Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Toninho Horta

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.10.2022
02.12.1948 Brasil / Minas Gerais / Belo Horizonte
Antônio Maurício Horta de Melo (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1948). Violonista, guitarrista, compositor, arranjador e cantor. Quinto filho de uma família de seis irmãos, tem contato com a música desde cedo. Seu avô materno, João Horta, um funcionário da estrada de ferro Central do Brasil, é também maestro e compositor, autor de valsas, modinhas...

Texto

Abrir módulo

Antônio Maurício Horta de Melo (Belo Horizonte, Minas Gerais, 1948). Violonista, guitarrista, compositor, arranjador e cantor. Quinto filho de uma família de seis irmãos, tem contato com a música desde cedo. Seu avô materno, João Horta, um funcionário da estrada de ferro Central do Brasil, é também maestro e compositor, autor de valsas, modinhas e peças sacras. Geralda Horta, sua mãe, é quem lhe ensina os primeiros acordes no violão.

A influência decisiva para sua formação musical, no entanto, vem do irmão Paulo Horta, 15 anos mais velho e contrabaixista profissional desde os 17. Por intermédio dele, Toninho conhece os músicos que se apresentam na noite de Belo Horizonte em bares, boates e clubes de baile, no princípio da década de 1960. Um deles é o violonista e guitarrista Chiquito Braga (1936), que se torna sua primeira referência como instrumentista. 

Na mesma época, começa a compor e aproxima-se de uma geração mais jovem de músicos, entre eles Milton Nascimento (1942), Wagner Tiso (1945) e os irmãos Borges – Marilton (1943), Telo (1958), Márcio (1946) e (1952). Toninho classificaMaria Madrugada”, parceria com sua prima Júnia Horta, e “Nem é Carnaval”, com Márcio Borges, no 2o Festival Internacional da Canção (FIC), realizado em 1967, no Rio de Janeiro. A partir daí, ganha projeção como compositor e agrega a seu grupo de parceiros os letristas Fernando Brant (1946-2015) e Ronaldo Bastos (1948). Suas canções passam a integrar o repertório de intérpretes como Joyce (1948), Alaíde Costa (1935), Nana Caymmi (1941), Leny Andrade (1943) e MPB4, grupo vocal formado nos anos 1960.

Paralelamente, desenvolve carreira de instrumentista, acompanhando Dominguinhos (1941-2013), Jackson do Pandeiro (1919-1982), Gal Costa (1945), Maria Bethânia (1946), Elis Regina (1945-1982) e Tom Jobim (1927-1994). Em gravações e apresentações, colabora como arranjador em trabalhos de Milton Nascimento, a exemplo dos discos Clube da Esquina (1972) e Milagre dos Peixes – Ao Vivo (1974).

Em 1973, lança o LP Beto Guedes, Danilo Caymmi, Novelli e Toninho Horta. No ano seguinte, participa de uma das formações do grupo Som Imaginário, ao lado de Wagner Tiso (1945), Nivaldo Ornelas (1941), Robertinho Silva (1941) e Luiz Alves (1944).

Por duas vezes (1977 e 1988), figura entre os dez melhores guitarristas do mundo na lista do periódico inglês Melody Maker. Seu primeiro álbum solo, Terra dos Pássaros, é lançado em 1980. 

Em 1990, transfere-se para os Estados Unidos, onde vive por nove anos, período em que investe na carreira internacional. Apresenta-se em diversos países, especialmente nos da Europa e no Japão. No exterior, em palcos ou estúdios de gravação, trabalha com os músicos americanos Pat Metheny (1954), George Duke (1946-2013), Gary Peacock (1935), Billy Higgins (1936-2001), Jack Lee (1952), Joe Pass (1929-1994) e Wayne Shorter (1933), os brasileiros radicados nos Estados Unidos Sérgio Mendes (1941) e Airto Moreira (1941), o italiano Nicola Stilo (1956) e a japonesa Akiko Yano (1955).

Em 2000, de volta ao Brasil, dá continuidade à carreira e inaugura seu próprio selo fonográfico, Minas Records.

Análise

Toninho Horta é o principal nome do violão e da guitarra no grupo de jovens artistas que despontam na música popular brasileira nos anos 1970, sob o guarda-chuva do movimento musical mineiro Clube da Esquina. Características marcantes dessa geração, a busca de uma sonoridade inovadora e, principalmente, a síntese de múltiplas influências estão presentes na trajetória do músico desde sua formação.

Se na infância foi estimulado pelos pais a ouvir tanto música de concerto de autores – como o francês Claude Debussy (1862-1918) –  quanto modinhas e valsas da canção popular, na adolescência ele é arrebatado pela modernidade da Bossa Nova. Encanta-se, sobretudo, pelo estilo do violonista João Gilberto (1931) e pelas composições de Tom Jobim. O repertório eclético é completado com jazz, blues, boleros, o suingue de Jorge Ben Jor (1942) e, mais tarde, o rock do grupo inlgês Beatles.

Fanático pela sonoridade orquestral, Toninho busca recriá-la no violão. Nas cordas graves, desenha a linha de baixo, enquanto executa arpejos descendentes e ascendentes que lembram harpas dedilhadas. Em seguida, muda para acordes de terças, que soam como dueto de flautas. Na mão direita, está a seção rítmica, com grande força percussiva. Outro de seus artifícios é a utilização de acordes com as cordas soltas, o que dá maior amplitude ao som. Toninho minimiza as limitações de seu instrumento invertendo as notas dentro dos acordes e inventando novas posições para os dedos no braço do violão.

Considerado um mestre da harmonia, Toninho assina arranjos em diversos álbuns de artistas de sua geração, entre os quais Clube da Esquina 2, lançado em 1978 por Milton Nascimento, e Sol de Primavera, de Beto Guedes (1951), e  A Via Láctea, de Lô Borges, ambos de 1979.

O violonista paulista Fábio Zanon (1966) faz a sua leitura:

Toninho Horta faz uma música reconhecivelmente brasileira, mas que não é fundamentada nem no choro nem no samba. Usa instrumentos elétricos por influência do rock, mas não soa como rock. É forte em ritmos assimétricos, mas não é dançante. Sua harmonia é dissonante, mas não soa como Bossa Nova. Usa empréstimos modais, mas não é regionalista. Seus arranjos não são comentários à melodia, são ambientações experimentais, mas não soam vagos nem inacabados. Eu tenho um palpite: esta música foi batizada nas igrejas barrocas e tem a introspecção e a solenidade da música sacra mineira, mas os padrinhos foram os moçambiques e caiapós das minas africanas1.

Em seu cancioneiro, destacam-se “Manoel, o Audaz”, “Durango Kid” e “Céu de Brasília” (com letras de Fernando Brant), “Dona Olímpia”, “Litoral”, “Bons Amigos” e “Viver de Amor” (em parceria com Ronaldo Bastos), “Beijo Partido” e “Aquelas Coisas Todas”. De acordo com os pesquisadores Zuza Homem de Mello (1933) e Jairo Severiano (1927), “Beijo Partido” tipifica o estilo do compositor, com linha melódica aparentemente simples e harmonia sofisticada. A frase “é quem sabe de ti’, em movimento melódico ascendente contrastando com a sutil harmonia descendente, ajuda a entender esse lado intrigante de sua obra.

O fascínio por orquestrações está impresso na capa de seu primeiro álbum solo, Terra dos Pássaros, que anuncia: Toninho Horta e Orquestra Fantasma. O título do disco é uma referencia à guitarra Birdland, modelo usado por outro de seus ídolos, o norte-americano Wes Montgomery (1923-1968). Sonhando em realizar uma gravação com grande formação de cordas, metais, madeiras e percussão, mas sem recursos financeiros para isso, o músico faz adaptações nos timbres dos instrumentos de sua banda acompanhante. Por exemplo, a guitarra distorcida faz as vezes de violino, e o órgão Minimoog é utilizado no lugar das trompas. Essa concepção sonora é batizada de Orquestra Fantasma.

Terra dos Pássaros começa a ser gravado em meados da década de 1970, em Los Angeles, Estados Unidos, época em que Toninho dá início à carreira internacional. No entanto, sem contrato com gravadoras, é obrigado a registrar o álbum por conta própria. Com isso, a produção dura quatro anos. O trabalho é finalizado quando, inesperadamente, o músico recebe cerca de 20 mil dólares de direitos autorais, referentes à versão de “Beijo Partido” lançada pela banda norte-americana Earth, Wind and Fire. Investe o dinheiro no disco. A verba permite, inclusive, a inserção de uma orquestra de verdade em algumas faixas.

Esse modelo de produção fonográfica independente se repete com frequência no decorrer de sua carreira: a maioria de seus álbuns é lançada por selos pequenos, no Brasil e no exterior. Perfeccionista em relação à própria obra, Toninho mostra-se contrário a qualquer interferência na direção artística de seus projetos. A única experiência contratual de destaque com uma grande gravadora envolve a Polygram Internacional (atual Universal Music), para o lançamento de Diamond Land (1988), Moonstone (1989) e Once I Loved (1992). As três obras contribuem para que o músico mineiro alcance o reconhecimento definitivo como instrumentista e compositor, especialmente no mercado internacional e no mundo do jazz.

Mesmo sem nunca ter recebido formação musical acadêmica – exceto por um curso de seis meses feito na Juilliard School, de Nova York –, seu interesse pela educação revela-se em alguns momentos de sua trajetória. Um deles acontece em 1986, quando Toninho idealiza e organiza o I Seminário Brasileiro de Música Instrumental, em Ouro Preto, Minas Gerais. Durante 20 dias, o evento promoveu concertos, cursos e workshops para centenas de participantes, reunindo artistas como Raphael Rabello (1962-1995), Severino Araújo (1917-2012), Dori Caymmi (1943), Luiz Eça (1936-1992) e Sivuca (1930-2006)

Outro projeto de destaque é o Livrão da Música Brasileira, ainda em processo de pesquisa, que pretende reunir mais de 700 partituras, englobando quase dois séculos de música popular brasileira.

Nota

1. ZANON, Fábio. O violão em Minas Gerais – Toninho Horta. 16 jul. 2007. Programa da série O violão brasileiro. Rádio Cultura FM de São Paulo. Disponível em: http://vcfz.blogspot.com. Acesso em: 4 out 2012.

Obras 3

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 7

Abrir módulo
  • BORGES, Márcio. Os Sonhos Não Envelhecem. São Paulo: Geração Editorial, 1996.
  • CAMPOS, Maria Tereza R. Arruda. Toninho Horta: Harmonia Compartilhada. São Paulo: Imprensa Oficial do Estado de São Paulo, 2010.
  • INSTITUTO Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.memoriamusical.com.br. Acesso em: 4 out. 2012.
  • MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998. R780.981 M321e 2.ed.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • TONINHO HORTA. Site oficial do artista. Disponível em: <http://www.toninhohorta.art.br>. Acesso em: 11 ago. 2010. Acesso em: 4 out. 2012.
  • ZANON, Fábio. O Violão em Minas Gerais – Toninho Horta. 16 jul. 2007. Programa da série O Violão Brasileiro. Rádio Cultura FM de São Paulo. Disponível em: http://vcfz.blogspot.com. Acesso em: 4 out. 2012.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: