Milton Gonçalves
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Milton Gonçalves (Monte Santo, Minas Gerais, 1934 - Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2022). Ator. Integrante do Teatro de Arena de São Paulo, participa da definição das bases da companhia, tanto no que diz respeito à linha interpretativa quanto na fundação do Seminário de Dramaturgia, atuando em seus mais importantes espetáculos, sendo frequentemente convidado para debates, demonstrando preocupação com questões políticas e sociais, do teatro e do país.
Depois de iniciar sua carreira no teatro amador e no teatro infantil, ingressa no elenco do Teatro de Arena, estreando em Ratos e Homens, do escritor estadunidense John Steinbeck (1902-1968), com direção de Augusto Boal (1931-2009), em 1956. A vivacidade cênica e o talento revelados desde o início, a identificação com a proposta popular do grupo e seu interesse pelos métodos de preparo de ator desenvolvidos por Boal, contribuem para garantir-lhe um lugar de destaque na equipe, na qual ele exerce variadas funções. É, também, um assíduo freqüentador dos cursos e laboratórios promovidos pelo Arena, e membro fundador do seu Seminário de Dramaturgia. Entre os seus trabalhos no no Arena destacam-se importantes montagens como Eles Não Usam Black-Tie, de Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), com direção de José Renato (1926-2011), em 1958, na criação da personagem Bráulio; e - sob a direção de Augusto Boal - Chapetuba Futebol Clube, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), em 1959 e Arena Conta Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri, em 1965. Concomite a sua experiência no teatro, atua em importantes dilmes na década de 1960 como Macunaíma, de Joaquim Pedro de Andrade (1932-1988).
Em sua trajetória também se destacam a passagem por outros importantes grupos de teatro de São Paulo, como o Teatro Experimental do Negro (TEN), de São Paulo, onde atua, em uma rápida passagem, como autor do texto Sucata, o Teatro Nacional de Comédia (TNC), o grupo Teatro Jovem, em ambas como ator e em 1968, participa da criação de um outro espetáculo sobre um de Chico de Assis (1933-2015), Jornada de Um Imbecil Até o Entendimento, no Grupo Opinião.
Também atua na televisão, onde vai estabelecer longeva carreira em importantes novelas da Tv Globo como O bem-amado (1973), de Dias Gomes (1922-1999). Atua, na montagem ousada de Paulo Afonso Grisolli (1934-2004), no musical Alice no País Divino-Maravilhoso, de Sidney Miller, Paulo Afonso Grisolli, Tite de Lemos (1942-1989), Luiz Carlos Maciel (1938-2017) e Marcos Flaksman (1944), em 1970. Integra o elenco de A Farsa da Boa Preguiça (1975), de Ariano Suassuna (1927-2014), dirigido por Luiz Mendonça (1931-1995), numa produção do Grupo Chegança
Em 1980 realiza uma das suas interpretações mais comoventes, como o cantor de Os Órfãos de Jânio, de Millôr Fernandes (1923-2012), encenado por Sergio Britto (1923-2011), no Teatro dos Quatro; desempenho que contribui para que lhe seja outorgado, em 1981, o Prêmio Estácio de Sá, pelos serviços prestados ao teatro carioca. Nesta década, sua presença no teatro se torna mais esporádica e segue atuando em importantes novelas da Rede Globo, Roque Santeiro (1985-1986), também de Dias Gomes, na qual interpreta o promotor de justiça Lourival Prata. Na história, o promotor chega a cidade fictícia de Asa Branca, chocando grande parte da população que não espera um homem negro ocupando um alto cargo e sendo recebido com racismo pelos poderosos da cidade. Na mesma década de 1980, participa do musical Vargas, de Dias Gomes, encenação de Flávio Rangel (1934-1988), 1983, e de Orfeu da Conceição, de Vinícius de Moraes (1913-1980), em 1989.
Amplia cada vez mais sua atuação no cinema, veículo no qual tem desempenhos destacados em filmes como, Eles Não Usam Black-Tie (1981), de Leon Hirszman (1937-1987); Um Trem para as Estrelas (1987), de Cacá Diegues (1940); e trabalha repetidamente também em co-produções internacionais, como O Beijo da Mulher Aranha (1985), de Hector Babenco (1946-2016).
Faz, com menor repercussão, algumas experiências como diretor de teatro, assinando montagens como Arena Conta Zumbi, de Augusto Boal e Gianfrancesco Guarnieri; e As Três Moças do Sabonete, de Herbert Daniel (1946-1992). Durante muitos anos exerce, paralelamente às suas atividades como ator, a profissão de radialista; e é também formado em jornalismo, ofício que pratica esporadicamente.
Na década de 1990, atua em Master Harold...e os Meninos, do dramaturgo sul-africano Athol Fugard (1932), em 1990, e interpreta Lima Barreto (1881-1922) em Lima Barreto ao Terceiro Dia, de Luís Alberto de Abreu (1952), cinco anos depois. Segue atuando na televisão depois dos anos 2000, em novelas e minisséries da Tv Globo bem como no cinema. O crítico Yan Michalski (1932-1990), na obra inédita Pequena Enciclopédia do Teatro Brasileiro, define o ator como um intérprete muito espontâneo com composições bem amparadas intelectualmente.
Atuando em diferentes frentes no teatro e desempenhando importante papel no debate acerca da presença negra nos palcos e no audiovisual brasileiro, Milton Gonçalves figura entre os importantes agentes das artes no Brasil.
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Fontes de pesquisa 9
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- CONDUZINDO Miss Daisy. Rio de Janeiro: [s.n.], 2001. 1 programa do espetáculo realizado em 2001 no Teatro Ginástico. Não Catalogado
- COSTA, Luiz Antônio. Milton Gonçalves, ícone da TV brasileira, morre aos 88 anos. G1. 30 maio 2022. Disponível em: https://g1.globo.com/rj/rio-de-janeiro/noticia/2022/05/30/milton-goncalves-morre-no-rio.ghtml. Acesso em: 30 maio 2022.
- GONÇALVES, Milton. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Personalidades Artes Cênicas.
- MICHALSKI, Yan. Milton Gonçalves. In: _________. PEQUENA Enciclopédia do Teatro Brasileiro Contemporâneo. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq. Rio de Janeiro, 1989.
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- ROCHA, Elaine Pereira. Milton Gonçalves - Memórias históricas de um ator afro-brasileiro. São Paulo: e-Manuscrito, 2019. pp. 268-270.
- TEIXEIRA, Isabel (Coord.). Arena conta arena 50 anos. São Paulo: Cia. Livre da Cooperativa Paulista de Teatro, [2004]. CDR792A681
- VERGUEIRO, Maria Alice. Maria Alice Vergueiro. São Paulo: [s.n.], s.d. Entrevista concedida a Rosy Farias, pesquisadora da Enciclopédia Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. Não Catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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MILTON Gonçalves.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa349546/milton-goncalves. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7