Ordenação

Tipo de Verbete

Filtros

Áreas de Expressão
Artes Visuais
Cinema
Dança
Literatura
Música
Teatro

Período

A Enciclopédia é o projeto mais antigo do Itaú Cultural. Ela nasce como um banco de dados sobre pintura brasileira, em 1987, e vem sendo construída por muitas mãos.

Se você deseja contribuir com sugestões ou tem dúvidas sobre a Enciclopédia, escreva para nós.

Caso tenha alguma dúvida, sugerimos que você dê uma olhada nas nossas Perguntas Frequentes, onde esclarecemos alguns questionamentos sobre nossa plataforma.

Enciclopédia Itaú Cultural
Teatro

Pedro Mico

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 23.05.2016
10.09.1957 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro
Registro fotográfico Julio Agostinelli Em cena Milton Moraes (Pedro Mico), Haroldo de Oliveira (Zemédio) e Nicette Bruno (Aparecida)

Cena do espetáculo Pedro Mico, 1959
Julio Agostinelli
Acervo Idart/Centro Cultural São Paulo

Pequena peça de Antônio Callado, Pedro Mico estréia no Teatro Nacional de Comédia, em um espetáculo composto por outros dois textos: O Telescópio, de Jorge Andrade, e Jogo de Crianças, de João Bethencourt. Com cenário de Oscar Niemeyer e direção de Paulo Francis, é o espetáculo de maior êxito também da companhia.

Texto

Abrir módulo

Histórico
Pequena peça de Antônio Callado, Pedro Mico estréia no Teatro Nacional de Comédia, em um espetáculo composto por outros dois textos: O Telescópio, de Jorge Andrade, e Jogo de Crianças, de João Bethencourt. Com cenário de Oscar Niemeyer e direção de Paulo Francis, é o espetáculo de maior êxito também da companhia.

Pedro Mico se passa no Morro da Catacumba e aborda a vida do favelado e do malandro carioca. Milton Moraes, no papel título, se empenha em um trabalho de composição que desperta elogios, mas também críticas ao exagero da fala e dos gestos. Décio de Almeida Prado comenta: "Milton Moraes é o protagonista, numa criação também altamente estilizada, como a própria peça, lembrando certos atores de 'musical' norte-americano que carregam nos traços para que se crie a necessária atmosfera de farsa. É uma caricatura, se quiserem, mas sem dar obrigato­riamente à palavra um sentido pejorativo. As vezes, Milton Moraes passa dos limites, no sentido de ir além do que estamos dispostos a conceder-lhe; outras vezes, com muito maior freqüência, extrai do papel excelentes efeitos, tanto na afetação quanto na pseudosimplicidade, criando uma personagem inteiramente artificial e nem por isso menos engraçada".1 Embora a montagem carregue demais no linguajar típico do malandro e recorra a atores brancos pintados de preto, para por em cena um texto que se pretende realista, Pedro Mico consegue a primeira boa repercussão da companhia.

O espetáculo é também pivô de um conflito entre a companhia e o então arcebispo-auxiliar do Rio de Janeiro Dom Hélder Câmara. Incomodado com a cena final, em que o povo conclama Pedro a liderar uma descida do morro para tomar as casas da Lagoa, bairro de classe média do Rio de Janeiro. Dom Hélder afirma, em entrevista ao jornal O Globo, que a peça coloca "tochas acesas nas mãos de 500 mil favelados" ao fazer uma analogia entre o protagonista e Zumbi, e declara achar "inconcebível que órgãos oficiais se mostrem tão solícitos em divulgar o apelo para o levante geral das favelas".2

A possibilidade de suspensão da temporada e a publicação da declaração do arcebispo-auxiliar dão origem a uma polêmica nos jornais. Respondendo simultaneamente a ele e às críticas à composição de Milton Moraes, Paulo Francis escreve um extenso artigo. Com seu estilo irônico, o diretor tenta provar o realismo de sua linguagem narrando sua amizade de juventude com um malandro preso por vários homicídios e afirmando que: "Os malandros de morro fazem coisas, assumem posturas e maneiras de andar, perto das quais Oscarito parece Alec Guinnes, em matéria de discrição".3

A crítica reconhece os méritos do texto e da direção - mas a montagem não chega a ganhar nem a contundência nem a dimensão supostas pela igreja. Yan Michalski, apesar de considerar Pedro Mico a mais bem realizada das três peças que compõem o espetáculo, escreve: "O cenário de Oscar Niemeyer, estilizadíssimo, é muito bonito, mas a nosso ver totalmente inadequado para a peça (...). Achamos que a direção teria obtido maior rendimento se não mantivesse toda a representação num tom violento, exacerbado. Três quartos de hora de gritaria e intensa movimentação cansam e terminam por não impressionar mais. Se Pedro Mico ficasse algumas vezes calmo, suas explosões e sua fúria causariam muito mais efeito".4

O crítico Paschoal Carlos Magno, do Correio da Manhã, ao contrário, aprova integralmente a realização, inclusive o cenário de Oscar Niemeyer, que "com meios simples, de grande vigor sintético e plástico, criou o ambiente daquele barraco plantado à beira de um precipício".5

Pedro Mico se torna um pequeno clássico da dramaturgia nacional e, pela repercussão de sua montagem de estréia, o espetáculo mais polêmico da companhia oficial brasileira.

Notas
1 PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso. São Paulo: Martins, 1964, p. 128.
2 Citado por MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro no Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. p. 134.
3 FRANCIS, Paulo. Pedrinho Mico. Diário Carioca, Rio de Janeiro, 20 set. 1957.
4 MICHALSKI, Yan. Citado op. cit. p. 132.
5 MAGNO, Paschoal Carlos. Citado por op. cit. p. 133.

Ficha Técnica

Abrir módulo
Autoria
Antonio Callado

Direção
Paulo Francis

Cenografia
Oscar Niemeyer

Figurino
Kalma Murtinho

Elenco
Beyla Genauer / Pedro Mico
Edson Silva / Pedro Mico
Fábio Sabag / Pedro Mico
Haroldo de Oliveira / Pedro Mico
Milton Moraes / Pedro Mico
Munira Haddad / Pedro Mico
Soriano / Pedro Mico

Obras 1

Abrir módulo
Registro fotográfico Julio Agostinelli Em cena Milton Moraes (Pedro Mico), Haroldo de Oliveira (Zemédio) e Nicette Bruno (Aparecida)

Fontes de pesquisa 3

Abrir módulo
  • MICHALSKI, Yan; TROTTA, Rosyane. Teatro e estado: as companhias oficiais de teatro no Brasil: história e polêmica. São Paulo: Hucitec; Rio de Janeiro: Instituto Brasileiro de Arte e Cultura, 1992. 235 p. (Teatro, 21).
  • PEDRO Mico. Rio de Janeiro: Funarte / Cedoc. Dossiê Espetáculos Artes Cênicas.
  • PRADO, Décio de Almeida. Teatro em progresso: crítica teatral, 1955-1964. São Paulo: Martins, 1964.

Como citar

Abrir módulo

Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo: