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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Luís Alberto de Abreu

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 22.07.2022
05.03.1952 Brasil / São Paulo / São Bernardo do Campo
Luís Alberto de Abreu (São Bernardo do Campo, São Paulo, 1952). Autor, roteirista de cinema e TV, professor, consultor de dramaturgia e roteiro. Décimo filho de uma família mineira que migra para a cidade de São Bernardo do Campo em 1947, estuda na região do ABC paulista, incluindo quatro anos interno no Seminário Seráfico em Santo André (até 19...

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Luís Alberto de Abreu (São Bernardo do Campo, São Paulo, 1952). Autor, roteirista de cinema e TV, professor, consultor de dramaturgia e roteiro. Décimo filho de uma família mineira que migra para a cidade de São Bernardo do Campo em 1947, estuda na região do ABC paulista, incluindo quatro anos interno no Seminário Seráfico em Santo André (até 1969). Na década de 1970 atua no teatro amador e, em 1979, abandona o curso de jornalismo para escrever sua primeira peça profissional, Foi Bom, Meu Bem?, para o Grupo de Teatro Mambembe. Dirigida por Ewerton de Castro (1945) e interpretada por Genézio de Barros (1952), Norival Rizzo (1952) e Rosi Campos (1954), a montagem estreia em 1980 e Abreu recebe o Prêmio da Associação Paulista dos Críticos de Artes (APCA) de autor revelação. No ano seguinte, o mesmo grupo encena Cala Boca já Morreu!, com direção de Ednaldo Freire (1949). Em 1982, reescreve Bella Ciao, que o grupo Arteviva de Teatro monta, no mesmo ano, com direção de Roberto Vignati (1941). Esse espetáculo dá ao dramaturgo os prêmios Molière, Mambembe e APCA. Abreu também ganha um Prêmio APCA pelo musical O Rei do Riso, que estreia em 1985 no Teatro Popular do Sesi (TPS), com direção de Osmar Rodrigues Cruz (1924-2007).

É convidado pelo diretor Antunes Filho (1929) a organizar o Núcleo de Dramaturgia no Centro de Pesquisas Teatrais do Serviço Social do Comércio (CPT/Sesc)  em meados da década de 1980. Nesse período, escreve duas peças para o esse grupo: Rosa de Cabriúna, dirigida por Márcia Medina, com estreia em 1986, e Xica da Silva, dirigida por Antunes Filho, dois anos depois.

Em 1995, Abreu tem dois textos encenados com grande repercussão: O Livro de Jó, criado em processo colaborativo com o Teatro da Vertigem, dirigido por Antônio Araújo (1966), e Lima Barreto, ao Terceiro Dia, que escreve em 1984, com montagem dirigida por Aderbal Freire-Filho (1941). Pela primeira peça ganha o Prêmio Mambembe e, no mesmo ano, recebe uma premiação da Associação dos Produtores de Espetáculos Teatrais do Estado de São Paulo (Apetesp) pelo conjunto da obra.

Para a Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes, dirigida por Ednaldo Freire, cria as peças O Parturião (1994) O Anel de Magalão (1995), Sacra Folia (1996) e Burundanga (1996), na primeira fase do projeto Comédia Popular Brasileira, e outros 11 textos, entre eles Iepe (1998), Till Eulenspiegel (1999), Auto da Paixão e da Alegria (2002), Borandá (2004) e Memória das Coisas (2006). Escreve Maria Peregrina (2000) e Um Dia Ouvi a Lua (2010) para a Cia. Teatro da Cidade de São José dos Campos; Um Trem Chamado Desejo (2000) para o grupo mineiro Galpão; e o Auto do Circo (2004) para a paulista Cia. Estável.

Muitas de suas peças são retomadas e reencenadas em todo o Brasil. Para o cinema, cria o roteiro dos filmes Kenoma, Narradores de Javé, O Sol do Meio-Dia e, para a televisão, escreve, em parceira com o diretor Luiz Fernando Carvalho (1960), o roteiro das séries Hoje É Dia de Maria, A Pedra do Reino e Capitu.

Abreu tem importante papel como formador por sua atuação pedagógica em núcleos de dramaturgia, na Escola Livre de Santo André e no projeto Oficinão do Galpão Cine Horto, em Belo Horizonte. É idealizador da Escola Livre de Cinema e Vídeo de Santo André e do Instituto Narradores de Passagem. Sua obra é tema de trabalhos acadêmicos e ensaios. Escreve e publica artigos nos quais aborda e elabora as bases teóricas da própria criação, além de reflexões sobre o teatro contemporâneo em geral e a dramaturgia em especial.

Análise

Luís Alberto de Abreu escreve em estreita colaboração com companhias de teatro, porém sua dramaturgia alcança autonomia literária. Cresce num meio cultural de raízes rurais, ouvindo narrativas em que o maravilhoso invade o cotidiano em histórias contadas com grande liberdade imaginativa e domínio da estrutura de suspense. Essa primeira experiência de recepção tem influência sobre sua obra e é sedimentada por estudos teóricos aos quais se dedica com afinco de autodidata. As pesquisas do psiquiatra suíço Carl Jung (1875-1961) e do norte-americano Joseph Campbell (1904-1987) sobre trajetórias míticas e ainda a investigação da tradição cômica de raízes populares do linguista russo Mikhail Bakhtin (1895-1975) alicerçam algumas das linhas de pesquisa e vertentes que se firmam em sua dramaturgia. 

Criar textos em processo colaborativo é uma das constantes de sua obra e já se faz presente antes mesmo desse termo ser cunhado, desde sua primeira peça profissional, Foi Bom, Meu Bem?, comédia sobre a vida sexual estruturada cronologicamente - infância, adolescência e fase adulta - escrita para o Grupo Mambembe em 1980, com base em depoimentos dos atores. A pesquisa de campo é prática artística seminal em sua obra, assim como a presença do narrador como catalisador da experiência acumulada no imaginário coletivo. Essas características já podem ser detectadas em Bella Ciao, escrita em 1981, peça sobre a imigração italiana para o Brasil cuja primeira versão havia sido recusada pelo Grupo Mambembe, e é dirigida no ano seguinte por Roberto Vignati. A pesquisa inclui desde fontes documentais sobre o movimento operário em São Paulo até depoimentos das esposas de líderes sindicais e se reflete na estrutura dramatúrgica - o acompanhamento da trajetória de uma família de imigrantes italianos que permite abordar as grandes questões sociais e políticas pelo viés das relações humanas.

Em 1984, cria o musical O Rei do Riso, por encomenda de Osmar Rodrigues Cruz, diretor do Teatro Popular do Sesi (TPS). O tema é a vida do ator carioca Vasques (1839-1892), um intérprete cômico muito popular por seu talento na arte do improviso, e a peça tem três planos: biográfico, a peça dentro da peça, e outro cujo foco são os "desvios" e "cacos", as improvisações do ator. Ainda em 1984 escreve Lima Barreto, ao Terceiro Dia, também estruturada em três planos, o ficcional, o biográfico e o "presente", este abarcando três dias em que o autor de Policarpo Quaresma fica internado num manicômio. Com esse texto inaugura mais uma vertente de pesquisa, a construção de personagens com base em trajetórias arquetípicas, no caso, a queda do herói trágico. A complexidade dessa dramaturgia faz com que o texto só venha a ser encenado em 1995, com direção de Aderbal Freire-Filho, com grande sucesso de público e crítica.

A convite do diretor Antunes Filho, organiza um núcleo de formação em dramaturgia no Centro de Pesquisa Teatral (CPT) do Serviço Social do Comércio de São Paulo (Sesc/SP) e escreve duas peças para esse grupo: Rosa de Cabriúna, inspirada no universo literário do mineiro Guimarães Rosa, estreia com direção de Márcia Medina, em 1986; e Xica da Silva, dirigida por Antunes Filho, em 1988. Esta peça não agrada a Abreu, pois afirma ter sofrido muito em todo o processo de criação do texto, o que o faz parar para refletir sobre seu trabalho.

Escreve O Homem Imortal, em 1989, texto que considera um divisor de águas em sua carreira, pelo exercício da liberdade imaginativa no trato poético com a matéria-prima. Nesse caso, a base é uma pesquisa de campo que o leva ao Vale do Jequitinhonha em busca de informações sobre a passagem da Coluna Prestes, na Revolução de 30. A quase total ausência de memória desse fato entre os moradores da região acaba por liberá-lo para abrir uma nova vertente em sua obra, a invenção poética. A peça só é encenada em 2007, pela Cia. do Nó, de Santo André. Como em O Círculo de Cristal, em 1983, retorna à poesia em A Guerra Santa contrapondo versos livres e decassílabos com rimas internas. O poema épico A Divina Comédia, do italiano Dante Alighieri, inspira a construção de dois personagens, Dante e Virgílio, cuja saga faz uma revisão critica da trajetória da geração que participa dos movimentos de 1968. Com direção de Gabriel Villela (1958), a montagem estreia em 1993 e tem Beatriz Segall (1933) no elenco e ótima recepção de público e crítica.

Em seguida, em parceria com o diretor Ednaldo Freire, da Fraternal Companhia de Arte e Malas-Artes, inicia o projeto Comédia Popular Brasileira, cujo objetivo é a atualização do repertório contemporâneo da dramaturgia de tradição cômica popular, que, no Brasil, tem como representantes maiores Martins Pena (1815-1848), Artur Azevedo (1855-1908) e Ariano Suassuna (1927-2014). Inspirado na commedia dell'arte, Abreu cria tipos fixos, entre eles os famintos e atrapalhados João Teité e Mathias Cão, cujas desventuras narra em comédias como O Parturião (1994), O Anel de Magalão (1995), Sacra Folia (1996) e Burundanga (1996). Esse projeto recebe o prêmio especial da APCA, em 1996.

Também em 1996, várias vertentes de sua dramaturgia - temática mitológica, trajetória heroica, forma poética, criação em processo colaborativo - convergem amadurecidas em O Livro de Jó, escrita, com base no episódio bíblico, para o Teatro da Vertigem, dirigido por Antônio Araújo.

Narrativas populares nas quais o maravilhoso e o prosaico se mesclam no cotidiano inspiram peças como Iepe (1998), Till Eulenspiegel (1999) e Nau dos Loucos (2000), todas encenadas pela Fraternal. Em 2000 escreve para o grupo mineiro Galpão a peça Um Trem Chamado Desejo, que problematiza em chave cômica os efeitos da indústria cultural sobre a arte teatral.

A busca por arquétipos femininos e infantis que se contraponham à hegemonia do herói guerreiro está na base de seus textos As Três Graças, encenado pela Fraternal em 2008, e Um Dia Ouvi a Lua, encenado em 2010, com direção de Eduardo Moreira, pela Cia. Teatro da Cidade, em São José dos Campos, interior paulista. Também em 2010 faz sua primeira incursão na dramaturgia sem palavras na criação de Nomes do Pai, encenada no Ágora - Centro para o Desenvolvimento Teatral, com direção de Ruy Cortez.

Espetáculos 71

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Fontes de pesquisa 14

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  • ABREU, Luís Alberto de, entrevista feita por Beth Néspoli, em 12 ago. 2010.
  • ABREU, Luís Alberto de. O Narrador Contemporâneo: considerações a partir do Narrador de Walter Benjamim. 2010.
  • CIATEATROCIDADE. Disponível em: < http://www.ciateatrodacidade.com.br/lua-ficha.html >. Acesso em :22 de julho de 2011.
  • LIMA, Mariangela Alves de. Apresentação. In: Comédia Popular Brasileira, por Luís Alberto de ABREU, 9-18. São Paulo: Siemens, 1997.
  • NICOLETE, Adelia. O Teatro de Luis Alberto de Abreu Até a Última Sílaba. São Paulo: Imprensa Oficial, 2004. Coleção Aplauso.
  • O AUTO do Circo. São Paulo: Teatro Municipal Flávio Império, 2004. 1 programa de espetáculo.
  • O Rei do Riso Homenagem ao Primeiro Ator Cômico. Palco e Platéia, São Paulo, ano 0, jul. de 1985.
  • Programa da Jornada Internacional do Teatro para a Infância e Juventude - espetáculo: Crime e Castigo - 2004.
  • Programa do Ciclo de Leituras Dramáticas, 2010.
  • Programa do Espetáculo "O Livro de Jó" - 1995.
  • Programa do Espetáculo - Bella Ciao - 1982.
  • Programa do Espetáculo - Boteco - 1997.
  • Programa do Espetáculo - Eh, Turtuvia! Um Auto Caipira - 2004.
  • Programa do Espetáculo - O Anel de Magalão - 1995.

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