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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Sérgio Mendes

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 06.09.2024
11.02.1941 Brasil / Rio de Janeiro / Niterói
06.09.2024 Estados Unidos / Califórnia / Los Angeles
Sergio Santos Mendes (Niterói, Rio de Janeiro, 1941 - Los Angeles, Estados Unidos da América, 2024). Pianista, compositor e arranjador. Incentivado pelos pais, é matriculado ainda jovem no conservatório de música de Niterói. Aos 15 anos, tem aula de piano a professora Carmelita Lago, voltado para música erudita e, aos 19 anos, passa a ouvir jazz...

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Sergio Santos Mendes (Niterói, Rio de Janeiro, 1941 - Los Angeles, Estados Unidos da América, 2024). Pianista, compositor e arranjador. Incentivado pelos pais, é matriculado ainda jovem no conservatório de música de Niterói. Aos 15 anos, tem aula de piano a professora Carmelita Lago, voltado para música erudita e, aos 19 anos, passa a ouvir jazz, e se interessa pelo gênero. Troca discos com amigos do bairro – como os do pianista norte-americano Horace Silver – e começa a participar de jam sessions no Beco das Garrafas, reduto bossanovista em Copacabana formado pelas boates Little Cub, Bottle's Bar e Bacará, no Rio de Janeiro. Em 1961, participa do III Festival Sul-Americano de Jazz, no Uruguai, com seu Brazilian Jazz Sextet. Lança seu primeiro disco, Dance Moderno, com regravações de canções emblemáticas da bossa nova, como O-ba-la-lá, de João Gilberto (1931); Outra Vez, de Tom Jobim (1927-1994); Tristeza de Nós Dois, de Durval Ferreira (1935-2007), Bebeto e Maurício Einhorn (1932). Em 1962, participa do concerto de bossa nova no Carnegie Hall, em Nova York.

Em 1963, Sergio Mendes lança pela Philips, como sexteto Bossa Rio, Você Ainda não Ouviu Nada, com arranjos de Tom Jobim e Moacir Santos (1926-2006). Em 1964, é perseguido pelo governo militar e deixa o Brasil, indo morar na Califórnia, Estados Unidos. Lança quatro discos: Bossa Nova York (1964), Cannonbal’s Bossa Nova (Cannonbal Adderley, 1963), The Swinger From Rio, In Person at El Matador e Quiet Nights (os últimos três em 1966). Na década de 1960, Sergio Mendes tem o período mais produtivo e inovador de sua carreira, com o lançamento de oito álbuns e a criação do conjunto Brasil’ 66, que tem em sua formação nomes como João Palma (bateria); John Pisano (guitarra); José Soares, Dom Um Romão e Rubens Bassini (percussão); Bob Mathews (baixo e vocal); Janis Hansen e Lani Hall (vocais). Desta época, são destaque os discos Equinox, Look Around (1967) e Herb Alpert Presents Sergio Mendes (1966), com o qual vende mais de um milhão de cópias, com o sucesso de Mas que Nada, que lhe fora dado de presente ainda no Beco das Garrafas pelo compositor Jorge Benjor.

Nos anos 1970, faz uma turnê mundial, além de lançar discos como Ye-Me-Lê, País Tropical, Raízes e Homecooking, muitos deles acompanhado pelo conjunto Brasil’ 77, com os músicos Oscar Castro Neves (violão e guitarra), Sebastião Neto (baixo) e Gracinha Leporace (vocais). Em 1978, faz a trilha do filme Pelé, com participação do saxofonista Gerry Mulligan. Dos anos 1980 e 1990, destaque para o disco Confetti, que contém Olympia, tema para os Jogos Olímpicos de Los Angeles. Com esse álbum, ganha o Grammy de melhor disco de world music. Nos anos 2000, lança três discos, Bom Tempo (2010), Encanto (2008) e Timeless (2006), com o qual volta ao topo das paradas norte-americanas, com a canção Mas que Nada, interpretada pelo grupo de rappers Black Eyed Peas. O mesmo álbum conta com participações de Erykah Badu, Justin Timberlake, John Legend, Seu Jorge e Carlinhos Brown. Em 2011, assina a trilha sonora, junto com Carlinhos Brown (1964), do filme de animação Rio, do diretor brasileiro Carlos Saldanha.

Análise
Com formação em piano clássico, ainda no fim da década de 1950, Sergio Mendes decide se desgarrar do erudito para fazer incursões no jazz e na bossa nova. Suas influências do exterior são principalmente norte-americanas, com Cole Porter, Duke Ellington, Horace Silver, e as brasileiras se devem a João Gilberto, Tom Jobim, Moacir Santos, Johnny Alf (1929-2010) e João Donato (1934).

No piano, principalmente nos anos 1960, Sergio Mendes é um dos principais expoentes das modernizações da bossa nova. Naquele período, utiliza o piano para propor inovações harmônicas do gênero, mas – como outros pares de sua época – vai além nas derivações do estilo, solidificando um nome patenteado na época por Carlinhos Lyra (1939): o sambalanço. A nomenclatura apenas classifica outra maneira de tocar bossa, de forma inventiva, particularmente por trios, nas noites nos inferninhos de Copacabana. Com o título que se queira chamar - bossa nova, sambajazz ou sambalanço -, Sergio Mendes inovou o gênero ao mesclar improvisos jazzísticos com sotaque brasileiro, uma combinação equilibrada entre descobertas harmônicas e suingues rítmicos.

Reconhecido como um dos principais pianistas nos anos que sucederam o surgimento da bossa nova, Sergio Mendes obtém destaque no instrumento, mas é como arranjador que se notabiliza, principalmente no meio formado por críticos e especialistas. Neste aspecto, dentre os 43 discos lançados em sua carreira, Mendes aponta Você Ainda Não Ouviu Nada, de 1963, com o Bossa Rio, como fundamental em seu aprendizado. Na gravação, tem como “professores” Tom Jobim e Moacir Santos, que assinam os arranjos do disco em temas antológicos, entre eles Nanã e Coisa nº 2, de Moacir, além de Ela É Carioca, Amor em Paz e Garota de Ipanema (de Jobim e Vinicius) e Desafinado (de Jobim e Newton Mendonça). O trabalho também apresenta duas composições suas, Noa, Noa e Primitivo, consideradas umas das mais emblemáticas da corrente samba jazz.

Diferentemente de seus mestres, Jobim e Moacir, e de outros nomes - como João Donato, Dom Salvador (1938), Francis Hime (1939), Edu Lobo (1943), Raul de Souza (1934), Airto Moreira (1941), Egberto Gismonti (1944), Hermeto Pascoal (1936) e o próprio João Gilberto - que vão ao exterior para tentar carreira ou para se aperfeiçoar e estudar, Sergio Mendes precisa mudar do Brasil devido a uma contingência política. Embora nunca tenha feito composições com teor político, a censura do período militar o acompanha de perto, chegando a prendê-lo. Por isso decide se mudar para a Califórnia, estabelecer residência e voltar a sua terra de origem apenas de passagem. Mesmo que não tenha sido por opção, a ida ao exterior é de extrema relevância em sua carreira. Lá tem contato com alguns de seus ídolos musicais, é convidado a tocar para dois presidentes norte-americanos na Casa Branca e se torna uma espécie de embaixador da música brasileira nos Estados Unidos, como Carmem Miranda (1909-1955) nos anos 1940 e 1950. Regrava composições de Edu Lobo, Dori Caymmi (1943), Tom Jobim, Marcos Valle (1943), João Donato e Gilberto Gil (1942), entre outros.

Depois de anos apresentando-se ao piano em diferentes formações - em trio, quartetos e sexteto (no Brasil’ 66 e, posteriormente, no Brasil’ 77) -, Sergio Mendes começa a traduzir a música brasileira de forma mais simplificada e inteligível para  estrangeiros. Ele não abandona suas origens e a música nacional, mas atinge projeção e sucesso no exterior de maneira mais popular, abrangendo públicos de diferentes faixas etárias ao se misturar com artistas mais novos, como Carlinhos Brown, Seu Jorge, Justin Timberlake, John Legend, Erykah Badu e Will.i.am, do Black Eyed Peas. Mesmo morando em Los Angeles, músicas para a trilha sonora de novelas da Rede Globo, como Horizonte Aberto (com Guto Graça Melo e Paulo Sérgio Vale) para Os Gigantes (1979).  

Nos anos 1990, tem parte em uma redescoberta de gênero, sob o rótulo de cocktail music. Trabalha com Carlinhos Brown em 1992, no disco Brasileiro, que lhe rende um Grammy, e com o Black Eyed Peas, em 2006, no álbum Timelles, chegando às primeiras posições nas paradas norte-americanas, novamente com Mas que Nada. Lançada por ele nos anos 1960, o tema é a primeira música brasileira a atingir tamanho sucesso nos Estados Unidos com uma letra em português.

Em sua fase pós anos 1990, o vigor criativo e as reinvenções no piano praticamente desapareceram, dando lugar a arranjos mais simples para temas de grande sucesso, como Magalenha. Lança Bom Tempo, em 2010, com a mesma linha de trabalho. O disco traz composições antigas, porém mais elaboradas, como Orfeu, Maracatu, Nação do Amor (de Moacir Santos), Emoriô (de João Donato e Gilberto Gil), e Maracatu Atômico [de Jorge Mautner (1941) e Nelson Jacobina (1954-2012)]. Além disso, o álbum revela ainda a atração que Sergio Mendes desperta em artistas consagrados como uma referência, tendo a participação de Milton Nascimento (1942), que canta e toca violão no tema Caxangá.

Obras 3

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