Paulo Moura

Consertão - Elomar, Arthur Moreira Lima, Paulo Moura e Heraldo do Monte, 1982
Elomar, Artur Moreira Lima, Paulo Moura, Heraldo do Monte, Mario de Aratanha, João Pedro Borges
Texto
Paulo Moura (São José do Rio Preto, São Paulo, 1932[1] – Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2010). Compositor, arranjador, clarinetista, saxofonista. Inovador, versátil e eclético, tem um estilo popular, experimental e próprio de tocar, combinando ritmos oriundos de diversas culturas e tradições, como choro, samba, jazz, carimbó e música erudita.
Moura, cujo pai é marceneiro e toca clarinete e saxofone, ganha seu primeiro clarinete aos nove anos e, aos 12, começa a tocar em bailes e festas. Em 1945, a família se muda para o Rio de Janeiro. Seis anos depois, o músico é contratado como saxofonista pela Rádio Globo. Estuda clarinete erudito e teoria musical na Escola Nacional de Música e participa da gravação de “Palhaço”, de Nelson Cavaquinho (1911-1986), com a cantora Dalva de Oliveira (1917-1972).
Nos anos 1950, trabalha como músico na Rádio Nacional, acompanhando artistas como Dolores Duran (1930-1959), e integra a orquestra sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro. Dividido entre orquestras populares e eruditas, ensaia no Municipal à tarde e toca em programas de televisão à noite. Frequenta o Beco das Garrafas, onde conhece o pianista Sérgio Mendes (1941) e o baixista Otávio Bailly. Com eles, forma o conjunto instrumental Samba Rio, que posteriormente se torna Bossa Rio, nome com o qual se apresenta no Festival de Bossa Nova, no Carnegie Hall de Nova York, em 1962.
O primeiro disco lançado por Paulo Moura como solista é um 78 rpm contendo os clássicos “Moto perpétuo”, composição do italiano Niccolò Paganini (1782-1840), e “Vôo do besouro”, do russo Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908). Sua interpretação com clarinete realizada aos 23 anos apresenta estilo diferente das executadas por clarinetistas europeus. Apesar de as faixas serem peças do repertório erudito de difícil execução, seu modo de tocar é popular, de técnica menos rígida, como se tocasse um choro. Algumas notas são “escondidas”, outras swingadas, diferentemente da homogeneidade e constância dos intérpretes europeus.
Interessa-se pelo cruzamento de diferentes estilos, desde a simplicidade de “Moto perpétuo” até experimentações mais radicais. Em 1968, realiza, com sua Orquestra de Música Popular, a estreia brasileira de “Ebony concerto, para clarinete e jazz band”, do russo Igor Stravinski (1882-1971).
A inspiração como compositor e arranjador abre caminho para suas maiores contribuições. Movendo-se com facilidade por diferentes ambientes, tocando com desenvoltura em grupos de samba e com solistas de música erudita, realiza arranjos musicais com essa diversidade. Compõe uma fusão entre o Brasil urbanizado dos grandes centros e o interior rural.
É essa a novidade do disco Confusão urbana, suburbana e rural (1976), que permite ao clarinetista deixar seu posto no Theatro Municipal carioca para se dedicar à carreira solo. Nesse álbum, o músico combina o conjunto regional típico dos chorões com naipes de sopros vindos das big bands, arranjos para cordas de cunho mais orquestral e um aparato de percussão afro-brasileira. Instrumentos de bateria de escola de samba se encaixam à formação de baixo e bateria típica do jazz. Ritmos tradicionais do Brasil rural, como o carimbó, e do Brasil urbano, como o choro, harmonizam-se e orquestram os elementos, que são a receita básica do estilo inaugurado pelo compositor.
A partir desse álbum, sua verve criativa se depura disco a disco. Em Mistura e manda (1984), de grande êxito, as formas do choro tradicional estão abertas à improvisação. Ao cavaco centrista dos chorões está somado um outro, com afinação diferente, mais comum ao samba. Ao pandeiro tradicional se soma a novidade do repique de mão, o tam-tam, o ganzá e a caixa de guerra. O resultado é uma combinação de choro, samba e jazz inovadora. Em sua obra, convivem o negro e o branco, o popular e o erudito, o maxixe e o fox-trot e essa convivência é feita de liberdade e opções conjuntas.
A versatilidade e a intensa atuação em várias frentes são a marca de sua carreira. No disco Paulo Moura visita Gershwin e Jobim (2000) e em sua participação em Cannonball's bossa nova (1963), com o jazzista estadunidense Cannonball Adderley (1928-1975), explora as aproximações entre jazz e bossa nova. Como solista de música erudita, grava “Fantasia urbana, para saxofone e orquestra sinfônica” (2000), de Heitor Villa-Lobos (1887-1959), e “Concertino, para clarinete e orquestra”, do alemão Carl Maria von Weber (1786-1826). Grava ainda quatro discos com a pianista erudita Clara Sverner (1936), dois deles dedicados a compositores de choro, em especial a Pixinguinha (1897-1973).
Com outro disco dedicado a Pixinguinha, Pixinguinha: Paulo Moura e Os Batutas (1998), conquista o primeiro Grammy Latino para Música de Raiz.
Além de premiado, frequenta palcos importantes, como o Festival Internacional de Jazz de Berlim (1982), o Free Jazz Festival (1986) e o Montreux Jazz Festival (1992). Compõe trilhas sonoras para cinema em A lira do delírio (1978), de Walter Lima Júnior (1938), e Parahyba mulher macho (1983), de Tizuka Yamasaki (1949).
Apesar do repertório erudito e do experimentalismo na escrita, Paulo Moura toca de modo popular, nos mais diversos ambientes musicais. Seja escrevendo arranjos para a Rádio Nacional, tocando na Sinfônica do Theatro Municipal do Rio de Janeiro e em importantes palcos internacionais, animando bailes de salão com gafieiras ou compondo rodas de choro, atua em várias frentes, constrói carreira sólida e se consagra com um estilo único de tocar, arranjar e compor.
Nota
[1] A Revolução Constitucionalista de 1932, iniciada em São Paulo contra o governo de Getúlio Vargas (1882-1954), impede que o pai de Paulo Moura registre o nascimento do filho naquele ano. Os documentos oficiais inscrevem a data de nascimento de 17 de fevereiro de 1933.
Obras 25
Exposições 1
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1/10/1977 - 30/11/1977
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 6
- MOURA, Paulo. Site oficial do artista. Rio de Janeiro, 2006. Disponível em: http://www.institutopaulomoura.com.br/home/index.html. Acesso em: 5 mar. 2011.
- O GLOBO. Paulo Moura, saxofone e clarineta. O Globo, Rio de Janeiro, 27 abr. 2005. Entrevista.
- PAULO MOURA – Documentário. Direção e fotografia Paulo Roberto Martins; Produção Flávio Tambellini. Rio de Janeiro,1978.
- PAULO MOURA, une infinie musique. Direção: Ariel de Bigault; Produção: Feeling Productions/TF1/PI Productions. França, 1987.
- PROGRAMA Ensaio – Paulo Moura e João Donato. Direção de Fernando Faro, gravado em 12 set. 2006. São Paulo, 2006.
- SÁ, MIGUEL. Paulo Moura: um sopro de versatilidade. Jornal Musical, set. 2007. p. 3.
Como citar
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PAULO Moura.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa26115/paulo-moura. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7