Pepeu Gomes
Texto
Biografia
Pedro Aníbal de Oliveira Gomes (Salvador, Bahia, 1952). Guitarrista, compositor, cantor, produtor, arranjador musical. Filho de uma professora de piano e de um músico de baile, aprende a tocar violão de ouvido. Aos 11 anos, sob influência da Jovem Guarda, forma sua primeira banda, Los Gatos, na qual toca contrabaixo.
Estreia aos 17 anos como baixista da banda Os Minos, com a qual lança dois compactos simples com composições em parceria com o guitarrista da banda, Luciano Souza. Depois forma, com seus irmãos Jorginho (1955) e Carlinhos Gomes, a banda Os Leif’s, convidada por Gilberto Gil (1942) para tocar em seu show Barra 69, com Caetano Veloso (1942), antes do exílio dos dois músicos. Na época, Pepeu toma contato com a coletânea Smash Hits, de Jimi Hendrix (1942-1970), e assume a guitarra como seu instrumento principal.
Passa a acompanhar Moraes Moreira (1947) e tornam-se parceiros musicais. Com Paulinho Boca de Cantor (1946), Luiz Galvão (1937) e Baby Consuelo [atualmente Baby do Brasil (1952)], montam o musical Desembarque dos Bichos Depois do Dilúvio Universal. Em 1970, integra o conjunto Novos Baianos, na reapresentação do espetáculo em São Paulo e no 5o Festival da Música Popular da TV Record, no qual defendem a música “De Vera”. No mesmo ano, gravam o primeiro disco, É Ferro na Boneca.
Com os Novos Baianos, estreia temporada no teatro Cimento Armado (depois Tereza Rachel), no Rio de Janeiro, abrindo para o show de Gal Costa (1945), Gal – Fatal. Substitui o guitarrista Lanny Gordin (1951) em alguns shows da turnê e participa da gravação do disco ao vivo Fa-Tal – Gal a Todo Vapor (1971). No ano seguinte, é incorporado oficialmente aos Novos Baianos, dentro do qual forma o grupo A Cor do Som, com Jorginho, Baixinho e Dadi (1952), para cuidar do instrumental do conjunto.
Em 1978 inicia carreira solo, gravando o disco instrumental Geração do Som. No mesmo ano, toca com Gilberto Gil no Montreux Jazz Festival, na Suíça. Estreia como cantor no disco Na Terra a Mais de Mil (1979). Volta a participar do festival em 1980, lançando em disco – Pepeu Gomes Ao Vivo. Recebe o primeiro disco de ouro em 1981, graças ao sucesso da faixa “Eu Também Quero Beijar” [parceria com Moraes Moreira e Fausto Nilo (1944)].
Em 1983, grava o disco Masculino e Feminino, nos Estados Unidos, com arranjos do maestro Ronnie Foster (1950). Em 1985 lança o disco Energia Positiva e participa do Rock In Rio. No mesmo ano, toca em Montreux pela terceira vez, dividindo uma jam com o guitarrista mexicano Carlos Santana (1947). No final dos anos 1980, volta-se para a música instrumental, fazendo releitura de chorinhos na guitarra. Participa de festivais de jazz pelo mundo todo e lança, em 1989, o instrumental On The Road.
Na década de 1990, lança dois discos com Moraes Moreira, em uma turnê que termina no Rock in Rio II. Faz sucesso com a música “Sexy Yemanjá”, parceria com Tavinho Paes (1955), trilha sonora da novela Mulheres de Areia (1993) da TV Globo. Reúne-se com os ex-integrantes dos Novos Baianos para uma turnê e gravação do álbum Infinito Circular (1997).
Comemorando 25 anos de carreira solo, lança o CD e DVD De Espírito em Paz – Ao Vivo (2004). Parte de sua discografia é remasterizada e lançada em 2011, além de um disco inédito, intitulado Eu Não Procuro o Som, gravado ao vivo em 1979. Em plena atividade, divulga o CD instrumental Alto da Silveira, lançado pelo selo Sesc em 2015.
Análise
A versatilidade é uma das marcas do trabalho de Pepeu Gomes. Autodidata e polivalente em instrumentos de corda, sua formação compreende as músicas executadas nas rádios durante sua infância, com influência dos choros de Waldir Azevedo (1923-1980), Jacob do Bandolim (1918-1969), Pixinguinha (1897-1973), Canhoto da Paraíba (1926-2008), passando pelas baladas da Jovem Guarda, além dos trios elétricos soteropolitanos, idealizados pela dupla Dodô e Osmar.
A estas sonoridades, funde o rock psicodélico, funk, jazz e blues, estabelecendo diálogos entre a música acústica e elétrica. O início como guitarrista tem como principal inspiração Jimi Hendrix, o que é perceptível na gravação da música “Dê Um Rolê” (Moraes Moreira e Galvão) por Gal Costa e no compacto Novos Baianos e Baby Consuelo no Final do Juízo, ambos de 1971. Neles, Pepeu adota frases e licks1 de blues no estilo do guitarrista norte-americano. O ídolo é homenageado por Pepeu na balada blues “Todo Amor ao Jimi”, no álbum Ao Vivo em Montreux (1980).
Fugindo à imitação de guitarristas de renome, concebe uma maneira própria de tocar o instrumento. Neste sentido, a participação nos Novos Baianos tem papel fundamental. O grupo desponta num cenário pós-tropicalista, fazendo diversas colagens rítmicas e melódicas. É no conjunto que o multinstrumentista conhece as propostas musicais de João Gilberto (1931) e Paulinho da Viola (1942), incorporando ao repertório e às harmonizações da música popular brasileira a levada do rock, que se mantém em seus trabalhos individuais.
A partir de Acabou Chorare (1972), segundo disco dos Novos Baianos, a guitarra de Pepeu ganha mais espaço na instrumentação e sua função de arranjador cresce. Além dela, Pepeu executa craviola em faixas como “Brasil Pandeiro” [Assis Valente (1911-1958)], “Besta é Tu” (parceria sua com Moraes e Galvão), e “Preta Pretinha” (Moraes Moreira e Galvão), cujo solo inclui frases melódicas de blues. Já em “Tinindo Trincando”, que mistura rock com baião, a guitarra de Pepeu reaparece, mesclando distorções ao ritmo suingado. O instrumento sobressai nas faixas “Mistério do Planeta”, cujo arranjo remete ao rock progressivo, e “Um Bilhete pra Didi”, espécie de baião eletrificado, que faz a ponte entre a música regional e o rock internacional.
Com a saída de Moraes Moreira dos Novos Baianos, em 1974, Pepeu assume a função de diretor musical, o que explica uma presença maior da guitarra nos arranjos, até o fim do conjunto, em 1979. No LP Praga de Baiano (1977), o formato adotado é o de um trio elétrico, com dois canais de guitarra baiana. No álbum anterior, Caia na Estrada e Perigas Ver (1976), o instrumentista faz uma releitura do chorinho “Brasileirinho” (Waldir Azevedo) e do “Samba do Ziriguidum” [Jadir de Castro (1927) e Luís Bittencourt (1915), gravado anteriormente por Jackson do Pandeiro], o que evidencia a importância destes músicos em sua formação.
O artista exerce também o papel de luthier, chegando a elaborar instrumentos específicos para alcançar estes diferentes efeitos, como o guibando – mistura de guitarra com bandolim – e o violicho, que alia a sonoridade do violão a do violino. Com estas invenções, ele une técnicas distintas em um único instrumento, permitindo a mudança de afinação e timbre na mesma música em apresentações ao vivo.
É empunhando uma de suas invenções, o guibando, que ele apresenta seu primeiro trabalho solo, Geração do Som (1978), no qual assina a grande maioria das composições. Busca aproximar a técnica de tocar guitarra à do bandolim, desenvolvendo um modelo que favorece o fraseado melódico e a acentuação rítmica do samba e do choro. Graças a sua originalidade, é requisitado em produções de outros artistas, como nos discos Alto Falante, de Moraes Moreira; Cauim de Ednardo (1945) – no qual cumpre também o papel de arranjador –, e na balada rock “Jardim das Acácias”, faixa do disco A peleja do Diabo com o dono do céu (1979), de Zé Ramalho (1949).
Em seu álbum seguinte, Na Terra a Mais de Mil (1979), o guitarrista envereda por uma vertente mais pop, que marca seus trabalhos nos anos 1980, unindo música instrumental com canções de apelo popular. Conta com parcerias de Gilberto Gil (na faixa “Meu Coração”), Caetano Veloso (“Malacaxeta II”), Moraes Moreira (“Guitarra Cigana”) e Baby do Brasil, à época sua esposa (“Forró do Ano 2000”). Também neste disco inicia a parceria, na produção e nos arranjos, com Luciano Alves (1956), ex-tecladista dos Mutantes, que permanece até os anos 1990.
Dentro deste segmento pop encontram-se canções como “O Mal é o que Sai da Boca do Homem” (1980) – que inicia com o polêmico verso “Você pode fumar baseado” –, parceria com Baby do Brasil e Galvão; “Eu Também Quero Beijar” (1981), com Fausto Nilo e Moraes Moreira; e “Masculino e Feminino” (1983), com Baby do Brasil. Acompanhando a tendência de instrumentação dos anos 1980, a última apresenta teclados, sintetizadores e bateria eletrônica, misturado ao arranjo de metais com o baixo, conferindo sonoridade funk à introdução.
O compositor transita também pelo samba-funk e pop rock, com influências de Tim Maia (1942-1998). Isto aparece em composições como “Fazendo Música, Jogando Bola” (com Baby do Brasil), e em arranjos como o do choro “Delicado” (de Waldir Azevedo), cujo acompanhamento é executado em funk com intervenções improvisadas de teclado e guitarra distorcida na segunda parte.
A permanência de sua atividade musical durante quatro décadas revela a plasticidade de sua obra, que também abrange a lambada nos anos 1990 (em parceria com Moraes Moreira) e a execução de um álbum com releituras de seus sucessos em roupagem acústica. Sua maior contribuição à música popular é como guitarrista, sobretudo pela fusão que estabelece entre rock, choro e samba, em faixas “A Menina Dança” (Moraes e Galvão), transformada por Pepeu em um samba-rock, com seus improvisos na guitarra elétrica. Em sua fase solo, esta assimilação ocorre em versões de sambas de compositores da “velha guarda”, como “Odete” [Dunga (1907-1991) e Herivelto Martins (1912-1992)] e “Samba da Minha Terra” [Dorival Caymmi (1914-2008)].
Notas
1 Trechos curtos ou padrões melódicos repetidos em uma determinada música para marcação ou improvisação.
Obras 2
Fontes de pesquisa 4
- ALVES, Luciano (Coord.). O melhor de Pepeu Gomes: melodias e cifras originais para guitarra, violão e teclado, com tablatura. São Paulo: Irmãos Vitale, 1998.
- BAHIANA, Ana Maria. Nada será como antes: MPB anos 70 - 30 anos depois. Rio de Janeiro: Editora Senac, 2006.
- MIRANDA NETO, Affonso Celso de. A guitarra cigana de Pepeu Gomes: um estudo estilístico. 2005. Dissertação (Mestrado em Música) – Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2006.
- PEPEU Gomes. Site oficial do artista. Disponível em: < http://www.pepeugomesoficial.com >. Acesso em: 2 de nov. de 2015.
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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PEPEU Gomes.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa359609/pepeu-gomes. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7