Marcos Flaksman
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Marcos Flaksman
Marcos Flaksman
Acervo Cedoc/FUNARTE
Texto
Biografia
Marcos Flaksman (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1944). Cenógrafo, ator, figurinista. Destacado arquiteto cênico e cenógrafo carioca, presente em grandes espetáculos desde a década de 60.
Formado em arquitetura em 1966 pela Universidade do Brasil, atual Universidade Federal do Rio de Janeiro, UFRJ, viaja à França para estudar cenografia e arquitetura cênica nos dois anos seguintes. Com essa formação, Marcos segue a vereda pioneiramente aberta pelo paulista Flávio Império (1935-1985), integrando nossa primeira geração de arquitetos-cenógrafos. Nos primeiros trabalhos, liga-se aos diretores Tite de Lemos (1942-1989) em A Tempestade, 1964, Paulo Afonso Grisolli (1934-2004) em Mortos sem Sepultura, 1964, e Luiz Carlos Maciel (1938) em O Labirinto, 1965, jovens e inquietos artistas que promovem uma renovação de idéias no Rio de Janeiro. Ainda em 1965, leva o Prêmio Molière de melhor cenografia com A Vida Impressa em Dólar, de Clifford Odetts (1906-1963), direção de Paulo Afonso Grisolli.
Volta a chamar atenção com O Sr. Puntilla e Seu Criado Matti, de Bertolt Brecht (1898-1956), encenada por Flávio Rangel em 1966, na qual as soluções arquitetônicas de linhas retas desenham a cena com geométrica precisão. Em 1967, cenografa a primeira montagem carioca do texto de estréia de Plínio Marcos (1935-1999), Dois Perdidos Numa Noite Suja, com direção de Fauzi Arap (1938-2013).
Para a montagem de Fernando Peixoto (1937-2012) de O Poder Negro, de LeRoi Jones (1934), em 1968, contrói um vagão de metrô sobre o palco giratório do Teatro Oficina, obtendo grande rendimento no envolvimento do público. Também em 1968, leva novamente o Molière (1622-1673) como melhor cenógrafo, com Hipólito, de Eurípides, encenação de Tite de Lemos.
No ano seguinte, cria com sugestivo impacto o desolado interior de uma agência bancária, ambiente onde se dá O Assalto, texto de José Vicente (1945-2007) dirigido por Fauzi Arap, com produção do Teatro Ipanema. Em 1970, solta sua imaginação no espetáculo Alice no País Divino-Maravilhoso, montagem tropicalista cheia de verve que Paulo Afonso Grisolli adapta do original de Lewis Carrol.
Cenografa Seria Cômico...Se Não Fosse Sério, de Dürrenmatt, para a encenação de Celso Nunes (1941), em 1973, alcançando com precisão os climas cênicos da austera sala de estar do general, solicitada pelo original; bem como o pomposo e vaudevillesco salão onde transcorre O Amante de Madame Vidal, de Louis Verneuill, um grande momento de Fernanda Montenegro (1929). Emprega uma visualidade rústica e fornece a ambientação adequada à encenação ríspida e soturna de Celso Nunes para Coriolano, de William Shakespeare (1564-1616), 1974.
Dois outros bons momentos da sua criatividade manifestam-se em Equus, de Peter Shaffer, direção também de Celso Nunes, 1976, para a qual emprega apenas um grande praticável circular e uns poucos objetos cênicos, facilitando com essa limpeza visual o alcance imaginário do drama; e, num formato oposto, o abarrotado mas desolado interior de um teatro semi-abandonado, onde transcorre a ação de Pano de Boca, de Fauzi Arap, em sensível montagem de Antônio Pedro (1940), que lhe rende o Prêmio Molière em 1975.
Dois cenários de base arquitetônica complexa e grandes movimentos de maquinaria foram construídos em 1975: para Absurda Pessoa, de Alan Ayckbourn, encenada por Renato Borghi (1937), três cozinhas se apóiam num palco giratório, permitindo, em cada ato, o uso de uma delas; e a neoclássica e austera sala principal de uma propriedade rural norte-americana onde transcorre a ação de A Mais Sólida Mansão, texto de Eugene O'Neill (1888-1953) que exige bem marcados recortes de ambiente, espetáculo dirigido por Fernando Torres (1927-2008).
Um interior miserável é desenhado por Flaksman para Trivial Simples, agudo drama de Nelson Xavier (1941), em 1976; e uma sala classe média um pouco cafona, para a deliciosa comédia de Millôr Fernandes (1923-2012), É..., ponte para o talento de Fernanda Montenegro, em 1977.
Faz sua estréia como diretor em 1978, com Nó Cego, drama alegórico de autoria e interpretação de Carlos Vereza (1939), no qual sua soturna cenografia quase medieval rende bem mais que sua condução de cena.
A ambientação para Rasga Coração, de Oduvaldo Vianna Filho (1936-1974), em 1980, mostra-se grandiosa, grandes praticáveis interligados por escadas que permitem as múltiplas passagens entre os tempos e espaços requeridos pela ação.
A partir da década de 80, Marcos passa a dedicar-se com afinco à arquitetura de edifícios cênicos, sejam teatros ou auditórios, alcançando resultados expressivos e contribuindo para dotar o país de melhores condições técnicas nas casas de espetáculos. Para o Serviço Social do Comércio, Sesc, desenvolve muitos projetos de teatros, em diversos Estados do país. Em São Paulo, cria projetos para a casa de shows Palace e empreende grande reforma das salas de cinema do Cine Belas Artes. No Rio de Janeiro, o Teatro Maison de France é restaurado em 1991 sob sua supervisão. Em 1992, é o responsável pelo projeto cenotécnico da sala azul do Itaú Cultural. Em 1993 constrói dois amplos teatros para o Centro de Comunicação Anhembi.
No cinema, participa de diversas produções nacionais e internacionais como diretor de arte, com destaque para os filmes Moon Over Parador (Luar sobre Parador), de Paul Mazursky; Os Sete Gatinhos, de Neville D'Almeida; O Que É Isso Companheiro?, de Bruno Barreto (1955); Villa-Lobos, uma vida de paixão, de Zelito Viana (1938); e O Xangô de Baker Street, de Miguel Faria.
Ao fazer um balanço das atividades e estética de Flaksman no teatro, o crítico Yan Michalski (1932-1990) conclui: "A sólida visão arquitetônica é decisiva na definição do estilo cenográfico pessoal de Marcos Flaksman. Suas ambientações tendem a jogar com amplos espaços vazios, composições geométricas e formas retilíneas. Depois de mergulhar fundo na vanguarda dos anos 60/70, evoluiu para linha mais clean e elegante; e, em alguns casos, para uma certa monumentalidade. Em muitos dos seus espetáculos foi também o figurinista; mas é sobretudo como cenógrafo que marcou o teatro brasileiro das últimas três décadas"1.
Nota
1 MICHALSKI, Yan. Marcos Flaksman. In: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.
Obras 1
Espetáculos 69
Exposições 1
Fontes de pesquisa 16
- ALBUQUERQUE, Johana. Celso Nunes. In: ______. Enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. São Paulo, 2000. Material elaborado em projeto de pesquisa para a Fundação Vitae. Ficha curricular.
- ANUÁRIO de teatro 1994. São Paulo: Centro Cultural São Paulo, 1996. R792.0981 A636t 1994
- AS TRÊS Irmãs. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1972]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- MICHALSKI, Yan. Marcos Flaksman. In: ______. Pequena enciclopédia do teatro brasileiro contemporâneo. Rio de Janeiro, 1989. Material inédito, elaborado em projeto para o CNPq.
- O Baile. [Rio de Janeiro]: Companhia do Gesto, [1993]. Programa do Espetáculo. Não catalogado
- PODER Negro. São Paulo: Teatro Oficina Uzyna Uzona, [1968]. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Oficina.
- Programa do Espetáculo - Absurda Pessoa - 1975. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo - Classe Média Televisão Quebrada - 1978. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Equus - 1975. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - O Homem Inesperado - 2008. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - Rasga Coração - 1980. Não catalogado
- Programa do Espetáculo - É... - 1977. Não Catalogado
- Programa do Espetáculo- Ensina-me A Viver - 1981. Não catalogado
- SERIA cômico se não fosse sério. Sâo Paulo, 1976-1977. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Sesc Anchieta.
- SERIA cômico se não fosse sério. Sâo Paulo, 1976-1977. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro Sesc Anchieta. Não catalogado
- SHOW BRAS. Orfeu. Disponível em: http://www.showbras.com.br/orfeu/orfeu_ABERTURA.html. Não Catalogado
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
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MARCOS Flaksman.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa217064/marcos-flaksman. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7