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Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Teatro Nacional de Comédia (TNC)

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 11.05.2023
1956 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
1967 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Criada no governo de Juscelino Kubitschek, é a terceira, última e mais duradoura das companhias oficiais patrocinadas pelo Serviço Nacional de Teatro nas décadas de 1940 e 1950. Em dez anos, o Teatro Nacional de Comédia realiza duas montagens importantes: Pedro Mico, seu único sucesso de público, e Rasto Atrás, seu único sucesso artístico.

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Histórico
Criada no governo de Juscelino Kubitschek, é a terceira, última e mais duradoura das companhias oficiais patrocinadas pelo Serviço Nacional de Teatro nas décadas de 1940 e 1950. Em dez anos, o Teatro Nacional de Comédia realiza duas montagens importantes: Pedro Mico, seu único sucesso de público, e Rasto Atrás, seu único sucesso artístico.

As experiências com duas companhias oficiais anteriores - a Comédia Brasileira, 1940/1945 e a Companhia Dramática Nacional - CDN, 1953/1954 - não são bem-sucedidas, faltando-lhes nitidez de propósitos. Ao anunciar a criação do Teatro Nacional de Comédia - TNC, o diretor do Serviço Nacional de Teatro - SNT, Edmundo Muniz, mostra que o problema persiste quando declara à imprensa que os objetivos da companhia são criar público e montar textos de qualidade da dramaturgia universal.

Em 1956, os primeiros espetáculos da companhia são um fracasso de público. O primeiro, Memórias de Um Sargento de Milícias, adaptação do romance de Manuel Antônio de Almeida, com direção de João Bethencourt, é bem recebido pela crítica, que reconhece tratar-se de um trabalho bem realizado, embora sem maior interesse. O segundo, com direção de Paulo Francis, é O Dilema de um Médico, um texto de Bernard Shaw preso demais à realidade inglesa. Nenhuma das duas produções consegue esconder o desequilíbrio do elenco, que mistura estreantes com profissionais experientes.

Em 1957, a direção da companhia contrata Gianni Ratto e novos atores - entre eles, Tereza Raquel, Sebastião Vasconcelos e Milton Moraes. A equipe monta Guerras do Alecrim e Manjerona, de Antônio José da Silva, o Judeu. Mas as críticas ao elenco persistem e Henrique Oscar, do Diário de Notícias, denuncia explicitamente a imposição, para o principal papel feminino, de uma funcionária do SNT - referindo-se a Beatriz Veiga, que, com efeito, protagoniza vários espetáculos. Entre as realizações do ano, sobressai um texto de Antônio Callado (1917 - 1997), com direção de Paulo Francis, Pedro Mico, que aborda a vida do favelado e do malandro carioca. Embora a montagem beire a caricatura, com o exagero do linguajar típico, enunciado por atores brancos pintados de preto, em um texto que se pretende realista, Pedro Mico obtém a primeira boa repercussão da companhia.

Mesmo quando encena textos de autores polêmicos e modernos como Bertolt Brecht ou Nelson Rodrigues, o conjunto não impressiona. Yan Michalski e Rosyane Trotta, ao estudarem a trajetória das companhias oficiais brasileiras, observam, na avaliação sobre o TNC, que a repercussão crítica de suas 16 produções e 20 peças encenadas "é tão negativa que poderia quase servir de argumento àqueles que consideram que não há condições para uma existência útil de uma companhia oficial no Brasil".1 Argumentando que, entre 1956 e 1967, período de atividade da companhia, o teatro brasileiro vive um período único em sua história, com surtos de amadurecimento e diversificação, os autores mostram que o TNC está à margem desse processo e que não usufrui de suas conquistas nem se deixa levar por esses novos ares. Mesmo quando, em 1961, José Renato muda-se para o TNC, com o objetivo de fazer dele uma ampliação do Teatro de Arena, a máquina administrativa oferece resistência e, já na primeira encenação, Boca de Ouro, de Nelson Rodrigues, há um impasse provocado pela interferência do SNT na distribuição do elenco. Com decisões tomadas de cima para baixo, é impossível à companhia se constituir como um verdadeiro coletivo de artistas. Há também uma incompatibilidade de princípio entre a rigidez da burocracia oficial e a flexibilidade exigida pelo dia-a-dia de uma companhia teatral. O TNC apresenta O Telescópio, uma das peças menos importantes de Jorge Andrade, dois anos depois da encenação de uma de suas obras-primas, A Moratória, de 1955, pelo Teatro Maria Della Costa - TMDC; encena O Pagador de Promessas, em 1962, dois anos depois de uma montagem superior realizada pelo Teatro Brasileiro de Comédia - TBC; coloca em pauta Bertolt Brecht em 1957, quando ele ainda era inédito, mas só consegue encená-lo em 1963, com O Círculo de Giz Caucasiano, direção de José Renato, quando quatro outros textos do autor já tinham sido encenados no país. Enquanto o Teatro de Arena faz história montando Eles Não Usam Black-Tie, o TNC monta textos bem comportados como Antes da Missa, de Machado de Assis, e A Jóia, de Artur Azevedo.

A única montagem realmente marcante realizada pela companhia é Rasto Atrás, de Jorge Andrade, com direção de Gianni Ratto, em 1966. Nela soma-se uma peça emocionante e bem construída a uma direção que, trabalhando a interpretação de modo a iluminar cada frase do texto, renova a linguagem cênica por meio de uma criação cenográfica que dinamiza a ação, e um elenco que desempenha com maturidade suas funções.

Além de Rasto Atrás, espetáculo-despedida da companhia, destacam-se, no saldo de onze anos da companhia: a qualidade da adaptação de Francisco Pereira da Silva para Memórias de Um Sargento de Milícias, 1956; o programa triplo de 1957, que leva ao palco os textos inéditos de dramaturgos contemporâneos brasileiros O Telescópio, de Jorge Andrade, Jogo de Crianças, de João Bethencourt, e Pedro Mico, de Antônio Callado; a encenação da dramaturgia brasileira moderna com Boca de Ouro, 1961, e O Pagador de Promessas, 1962, ambas direções de José Renato; as primeiras encenações brasileiras de As Três Irmãs, de Anton Tchekhov, por Ziembinski, 1960, e O Círculo de Giz Caucasiano, de Bertolt Brecht, por José Renato, 1963 (embora às tentativas não tenha correspondido o resultado esperado); a direção, em 1965, de Dulcina de Moraes para O Noviço, de Martins Pena, injetando no texto uma boa dose de graça obtida por meio da linha de interpretação.

 

 

 

Notas

 

1. MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro do Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. p. 185.

Espetáculos 26

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Fontes de pesquisa 1

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  • MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro no Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. 235 p. (Teatro, 21).

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