CPT - Centro de Pesquisa Teatral do Sesc
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Histórico
Grupo liderado pelo encenador Antunes Filho, a partir da montagem do espetáculo Macunaíma. Não é um elenco estável, embora diversos integrantes ali permaneçam por longas temporadas. Fundido com o Centro de Pesquisa Teatral, que desenvolve atividades ligadas ao espetáculo, a unidade do projeto é assegurada pela presença do diretor.
Em 1977, Antunes Filho, já reconhecido diretor, inicia uma pesquisa cênica sobre Macunaíma, de Mário de Andrade (1893 - 1945). Reunindo um conjunto de jovens atores e sediado no Theatro São Pedro, após longo trabalho de criação coletiva, nasce a encenação, estreada em setembro de 1978. Saudada como impactante, torna-se um marco nas artes cênicas brasileiras. O grupo recém-nascido denomina-se Pau Brasil; e assim permanece por dois anos. Macunaíma faz 876 apresentações, no Brasil e no exterior, e figura no repertório até 1987.
O sucesso nacional e internacional, as muitas viagens e crises no sistema de cooperativa obrigam a mudanças e o elenco passa a ser conhecido como Grupo Macunaíma, depois de 1980. No ano seguinte, já renovado, estréia Nelson Rodrigues - O Eterno Retorno, baseado em quatro textos do autor. Nesse formato, ou na abreviação Nelson 2 Rodrigues, faz 231 sessões, excursionando também pelo exterior, até 1985. A complexidade do empreendimento e as constantes viagens obrigam a um redimensionamento da infra-estrutura, e condições materiais e exigem o aprofundamento da pesquisa contínua. Transferido para o Sesc São Paulo, o grupo encontra tais condições, através da fundação do Centro de Pesquisa Teatral, CPT, em 1982.
O Centro nasce para desenvolver e ampliar as propostas do Sesc e do grupo, incrementar a logística de infra-estrutura, uma vez que as excursões obrigam constantes remontagens e modificações no elenco. Confundem-se, desde então, as atividades do Grupo Macunaíma com as do CPT.
A estréia de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, em 1984, inicia o uso permanente do Teatro Anchieta como sala oficial do grupo. Com a instituição de um rodízio de espetáculos, no qual as três criações são apresentadas em dias alternados da semana, o projeto é solidificado.
Verticalizar a interpretação dos atores, desde sempre, é a tônica do projeto, e toda a atenção de Antunes está dirigida para a superação dos padrões usuais. Ele almeja um ator expressivo que, participando de um coletivo de trabalho, esteja altamente disponível para experimentos, mudanças de rumo ao longo do processo e dedicação ao ofício. Essas características foram se aprofundando, paulatinamente, por meio de exercícios e da metodologia de trabalho aprimorada a cada montagem.
Em 1984 Antunes declara que os atores que saem de uma escola "estão carregados de vícios de um sistema estático"; razão pela qual ele propõe que "o ator deve ter a coragem e a capacidade intelectual de tentar enxergar as realidades tais quais elas se manifestam, e não segundo anseios e fantasias ou lições dogmáticas apreendidas em cartilha". No CPT, o aprendizado se dá por meio de exercícios, laboratórios, leituras sobre interpretação (Bentley, Strasberg, Stanislavski), zen-budismo (J. C. Cooper, Suzuki, Herringel), psicologia e psicanálise (Freud, Jung e Rollo May), literatura (Bakhtin) e história. Tornam-se célebres, nessa fase, os exercícios de desequilíbrio inspirados pela física quântica.
Em 1986, estréia A Hora e a Vez de Augusto Matraga, baseado em Guimarães Rosa, com um ator convidado no papel título: Raul Cortez. Entre as criações posteriores, algumas configuram-se como produtos de entressafra (Xica da Silva, 1988, e Trono de Sangue, 1992); outras buscam tanto o experimental dramatúrgico quanto de interpretação (Nova Velha História, 1991; Gilgamesh, 1995; Drácula e Outros Vampiros 1996); ou retornam aos textos dramatúrgicos, mantendo densidade e qualidade: Paraíso Zona Norte, 1989.
Em 1993, com Vereda da Salvação, Antunes retoma a experiência de convidar um intérprete maduro, nesse caso, a atriz Laura Cardoso.
Entre as dezenas de atores que passaram pela companhia destacam-se Cacá Carvalho, Salma Buzzar, Marlene Fortuna, Walter Portela, Marco Antônio de Oliveira, Helio Cicero, Flavia Pucci, Giulia Gam, Luis Melo e Samantha Monteiro.
A partir de 1998, o grupo inaugura uma nova etapa, afastando-se temporariamente da encenação e deslocando suas preocupações para o refinamento do método de interpretação. Enfatizando o estudo da Retórica, de Aristóteles, almeja criar atores que sejam simultaneamente intérpretes/dramaturgos. A série Prêt-à-Porter ocupa o diretor nessa nova empreitada, síntese de uma metodologia que perseguiu na maior parte de sua vida artística.
Em 1999, o conjunto retoma a realização de grandes espetáculos, tais como Fragmentos Troianos, inspirado em As Troianas, de Eurípides, com adaptação de Antunes e, no ano seguinte, ainda debruçando-se sobre o tragediógrafo grego, cria sua versão para Medéia.
Espetáculos 57
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 6
- GEORGE, David. Teatro e antropofagia. São Paulo: Global, 1985.
- GUIMARÃES, Carmelinda. Antunes Filho: um renovador do teatro brasileiro. Campinas: Unicamp, 1998.
- LISTA, Giovanni. La scène moderne. In: ENCYCLOPÉDIE mondiale des arts du spetacle dans la seconde moitié du XX siècle. Paris: Actes Sud, 1996.
- LUISI, Emídio. O Palco de Antunes. São Paulo: Fotograma: Caixa Econômica Federal, 1999.
- MILARÉ, Sebastião. Antunes Filho e a dimensão utópica. São Paulo: Perspectiva, 1994.
- ______. Grupo Macunaíma: carnavalização e mito. São Paulo: Perspectiva, 1990.
Como citar
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CPT - Centro de Pesquisa Teatral do Sesc.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/grupo401300/cpt-centro-de-pesquisa-teatral-do-sesc. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7