéreo. (Coleção História da Música Popular Brasileira, v. 34).
  • VANDRÉ, Geraldo (Compositor). Canto Geral. São Paulo: Odeon, 1968. 1 disco de vinil, 33 rpm, estéreo.

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