Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Severino Araújo

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.07.2024
1917 Brasil / Pernambuco / Limoeiro
2012 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Severino Araújo de Oliveira (Limoeiro, Pernambuco, 1917 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012). Clarinetista, compositor, arranjador e maestro. Severino recebe os primeiros ensinamentos musicais de seu pai, o arranjador, mestre de banda José Severino de Araújo, conhecido como Mestre Sazuzinha, de quem passa a ser assistente com apenas 8 anos. A...

Texto

Abrir módulo

Severino Araújo de Oliveira (Limoeiro, Pernambuco, 1917 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2012). Clarinetista, compositor, arranjador e maestro. Severino recebe os primeiros ensinamentos musicais de seu pai, o arranjador, mestre de banda José Severino de Araújo, conhecido como Mestre Sazuzinha, de quem passa a ser assistente com apenas 8 anos. Aos 12, começa a tocar clarinete. Quatro anos depois, muda-se com sua família para Ingá, na Paraíba, e começa a escrever arranjos para a banda local. Em 1936, é contratado para ser o primeiro clarinetista da banda da Polícia Militar de João Pessoa. No mesmo ano, entra para a Orquestra Tabajara, formada em 1934. Até 1938, a orquestra é regida pelo pianista Luna Freire, que morre e é substituído por Severino, então com apenas 21 anos de idade. Como novo comandante, decide levar seus irmãos para a banda: Zé Bodega e Jaime (no saxofone), Manuel (trombone) e Plínio (bateria). Cinco anos depois, é convocado a servir o Exército, mudando-se para Aldeia (PE). Naquele período de um ano, compõe Um Chorinho em Aldeia, regravada posteriormente por diversos músicos. Em 1945, o maestro e a Orquestra Tabajara mudam-se para o Rio de Janeiro, contratados pela Rádio Tupi. Lá assinam contrato com a gravadora Continental, pela qual gravam dois discos de estreia. O primeiro 78 rpm traz Um Chorinho em Aldeia, de um lado, e Onde o Céu Azuk É Mais Azul (João de Barro, Alcir Pires Vermelho e Alberto Ribeiro). O segundo, também de 1945, tem o registro daquele que se torna o tema mais famoso composto por Severino em toda sua carreira, o choro "Espinha de Bacalhau". No ano seguinte, o maestro e a orquestra mantêm alta produtividade, lançando seis discos. Ainda em 1946, gravam Rhapsody in Blue, de George Gershwin, em ritmo de samba, e, em 1947, Um Chorinho pra Você, outro sucesso do maestro.

Com lançamentos fonográficos constantes na passagem da década de 1940 para a de 1950, em 1941, Severino e a orquestra fazem uma série de apresentações por salões e cassinos brasileiros. Na agenda, eventos importantes, como a inauguração da TV Tupi, em 1951, em show em que a Tabajara toca ao lado da orquestra do trombonista americano Tommy Dorsey. No ano seguinte, em viagem com o cantor Jamelão, Severino e os músicos se apresentam em Paris. Após o sucesso, ele e outros músicos decidem permanecer em Paris por um ano. Em 1954, termina o contrato com a Rádio Tupi, assinando com a Mayrink Veiga na sequência. Na década de 1960, o maestro e sua orquestra são contratados pela Rádio Nacional, onde permanecem por dois anos. Em 1975, de volta à Continental, os músicos lançam a coletânea "Severino Araújo e Sua Orquestra Tabajara". Nas décadas de 1980 e 1990, a orquestra mantém suas atividades com shows e tem os seguintes lançamentos: "Orquestra Tabajara de Severino Araújo" e "Anos Dourados". Nos anos 2000, Severino e seu grupo lançam os álbuns "Severino Araújo e sua Orquestra Tabajara" e "A Tabajara no Frevo". Com mais de 70 anos de atuação, a Orquestra Tabajara lança mais de 100 discos, entre LPs e os de 78 rpm. Em 2007, com um problema na perna, Severino passa o comando da orquestra para seu irmão, Jaime Araújo. Em agosto de 2012, o clarinetista morre no Rio por falência múltipla dos órgãos.

Análise

Severino Araújo é um dos principais modernizadores da música popular brasileira a partir da década de 1940. Com mais de 70 anos de atividade à frente da Orquestra Tabajara, é um dos pioneiros no país a mesclar a sonoridade das orquestras americanas com ritmos brasileiros para a formação de big band. Grande parte dessa característica marcante pode ser atribuída à formação do músico. Criado no ambiente sonoro das bandas militares pelas cidades por onde passa, filho do Mestre Sazuzinha (José Severino de Araújo), o clarinetista tem contato ainda muito jovem com os ensinamentos formais de uma banda e, ao mesmo tempo, com gêneros como o choro, o samba e o frevo. Também troca experiências musicais com seus irmãos - Zé Bodega e Jaime (no saxofone), Manuel (trombone) e Plínio (bateria) - de maneira mais informal, movimento também significativo para que ele assuma o comando da Orquestra Tabajara com apenas 21 anos.

Como influências, Severino Araújo tem as orquestras norte-americanas comandadas pelos músicos Tommy Dorsey, Benny Goodman, Glenn Miller, Artie Shaw e Woody Herman, que ele ouve em lojas de discos e nas rádios. Uma das principais marcas do músico é escrever arranjos para a Tabajara, adaptando temas internacionais a estilos brasileiros. Exemplos disso são os álbuns da série Anos Dourados, com interpretações de músicas como The Man I Love (Ira e George Gershwin), Beguin The Beguine (Cole Porter), Moon River (J. Mercer e Henri Mancini) e My Way, em disco dedicado a Frank Sinatra (Tabajara Visita Sinatra - Anos Dourados Vol. 6 - 1998). Mais do que reler os temas icônicos de jazzistas americanos com uma sonoridade brasileira, Severino também se notabiliza por escrever arranjos "abrasileirados" para peças de repertório erudito. Nesta linha, destacam-se as interpretações de Bolero (Maurice Ravel), Sonata ao Luar (Beethoven), Also Sprach Zarathustra (Richard Strauss), Claire de Lune (Claude Debussy), Sinfonia Patética (Tchaikovsky), Serenata de Schubert (Franz Schubert), O Guarani (Carlos Gomes).

Embora a maior parte do repertório interpretado por Severino à frente da Orquestra Tabajara seja composto por choros e frevos, o maestro também mostra versatilidade e ecletismo ao optar por gravar com seu conjunto temas do cancioneiro brasileiro e internacional. Como exemplos, Garota de Ipanema (Tom Jobim e Vinicius de Moraes), Coração de Estudante (Milton Nascimento e Wagner Tiso), Aquarela do Brasil (Ary Barroso), Tristeza (Haroldo Lobo e Niltinho), Travessia (Milton Nascimento e Fernando Brant), Mania de Você (Rita Lee e Roberto de Carvalho), e o disco A Tabajara no Hit Parade, com interpretações de Eu Te Darei o Céu (Erasmo e Roberto Carlos), Bus Stop, dos Hollies, Black is Black, Los Bravos, Last Train To Clarksvillee, The Monkees, e Guantanamera, The Sandpipers. Independente do repertório, a Orquestra Tabajara vira sinônimo de repertório dançante, apresentando-se em festas, bailes e cassinos do Rio de Janeiro. Sem a pompa das orquestras tradicionais, a Tabajara se consolida como uma big band que "traduz" músicas elaboradas com uma linguagem palatável, fácil, mas não simplória.

Tem também como referência o swing, o beebop e o jazz americanos, e como compositor Severino Araújo se destaca ao escrever obras brasileiras. Moderniza o choro, o frevo e o samba com melodias avessas a obviedades e clichês, com harmonias elaboradas e divisões rítmicas complexas, a exemplos de suas composições Um Chorinho em Aldeia, Um Chorinho pra Você, A Tabajara no Frevo, Choro, Etc... Clarinete e seu tema mais famoso, Espinha de Bacalhau, com grau de execução bastante difícil, exigindo domínio técnico do intérprete.

Como arranjador, Severino Araújo tem como diferencial a originalidade, dobrando vozes, trabalhando com contrapontos, perguntas e respostas e comentários jazzísticos. Em termos de formação orquestral, ele aumentar o número de trompetes de três para quatro, a exemplo dos grupos americanos, com cinco saxofones, quatro trompetes e três trombones. A postura inovadora de Severino não se nota apenas na forma de escrever, mas também na maneira de produzir os álbuns de sua big band. Exemplo disso é o LP "Orquestra Tabajara de Severino Araújo", lançado em 1985, cuja produção tem a assinatura dele e de Esdras Souza Pereira. Na ocasião, ambos optam por colocar a orquestra inteira dentro do estúdio para gravar ao vivo, e não separadamente, como de costume. O resultado são interpretações mais "quentes", com destaque para as execuções do samba Gostoso Veneno (Nei Lopes e Wilson Moreira) e do choro Um Chorinho Modulante, de Severino. Além do trabalho como produtor, arranjador, regente e compositor, ele também se destaca projeção como instrumentista, que influencia uma série de músicos, como seu irmão Zé Bodega (José de Araújo Oliveira), K-Ximbinho, Moacir Silva, Maestro Cipó (Orlando Silva de Oliveira Costa), Paulo Moura, Nailor Azevedo (o Proveta), Zé Nogueira, Mauro Senise, Teco Cardoso, Daniela Spielmann e Humberto Araujo.

Fontes de pesquisa 4

Abrir módulo
  • CORAÚCCI, Carlos. Orquestra Tabajara de Severino Araújo - A Vida Musical da Eterna Big Band Brasileira. São Paulo, Companhia Editora Nacional, 2009.
  • Entrevistas com Paulo Moura e Nailor Proveta (por Lucas Nobile para o Caderno2, do jornal O Estado de S. Paulo, em 2011).
  • MUGGIATI, Roberto. Improvisando Soluções. São Paulo. Best Seller, 2008.
  • SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: