Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Fábio Zanon

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 01.12.2014
06.03.1966 Brasil / São Paulo / Jundiaí
Fábio Pedroso Zanon (Jundiaí, SP, 1966). Violonista, arranjador, concertista e professor. Descobre o violão com o pai, aos oito anos de idade. Aos 13, torna-se aluno de Antônio Guedes, que o acompanha até seus primeiros recitais, aos 16, em Jundiaí. Em 1982, participa de cursos de férias, como o Seminário Internacional de Violão Palestrina e o C...

Texto

Abrir módulo

Biografia
Fábio Pedroso Zanon (Jundiaí, SP, 1966). Violonista, arranjador, concertista e professor. Descobre o violão com o pai, aos oito anos de idade. Aos 13, torna-se aluno de Antônio Guedes, que o acompanha até seus primeiros recitais, aos 16, em Jundiaí. Em 1982, participa de cursos de férias, como o Seminário Internacional de Violão Palestrina e o Camping Musical Bariloche (ambos com Miguel Angel Girollet). Dois anos mais tarde ingressa no bacharelado de composição da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo (ECA/USP), seguindo paralelamente regência, na universidade, e violão, particularmente, com Henrique Pinto. Com a criação do curso de violão e a contratação de Edelton Gloeden pelo departamento de música da ECA/USP, Zanon troca de especialização e se forma em instrumentação musical, em 1987. Nesse período começa a participar de concursos nacionais, e vence, aos 18 anos, o Concurso Jovens Solistas com a Orquestra Experimental de Repertório, que o leva a se apresentar pela primeira vez com uma orquestra. É um dos vencedores do Concurso Sul América, no Rio de Janeiro, em 1986, e finalista do Prêmio Eldorado, em São Paulo, em 1987. Nesse ano classifica-se em terceiro lugar no Toronto International Competition, no Canadá. A partir daí, segue a carreira de solista em recitais e orquestras pelo Brasil (Brasília, Vitória, Recife).

Em 1991 parte para a Inglaterra para realizar o mestrado na Royal Academy of Music/Universidade de Londres, com orientação de Michael Lewin, seguindo, como segunda formação, regência com Denise Ham e assistindo a cursos com violonistas como Julian Bream. Retorna aos palcos em 1995 com um concerto no Wigmore Hall, em Londres, e, em 1996, vence o 30º Concurso Francisco Tárrega, na Espanha, e o 14º Guitar Foundation of America (GFA), nos Estados Unidos. Como resultado dessas vitórias, grava os primeiros CDs e faz turnê de 56 concertos pelos Estados Unidos. No ano seguinte recebe o Prêmio Moinho Santista, um dos mais importantes estímulos à produção intelectual brasileira, nunca antes outorgado a um instrumentista.

Apresenta-se pela primeira vez diante de uma orquestra internacional, em 1998, interpretando o Concerto de Piazzolla para Violão e Bandoneón, com a Orquestra Filarmônica de Londres. Desde então, realiza trabalhos em mais de 45 países em salas como a Royal Festival Hall, em Londres, o Philharmonie, em São Petersburgo, e o Concertgebouw, em Amsterdã, reunindo um repertório de mais de 40 peças para violão e orquestra, a estreia de um número considerável de obras (Lina Pires de Campos, Ronaldo Miranda, Jan van der Roost) - algumas a ele dedicadas - e a gravação de CDs que são reconhecidos como referência pela crítica especializada, principalmente Heitor Villa-Lobos e o compositor italiano Domenico Scarlatti (1985 - 1757). Entre os prêmios mais recentes, destacam-se o Carlos Gomes (2005), Diapason d'Or (França, 2008) e Bravo! (2010). Como pedagogo, ministra master classes em escolas como a Julliard, em Nova York, e o Conservatório Gnessin, em Moscou, e desde 2008 é professor visitante da Royal Academy of Music. Além disso, vem desenvolvendo, nos últimos anos, trabalhos como radialista, escrevendo e apresentando O Violão Brasileiro (2006-2008), pela Rádio Cultura; regente, desde 2006; e escritor (Folha Explica: Villa-Lobos).

Comentário Crítico
Para Fábio Zanon, o processo de formar-se como instrumentista está intimamente conectado à busca do autoconhecimento. O recital é o espaço no qual ele se reconhece. É uma busca incessante para exprimir, através da música, a própria essência. Esse caminho funde-se à história de seu aprendizado musical. O instrumentista analisa o que capta de cada um de seus mestres. Com Antônio Guedes, aprende o fundamento técnico e musical para poder exprimir-se pelo violão, com toda a intensidade emocional e os excessos/imprecisões para com o texto musical suscitados por ela. A essa primeira formação, juntam-se o polimento de sua técnica instrumental adquirida com Henrique Pinto e a consciência de uma leitura detalhada da partitura e de seus equilíbrios formais praticada com Edelton Gloeden, fraseado, utilização das dinâmicas, classificada por Zanon como um "ascetismo da abordagem musical que consegue disciplinar o seu excesso de temperamento".1

À parte seus professores mais próximos, duas inspirações norteiam os caminhos musicais do artista: Sérgio Abreu e Julian Bream. Zanon absorve, de Abreu, "um pouco do perfeccionismo, da obsessão e fanatismo por um resultado melhor que o possível por vias normais".2 De Bream, além de inspirar-lhe a própria concepção de sonoridade do violão, apreende a "força expressiva da interpretação, a necessidade de uma visão musical abrangente, integrada e profunda em todos os aspectos".3 É sobretudo o contato que trava com Bream, na Inglaterra, que permite que sua imaginação emocional, contida no período de seus estudos universitários, aflore novamente, mas em nova perspectiva. O texto musical jorra organicidade e emoção, não mais pela primeira impulsão visceral, mas pela reflexão rigorosa em que se pensa exatamente como exprimir temporalidades, espaços de escuta, direcionalidades, proporção entre andamentos, contrastes, fluxo de movimento, escolha de timbres etc.; em que se compõem cuidadosamente as emoções que se quer suscitar, de maneira precisa. Zanon conclui que, na síntese dessas duas maiores influências, encontra "[...] um espelho que reflete minha personalidade musical [...]".4 Nesse ponto de sua maturidade como concertista, encontra-se justamente em 1995, ele passa a se "reconhecer", ou, em outros termos, a poder exprimir plenamente tanto técnica quanto emocionalmente suas intenções musicais.

Esteticamente, nutre forte predileção pelo repertório erudito e pelas possíveis ligações deste com o universo da ópera e da música sinfônica e camerística, gosto que o leva a dedicar-se com afinco à arte da transcrição musical. Nela, busca "tanto acrescentar uma nova dimensão expressiva ao original quanto ampliar os recursos do próprio violão",5 adequando o universo da obra à física do instrumento. Para tanto, Zanon desenvolve "um certo arsenal de sonoridades, de possibilidades de articulação e ornamentação",6 tirando partido até da scordatura.7 Em sua transcrição da Sonata K485, de Domenico Scarlatti, por exemplo, o instrumentista usa a sexta corda afinada em dó e a quinta em sol, para conferir ao violão uma sonoridade mais rústica a fim de sublinhar o caráter pastoral dela. Na Sonata K394, por sua vez, ele reafina a corda mais grave do instrumento duas vezes no decorrer da peça para conseguir tocar todas as modulações propostas pelo compositor. Zanon enfatiza que, para ele, uma transcrição não pode soar simplesmente escolástica. Ela deve guardar o frescor da escrita da obra, que, em um segundo momento, é enriquecida pela interpretação.

Seu trabalho na área do violão erudito revela-se importante não somente no âmbito pessoal como também para a própria história do instrumento no Brasil. Graças à excelência do intérprete reconhecida internacionalmente, pode tornar-se um dos protagonistas no processo que leva o violão a adquirir um espaço maior na sociedade musical erudita, sendo incorporado à realidade da agenda de concertos nacionais. Ele resgata, do mesmo modo, obras-primas esquecidas, como o Concerto para Violão e Orquestra de Francisco Mignone, entre outras, reinserindo-as no repertório habitual para o instrumento.

Outro feito importante de sua carreira dá-se na criação de O Violão Brasileiro, uma série de 148 programas difundidos pela Rádio Cultura. O programa percorre a história da música brasileira para violão em diferentes épocas, estilos, grupos étnicos, classes sociais, por intermédio de seus instrumentistas e compositores. Zanon produz, dessa maneira, 40 entrevistas originais (índios tabajaras, Antonio Rago, Almeida Prado), além da gravação de obras pertencentes a 30 compositores brasileiros, realizada graciosamente por jovens violonistas especialmente para o projeto a fim de preencher a carência de registros na área. Seus programas não apenas colaboram para a formação de público e a criação de um arquivo sonoro específico, mas também influenciam a escolha de temas para estudos de pós-graduação nas universidades, a seleção de repertório em festivais de música, e contribuem para a revalorização de artistas esquecidos do passado. Essa experiência deixa no próprio instrumentista uma marca indelével: "Cada vez mais tenho ouvido violão brasileiro e a cada semana é uma surpresa. Não sabia que tinha tanta gente com um trabalho tão original ao redor do país, no presente e no passado".8 Essa constatação leva-o a abrir o leque da escolha de repertório e à colaboração com outros instrumentistas. Decorrências claras disso podem ser percebidas, por exemplo, pela organização da noite do violão brasileiro no Festival Europália, em Bruxelas, quando alia diferentes estilos e violonistas num só concerto, ou por sua atividade como camerista, que cobre a partir de então um espectro que vai do mais tradicional ao mais inusitado, em colaborações que incluem nomes como Claudia Riccitelli, Marcelo Barboza, Quarteto da Cidade de São Paulo, Duo Assad, Yamandu Costa. Sua discografia transparece o mesmo trajeto: se seus primeiros CDs lidam com compositores consagrados como Heitor Villa-Lobos, Domenico Scarlatti, o compositor espanhol Francisco Tárrega (1852 - 1909) ou o compositor alemão Johann Sebastian Bach, seu registro mais recente conta com a estreia do Concerto para Violão e Orquestra de Francis Hime.

Notas
1 Músicos do Brasil. Verbete sobre Fábio Zanon. Disponível em  http://musicosdobrasil.com.br/fabio-zanon. Acesso em: 20 maio 2012.

2 Ibidem.

3 Ibid.

4 Ibid.

5 Zanon, Fábio. 102. Fábio Zanon II. Violão com Fábio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: <>. Acesso em: 20 maio 2012.

6 Ibidem.

7 Mudança da afinação das cordas do instrumento.

8 CATANZARO, Tatiana. Entrevista telefônica com Fábio Zanon. Paris/São Paulo, 2012.

Obras 11

Abrir módulo

Fontes de pesquisa 10

Abrir módulo
  • FÁBIO Zanon. In: Músicos do Brasil: uma enciclopédia instrumental. Disponível em: http://musicosdobrasil.com.br/Fábio-zanon. Acesso em: 20 maio 2012.
  • NESTROVSKI, Arthur. Fábio Zanon reinventa as sonatas de Scarlatti. Folha de S. Paulo. São Paulo, 23 mar. 2007. Ilustrada.
  • ZANON, Fábio. "101. Fábio Zanon I". Violão com Fábio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: http://vcfz.blogspot.fr/2007/12/101-fbio-zanon.html. Acesso em: 20 maio 2012.
  • ZANON, Fábio. "102. Fábio Zanon II". Violão com Fábio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: http://vcfz.blogspot.fr/2007/12/102-fbio-zanon-ii.html. Acesso em: 20 maio 2012.
  • ZANON, Fábio. "103. Fábio Zanon III". Violão com Fábio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: http://vcfz.blogspot.fr/2007/12/103.html. Acesso em: 20 maio 2012.
  • ZANON, Fábio. "104. Fábio Zanon IV". Violão com Fábio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: http://vcfz.blogspot.fr/2007/12/104-fbio-zanon-iv.html. Acesso em: 20 maio 2012.
  • ZANON, Fábio. "A song to the Earth". In: Mountain Songs, Music for flute and guitar by Beaser, Castelnuovo-Tedesco, Haug and Moyse. Encarte do CD, CDE84540. Inglaterra: Meridian Records, 2008. Disponível em: http://www.meridian-records.co.uk/pdf/540barboza_and_zanon.pdf. Acesso em: 20 maio 2012.
  • ZANON, Fábio. Fábio Zanon. Paris/São Paulo: [s.n.], 2012. Entrevista concedida a Tatiana Catanzaro.
  • ZANON, Fábio. Villa-Lobos. São Paulo: Publifolha, 2009 (Coleção Folha Explica nº 82).
  • ZANON, Fábio. Violão com Fábio Zanon. Arquivo dos programas de violão clássico apresentados por Fábio Zanon e transmitidos originalmente pela Rádio Cultura FM de São Paulo. São Paulo: Rádio Cultura FM, janeiro de 2007. Disponível em: http://vcfz.blogspot.fr. Acesso em: 20 maio 2012.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: