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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Raphael Rabello

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 16.10.2024
31.10.1962 Brasil / Rio de Janeiro / Petrópolis
27.04.1995 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Rafael Baptista Rabello (Petrópolis, Rio de Janeiro,1962 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995). Violonista, compositor e arranjador. Caçula em uma família de nove filhos, recebe as primeiras influências musicais do avô materno, o violonista e chorão José de Queiroz Baptista. Aprende os primeiros acordes no violão aos 8 anos, com o irmão mais v...

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Rafael Baptista Rabello (Petrópolis, Rio de Janeiro,1962 – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1995). Violonista, compositor e arranjador. Caçula em uma família de nove filhos, recebe as primeiras influências musicais do avô materno, o violonista e chorão José de Queiroz Baptista. Aprende os primeiros acordes no violão aos 8 anos, com o irmão mais velho, Ruy Fabiano (1954). Tem aulas com Maria Alice Salles, professora de seus irmãos, com Jayme Florence, o Meira (1909-1982) e o compositor e arranjador húngaro radicado no Brasil Ian Guest (1940).

Aos 13 anos, dedicado ao violão de sete cordas, integra o conjunto Os Carioquinhas. O grupo lança, em 1977, o disco Os Carioquinhas no Choro. Luciana Rabello (1961), uma das irmãs, está no cavaquinho. No violão, Mauricio Carrilho  (1957), sobrinho do flautista e mestre do choro Altamiro Carrillo (1924-2012). No mesmo ano, conhece o pianista e maestro Radamés Gnattali (1906-1988). Juntos, gravam o álbum Tributo a Jacob do Bandolim (1979) – Raphael como integrante da Camerata Carioca. Em 1982, em dueto com Radamés, lança Tributo a Garoto. Cinco anos depois, o violonista presta homenagem ao maestro e parceiro com Rafael Rabello Interpreta Radamés Gnattali.

Em 1977, participa do disco Choros do Brasil, de Turíbio Santos (1943). Nos anos seguintes, toca em O Inverno do Meu Tempo (1979), álbum de Elizeth Cardoso (1920-1990), e Inéditos de Jacob do Bandolim (1980), lançado pelo bandolinista Déo Rian (1944), com o conjunto Noites Cariocas.

Seu primeiro disco solo é de 1982: Rafael Sete Cordas reúne composições de João Pernambuco (1883-1947), Jacob do Bandolim (1918-1969), Garoto (1915-1955), Tom Jobim (1927-1994), do violonista paraguaio Augustín Barrios (1885-1944), entre outros. O álbum também tem uma faixa de sua autoria com Paulo César Pinheiro (1949), “Sete Cordas”. Acompanhado do baixista Dininho, filho de Dino Sete Cordas [Horondino José da Silva (1918-2006)], e de Chiquinho do Acordeom (1928-1993), lança o Rafael Rabello em 1988.

A década de 1990 é marcada por sete discos. Em 1991, sai Raphael Rabello & Dino Sete Cordas e Retratos, com Chiquinho do Acordeom e a Orquestra de Cordas Brasileiras. No ano seguinte, lança Todos os Tons, um tributo a Tom Jobim, Dois Irmãos, ao lado de Paulo Moura (1933-2010), e Shades of Rio, gravado nos Estados Unidos, com Romero Lubambo (1955). Em 1993, lança Delicatesse, com Déo Rian. O último álbum de Raphael em vida é Relendo Dilermando Reis (1994).

Depois de sua morte, são lançados Brasil Musical – Armandinho/ Raphael Rabello (1996), Raphael Rabello e Armandinho em Concerto (1997), Mestre Capiba por Raphael Rabello e Convidados (2002) e Cry, My Guitar (2005). Em 1996, ele é homenageado pela Escola Brasileira de Choro, do Clube do Choro de Brasília, que passa a se chamar Escola Brasileira de Choro Raphael Rabello. Em 2002, a cantora Amélia Rabello (1955), sua irmã, lança Todas as Canções, apenas com composições de Raphael.

Análise

Diversos críticos, especialistas e músicos – como Tom Jobim, Radamés Gnattali, Paco de Lucia (1947-2014), Guinga (1950), Joel Nascimento (1937), Turíbio Santos – classificam Raphael Rabello como um dos maiores violonistas brasileiros de todos os tempos. Mesmo com uma breve carreira, ele atua em mais de 600 gravações com importantes nomes da música nacional e internacional. Faz apresentações no Brasil e no exterior. Revoluciona a história de seu instrumento.

O berço familiar, recheado de músicos, exerce influências em Raphael desde cedo. Aos 10 anos, surpreende amigos e familiares após escutar por diversas vezes o disco Vibrações (1967), de Jacob do Bandolim e Época de Ouro. Em pouco tempo, de maneira autodidata, toca todas as “baixarias” iguais às feitas por Dino Sete Cordas no álbum. Ainda acrescenta variações criadas por ele mesmo. De todos os professores, o mais importante é o violonista Meira (Jayme Florence). Mesmo sendo um especialista em choro e no violão tradicional (de seis cordas), Meira apresenta a Raphael outros gêneros populares e do eruditos. Igualmente relevantes são os ensinamentos das sequências harmônicas em diversas tonalidades, preparando Raphael para improvisos e acompanhamentos nas rodas de choro ou em outros estilos.

Por conta própria, estuda as várias escolas de violão e condensa décadas de tradição do instrumento em seu estilo. Raphael reúne as linguagens brasileiras de Villa-Lobos (1887-1959), Dilermando Reis (1916-1977), João Pernambuco, Garoto, Meira, Dino Sete Cordas e Baden Powell (1937-2000). Incorpora também as linguagens estrangeiras, como a espanhola – de Francisco Tárrega (1852-1909), Josefina Robledo (1897-1972) e do expoente da escola flamenca Paco de Lucia – e a latina, com o paraguaio Augustín Barrios. Embora ligado ao cancioneiro popular, Raphael escreve partituras com competência, além de demonstrar conhecimento de autores eruditos e afeição por eles. Prova disso é o disco Delicatesse, com Déo Rian, em que registra peças de polonês Frédéric Chopin (1810-1849), do russo Pyotr Tchaikovsky (1840-1893), do austríaco Franz Schubert (1797-1828), do boêmio Antonín Dvorák (1841-1904) e dos alemães Robert Schumann (1810-1856) e Johannes Brahms (1833-1897).

Ao longo de sua carreira, a exímia técnica permite-lhe interpretar partituras complexas. O músico domina o violão tradicional de seis cordas, mas dedica-se ao instrumento de sete cordas. Não à toa, assina o primeiro disco solo como Raphael Sete Cordas.

Com domínio sobre o instrumento, destaca-se como solista, sendo classificado como um virtuose, e no acompanhamento. Mesmo no papel de produzir uma base harmônica para outros instrumentistas – como nos discos com Déo Rian, Paulo Moura, Armandinho (1953) e Radamés Gnattali –  e para cantores – como Ney Matogrosso (1941), Nelson Gonçalves (1919-1998), Gal Costa (1945) e Elizeth Cardoso –, Raphael vai além do acompanhamento. Evidências disso são a afinação de seu violão (muitas vezes com a sexta corda afinada em Ré, no lugar da tradicional Mi), as inversões de acordes criadas por ele, as introduções, pontes, mudanças de dinâmica, os interlúdios ou as dobras de notas e os fraseados.

Além disso, a ousadia de não tocar o violão de maneira tradicional, inserindo características de outros estilos em um determinado gênero, transforma Raphael em um músico híbrido. Essa característica faz com que seja um dos músicos mais requisitados do país para gravar e acompanhar artistas em shows. Exemplos da fusão de estilos dentro de uma só composição aparecem em suas interpretações de “Retrato em Branco e Preto”, [Tom Jobim e Chico Buarque (1944)] e “Prelúdio n. 5” (Villa-Lobos). O violonista cria uma harmonia moderna para choros antigos, como nas músicas “Sons de Carrilhões” e “Odeon”, do disco de Dino Sete Cordas. Ao dominar a técnica de usar o polegar da mão direita como apoio, Raphael recria arpejos, transformando a estética do violão brasileiro.

Nos arranjos, mostra-se inventivo e intuitivo na releitura de temas antológicos. Suas criações e ornamentações são tantas que ele é considerado por críticos e especialistas uma espécie de “coautor” das composições originais. As recriações mais conhecidas estão registradas em “Lamentos do Morro” (Garoto), “Samba do Avião” (Tom Jobim), e “Abismo de Rosas” [Américo Jacomino “Canhoto” (1889-1928)]. Sem contar diversas músicas do disco Mestre Capiba por Raphael Rabello e Convidados, gravadas ao lado de Chico Buarque, Paulinho da Viola (1942), Francis Hime (1939), Gal Costa, Caetano Veloso (1942), Alceu Valença (1946) e Milton Nascimento (1942).

Em menos de 20 anos de carreira, Raphael deixa 29 composições de sua autoria. São temas de diferentes linguagens, como valsas e sambas, mas a predominância é do choro. No campo instrumental, escreve composições sozinho, como “Choro em Lá Menor”, “Choro em Si Maior”, “Olho D’Água”, “O Sorriso da Luciana” (inédita) e “Meu Avô”, em homenagem a seu avô materno. Além disso, assina parcerias com sua irmã, Luciana Rabello em“Cá Entre Nós”, Dininho e Cristóvão Bastos (1946) em “Choro em Lá Bemol Menor” e Toquinho (1946) em “Pedra do Leme”.

Seus maiores parceiros são os poetas Paulo César Pinheiro  com “Camará”, “Martírio”, “Retrato de Saudade” e “Sete Cordas”, entre outras, e Aldir Blanc (1946) com “Anel de Ouro”, “Galho de Goiabeira” e “Ouro e Fogo”. Ministra aulas em Los Angeles, Estados Unidos, onde mora durante a década de 1990. Como um dos inventores do violão moderno brasileiro, Raphael influencia uma série de instrumentistas, como Yamandú Costa (1980), Marcus Tardelli, Rogério Caetano (1977), Marcello Gonçalves (1972) e Alessandro Penezzi (1974).

Obras 3

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Fontes de pesquisa 8

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  • BARBOSA, Valdinha; DEVOS, Anne Marie. Radamés Gnattali: o eterno experimentador. Rio de Janeiro: Editora Funarte, 1984.
  • CAZES, Henrique. Choro: do quintal ao municipal. 3ª ed., São Paulo: Editora 34, 2005.
  • MARQUES, Mario. Guinga: Os mais belos acordes do subúrbio. Rio de Janeiro: Gryphus, 2002.
  • NEGREIROS, Eliete Eça. Ensaiando a canção: Paulinho da Viola e outros Escritos. Rio de Janeiro: Ateliê Editorial, 2011.
  • NOGUEIRA, Genésio. Dilermando Reis - Sua Majestade, o Violão. Rio de Janeiro: Ed. Independente, 2001.
  • SANTOS, Turíbio. Mentiras... Ou Não? - Uma Quase Biografia. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2002.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
  • WISNIK, José Miguel. O Som e o Sentido - Uma Outra História das Músicas. São Paulo: Companhia das Letras, 1989.

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