Wagner Tiso

Wagner Tiso, 1971
Texto
Wagner Tiso Veiga (Três Pontas, Minas Gerais, 1945). Pianista, compositor, arranjador, regente. Com uma obra marcada pela inovação, experimentalismo e fusão entre a música popular brasileira, o jazz, o rock progressivo e a música de concerto, integra a geração de músicos mineiros conhecida como Clube da Esquina, responsável por um movimento de inovação da música brasileira.
Nascido em família de músicos, aprende a tocar acordeão ainda criança e, aos 11 anos, participa do grupo musical Luar de Prata, que tem como um dos cantores Milton Nascimento (1942), de quem se torna amigo. Com o conjunto grava seu primeiro disco, de 78 rpm, em 1957.
A família muda-se para Alfenas, Minas Gerais, para dar condições de estudo aos filhos. Milton Nascimento muda-se junto e passa a morar com a família. Nessa cidade, inspirado no conjunto norte-americano The Platters, Tiso organiza o grupo W's Boys, com Milton como crooner1. Entre 1958 e 1961, o conjunto toca em bailes na região, com repertório variado, composto de músicas norte-americanas, brasileiras e boleros.
Em 1962, muda-se com Milton para Belo Horizonte para se dedicar profissionalmente à música. É convidado a integrar, com o amigo, o conjunto Holiday, de seu irmão mais velho, Gileno (s.d), com quem grava seu primeiro compacto duplo, Barulho de Trem (1964). Cria os grupos Berimbau Trio, com o baterista Paulinho Braga (1942), e Evolussamba, com o pianista Marilton Borges (1943). Os ensaios acontecem no apartamento da família do compositor Lô Borges (1952), dando início ao movimento Clube da Esquina.
Em 1964, vai morar no Rio de Janeiro. Faz parte de vários conjuntos, entre eles o do compositor Paulo Moura (1932-2010), com quem estuda teoria musical e orquestração de 1965 a 1967. Produz arranjos e toca com vários artistas. Participa do 4º Festival da Música Popular Brasileira, da TV Record, em 1968, com a canção O Viandante, parceria com o baixista Novelli (1945), defendida pelo cantor Taiguara (1945-1996).
Na década de 1970 participa do grupo Som Imaginário, criado e liderado por ele, e que tem em sua formação Zé Rodrix (1947-2009), no órgão; Tavito (1948-2019), na guitarra base; Frederyko ou Fredera (1945), na guitarra; Luiz Alves (1944), no baixo; e Robertinho Silva (1941), na bateria. O grupo grava três discos: Som Imaginário I (1970), Som Imaginário II (1971) e Matança do Porco (1973). O conjunto realiza uma série de experiências musicais inusitadas para o período, com a mistura de rock progressivo, jazz e música brasileira.
Mantém a colaboração com Milton Nascimento, com quem faz a trilha do filme Os Deuses e os Mortos (1970), dirigido por Ruy Guerra (1931), e participa ativamente de seus discos como arranjador e compositor, desempenhando papel central nos discos Clube da Esquina (1972), Milagre dos Peixes (1973), Ao Vivo (1974), Native Dancer (1975) e Minas (1975).
Em 1976 muda-se para Los Angeles, onde colabora com músicos americanos como Wayne Shorter (1933) e Herbie Hancock (1940). Ao retornar ao Brasil no ano seguinte, inicia carreira solo e amplia suas atividades como arranjador e orquestrador, tornando-se importante e requisitado diretor musical. Suas contribuições com Milton e os companheiros do Clube da Esquina permanecem, mas de maneira diluída, em razão da expansão de sua carreira individual.
Grava seu primeiro disco solo, Wagner Tiso, em 1978, e depois Assim Seja, em 1979. Nesses dois trabalhos explora a sonoridade que marca sua trajetória: a fusão da música popular brasileira com a música instrumental, o jazz e a música de concerto.
Nos anos 1980, apresenta-se com regularidade no Brasil e no exterior. Grava dez discos, entre discos solo e duetos. Compõe trilhas para cinema, como as dos filmes Inocência (1983), de Fernando Silva (s.d); Jango (1984), de Silvio Tendler (1950); e Chico Rei (1985), de Walter Lima Júnior (1938). Também produz trilhas para teatro, como a de Poema Sujo (1980), e para a televisão, como a da minissérie Primo Basílio (1988). A trilha do filme Jango, feita em parceria com Milton Nascimento, ganha o Kikito de melhor trilha do Festival de Gramado em 1984, e uma de suas músicas, “Coração de Estudante”, com letra de Milton, torna-se música-tema do movimento político das Diretas Já.
Na década de 1990, a composição de trilhas permanece como aspecto marcante de seu trabalho. Nesse período, Tiso também lança sete discos, sempre expandindo suas influências musicais, como em Baobab (1990), em que busca inspiração em raízes musicais ibéricas e africanas, com parcerias com o músico espanhol Suso Saiz (1957) e o maliano Salif Keita (1949).
Em 2002, produz os arranjos do disco em homenagem a Humberto Teixeira (1915-1979), O Doutor do Baião. Em comemoração aos seus 60 anos, lança em 2006 O Som Imaginário, caixa com CD e DVD gravados na apresentação no Teatro Municipal do Rio de Janeiro, com a participação de Gal Costa (1945), Milton Nascimento e Cauby Peixoto (1931-2016).
Em decorrência de sua formação diversificada e ao mesmo tempo especializada, as fronteiras musicais de Wagner Tiso se diluem a todo momento, tornando-o referência desde os arranjos até o virtuosismo instrumental. Essa variedade permite que ele se apresente em diversos espaços de sociabilidade musical durante toda a sua carreira: na indústria fonográfica, em festivais, cinema, teatro, dança e televisão.
Nota:
1. Termo em inglês que usualmente denomina o cantor que acompanha uma banda de jazz.
Obras 1
Espetáculos 3
Espetáculos de dança 1
Links relacionados 2
Fontes de pesquisa 7
- BORGES, Márcio. Os sonhos não envelhecem: histórias do Clube da Esquina. São Paulo: Geração Editorial, 1996.
- FERREIRA, Mauro. Primeiro álbum do Som Imaginário é reeditado em LP 50 anos após edição original. G1. 11 fev. 2020. Pop & Arte. Disponível em: https://g1.globo.com/pop-arte/musica/blog/mauro-ferreira/post/2020/02/11/primeiro-album-do-som-imaginario-e-reeditado-em-lp-50-anos-apos-edicao-original.ghtml. Acesso em: 19 ago. 2020.
- GARCIA, Luiz Henrique. Coisas que ficaram muito tempo por dizer: o Clube da Esquina como formação cultural. 160 f. Dissertação (Mestrado em História) – Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Belo Horizonte, 2000.
- MARTINS, Bruno Viveiros. Som imaginário. A reivenção da cidade nas canções do Clube da Esquina. Belo Horizonte: Editora UFMG, 2009.
- MUSEU da Pessoa. Museu Clube da Esquina. Disponível em: http://www.museudapessoa.net/clube/index.htm.
- SILVA, Beatriz Coelho. Wagner Tiso: Som, Imagem, Ação. Coleção Aplauso. São Paulo: Imprensa Oficial, 2009.
- VIEIRA, Francisco Carlos Soares Fernandes. Pelas esquinas dos anos 70: utopia e poesia no Clube da Esquina. 136 f. Dissertação (Mestrado em Poética) – Universidade Federal do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1998.
Como citar
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WAGNER Tiso.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa26114/wagner-tiso. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7