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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Robertinho de Recife

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2024
05.11.1963 Brasil / Pernambuco / Recife
Carlos Roberto Cavalcanti Albuquerque (Recife, 1963). Instrumentista, compositor, arranjador, produtor musical. Aos 10 anos, é atropelado e, durante a recuperação, descobre a guitarra em programas de TV. Ganha o instrumento do avô, e sua mãe, cantora, ensina-lhe percepção musical. Aprende a tocá-lo de ouvido e, aos 12 anos, forma o grupo Os Ermi...

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Biografia

Carlos Roberto Cavalcanti Albuquerque (Recife, 1963). Instrumentista, compositor, arranjador, produtor musical. Aos 10 anos, é atropelado e, durante a recuperação, descobre a guitarra em programas de TV. Ganha o instrumento do avô, e sua mãe, cantora, ensina-lhe percepção musical. Aprende a tocá-lo de ouvido e, aos 12 anos, forma o grupo Os Ermitões. Aos 15, apresenta-se profissionalmente com a banda de baile Os Moderatos. Com 17 anos, parte para os Estados Unidos e participa, por curto período, do grupo de country music Candy Shoestring. Descoberto em uma jam session, é convidado a atuar como guitarrista do grupo Watch Pocket.

Volta a Recife, em 1973, e ingressa em um seminário batista, onde estuda teologia e música sacra. Participa da banda Ala D’Eli, incorporando o spiritual – música religiosa negra do Sul dos Estados Unidos, matriz do blues e do gospel. Depois de uma apresentação na igreja, é convidado para participar da gravação do LP Raimundo Fagner (1976), no qual toca guitarra, viola (doze cordas e portuguesa) e manola1.

Em 1977, lança o primeiro trabalho solo, Jardim da Infância, com parcerias de Fausto Nilo (1944) e Herman Torres (1958) e participações de Amelinha (1950) e Fagner (1949). Depois da morte do segundo filho, decide abandonar a música. Retoma a carreira por convite de Fagner para gravação de “Revelação” [Clodo (1951) e Clésio], sucesso do álbum Quem Viver Chorará (1978). No mesmo ano, lança seu segundo LP solo, Robertinho no Passo, com algumas composições de Hermeto Pascoal (1936). Em Satisfação (1981), conta com parcerias de Capinam (1941), Fausto Nilo e Emilinha, com quem grava um LP no ano seguinte. No LP Ah, Robertinho do Mundo (1983), assina “Baby Doll de Nylon” com Caetano Veloso (1942).

No final dos anos 1980, cria o grupo Yahoo e a banda Metalmania, que dá nome ao LP de 1984. Em 1990, lança Rapsodia Rock, com composições próprias, como “Vôo de Ícaro”, e adaptações de “Bolero”, do francês Maurice Ravel (1875-1937), e “Noturno n. 10”, do polonês Frédéric Chopin (1810-1849). Atua como produtor musical de Zé Ramalho (1949), Elba Ramalho (1951), Rogério Skylab (1956), Pepeu Gomes (1952), Geraldo Azevedo (1945), e na instrumentação dos discos Gal Tropical (1979), de Gal Costa (1945); O Azul e o Encarnado (1977), de Ednardo (1945); e Orquídea Negra (1983), de Zé Ramalho. Em 2014, depois de se recuperar de um infarto, lança Back for More, retomando o trabalho com a banda Metalmania, com nova formação, após um intervalo de trinta anos.

Análise

Considerado um dos expoentes da guitarra no Brasil, Robertinho de Recife participa de importantes movimentos da música popular da cena underground recifense. Atua no período desde década de 1970 até a divulgação do heavy metal no país, passando pela fixação da música pop dos anos 1980.

O início da carreira é influenciado pelo rock britânico de Beatles e Rolling Stones, e incorpora o repertório de bandas como Jefferson Airplane, Crosby, Stills, Nash & Young e do guitarrista norte-americano Jimi Hendrix (1942-1970). Os bailes da cidade lhe servem de escola, permitindo que se aperfeiçoe no instrumento e alavanque sua carreira no exterior.

A atuação na cena “udigrudi” (underground) recifense dá-se pela afinidade do virtuose com músicos como Marconi Notaro Flaviola e Lula Côrtes (1949-2011). Participa do disco Satwa (1973), de Lailson de Holanda Cavalcanti e Lula Côrtes, e sua execução solo na faixa “Blues do Cachorro Muito Louco” é considerada marco inaugural da música psicodélica no Recife. Outra notável gravação é o disco Marconi Notaro: No Sub-Reino dos Metazoários (1973), com Lula Côrtes, Geraldo Azevedo e Zé Ramalho. O músico faz experimentações com a cítara, fundindo sonoridades orientais ao rock progressivo, além de tocar banjo, viola portuguesa e outros instrumentos.

Reunindo técnicas estilísticas do rock, jazz e funk, Robertinho contribui, ao lado de Pepeu Gomes e Armandinho Macedo (1953), para a formação de uma “escola” brasileira de guitarra, que também inclui instrumentos acústicos, como o violão e o bandolim, e a escuta da música brasileira de décadas anteriores. O compositor, entretanto, posiciona-se contra o rótulo “guitarra brasileira”, defendendo a multiplicidade no fazer musical para além de fronteiras nacionalistas.

Essa concepção estética é firmada desde o primeiro disco solo, Jardim da Infância. Composições como “Sinais” trazem a fusão de ritmos regionais com jazz e rock, conciliando zabumba e triângulo com órgão e guitarra elétrica nos arranjos. Tão visceral quanto o título é a interpretação do músico em “Acalanto Para um Punhal”, cuja instrumentação remete à música ibérica. Em “Dança Imaginária”, canção do LP E Agora pra Vocês... Loucos Swingues Tropicais (1979), com participação de Gal Costa e Elba Ramalho, o compositor harmoniza uma miscelânea de gêneros em uma única faixa. As diferentes partes da faixa iniciam-se com um fraseado de funk, passa por solos de guitarra do hard rock, para, no terceiro movimento, resolver-se em um groove, levado até o final da música.

Atento às tendências do mercado fonográfico, Robertinho identifica fórmulas de sucesso para comercialização de discos. Atua como produtor de composições voltadas ao público infantil, gravadas por apresentadoras de televisão, como Mara Maravilha (1968) e Xuxa (1963). Cria também o grupo Yahoo, cuja estratégia é regravar versões em português de canções internacionais de sucesso, como “Mordida de Amor” (1988), versão de “Love Bites”, do grupo Def Leppard, e “Anjo” (1989), versão de “Angel”, do Aerosmith.

No disco Metalmania (1984), o heavy metal serve de base para sua criação. Embora a sonoridade destoe dos trabalhos anteriores, esse disco funciona como laboratório de pesquisas técnicas do músico. Além disso, ajuda a dar visibilidade ao gênero, que ganha projeção internacional a partir dos anos 1990 – período em que o Robertinho se afasta dos palcos para se ocupar da produção musical de outros artistas. Em seu retorno ao trabalho autoral, com o álbum Back for More (2014), retoma as características instrumentais que marcam a sonoridade da banda Metalmania nos anos 1990, tendo a guitarra como principal instrumento.

Notas

1 Instrumento de cordas rusticamente eletrificado, utilizado por cantadores de feiras nordestinas.

Obras 5

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Fontes de pesquisa 7

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  • ESSINGER, Silvio. Após superar fratura e infarto, Robertinho de Recife volta com o Metal Mania. O Globo, Rio de Janeiro, 15 dez. 2014. Disponível em: < http://oglobo.globo.com/cultura/musica/apos-superar-fratura-infarto-robertinho-de-recife-volta-com-metal-mania-14831929 >. Acesso em: 26 abr. 2015.
  • LUNA, João Carlos de O. O Udigrudi da Pernambucália: história e música no Recife (1968-1976). 205 p. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Pernambuco (Ufpe), Recife, 2010.
  • MIRANDA NETO, Affonso Celso de. A Guitarra Elétrica de Pepeu Gomes: um estudo estilístico. 144p. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Rio de Janeiro, 2006.
  • OLIVEIRA, Guilherme Menezes Cobelo e. Pelo Vale de Cristal: Udigrudi e contracultura em Recife (1972-1976). 91p. Monografia (Graduação em História) – Universidade de Brasília (UnB), Brasília, 2011.
  • ROBERTINHO de Recife. Entrevista concedida ao site Jovem Guarda, em 2 set. 1996. Disponível em: < http://www.jovemguarda.com.br/entrevista-robertinho-do-recife.php >. Acesso em: 20 ago. 2013.
  • ROBERTINHO de Recife. Site oficial do artista. Disponível em: < http://www.robertinhoderecife.com.br/ >. Acesso em: 20 ago. 2013.
  • TELES, José. Do frevo ao manguebeat. São Paulo: Editora 34, 2000. (Coleção Todos os Cantos).

Como citar

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