Théo de Barros
Texto
Theophilo Augusto de Barros Neto (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1943). Violonista, compositor, arranjador e produtor. Filho do jornalista e compositor Theophilo de Barros Filho (1911-1969), diretor artístico da Rádio Tupi, e da cantora Maria de Lourdes Barros (1921-2013), ex-integrante do Quarteto Tupã. Inicia seus estudos de música aos dez anos de idade, tendo como primeiros instrumentos o acordeom e o violão. Em 1954, transfere-se com a família para São Paulo. Dois anos mais tarde, já se apresenta em bailes e shows amadores, e começa a compor.
Estreia profissionalmente tocando guitarra elétrica na banda Lafayette e Seu Conjunto. Como violonista, contrabaixista ou guitarrista, integra diversos grupos na noite paulistana em princípios da década de 1960, atuando ao lado de músicos como o pianista César Camargo Mariano (1943), o baixista Sabá Oliveira (1927-2010) e o organista Renato Mendes (1939-2013), com quem lança o disco Boliche Trio, em 1966, com repertório ligado a bossa nova. No mesmo ano, lança seu primeiro disco, um compacto com composições próprias, “Vim de Santana” e “Fim”.
Em 1966, sua música “Disparada”, com letra de Geraldo Vandré (1935) e na interpretação de Jair Rodrigues (1939-2014), vence o II Festival da Música Popular Brasileira da TV Record, empatada com “A banda”, de Chico Buarque (1944). No mesmo ano, com Airto Moreira (1941), Hermeto Pascoal (1936) e Heraldo do Monte (1935), forma o Quarteto Novo, criado para acompanhar Vandré em shows. Em 1967, além de lançar seu único LP (homônimo), o grupo participa do III Festival de Música da TV Record, defendendo a canção vencedora, “Ponteio” [Edu Lobo (1943) e Capinan (1941)], juntamente com Edu Lobo e a cantora Marília Medalha.
Théo de Barros participa intensamente de produções teatrais do Teatro de Arena de São Paulo (1953-1972), assinando a direção musical de peças como Arena Conta Tiradentes (1967), de Augusto Boal (1931-2009) e do ator italiano Gianfrancesco Guarnieri (1934-2006), e Arena Conta Bolívar (1970), também de Boal. Compõe ainda para os espetáculos Abelardo & Heloísa (1971) e A Capital Federal (1972), ambos dirigidos pelo dramaturgo Flávio Rangel (1934-1988), e para o filme Quelé do Pajeú, de Anselmo Duarte (1920-2009).
Entre meados dos anos 1970 e início dos 2000, atua na publicidade, criando mais de 2.000 jingles para campanhas de marcas como a companhia aérea VASP.
Também assina a produção e arranjos de discos aristas como Dick Farney (1921-1987), Adauto Santos (1940-1999) e Edu da Gaita (1916-1982), além de se apresentar como violonista ao lado das cantoras Silvia Maria, Ivetthy Souza, Inezita Barroso (1925-2015) e Márcia (1943).
Análise
Théo de Barros integra o grupo de compositores da chamada segunda fase da bossa nova, além de dialogar com seus contemporâneos Edu Lobo (1943), Sérgio Ricardo (1932) e Dorival Caymmi (1943). Tendo sido criado em um ambiente familiar musical, devido à proximidade dos seus pais com a classe artística, ele adquire um repertório vasto de referências: da música de concerto e do cancioneiro norte-americano aos sons folclóricos do interior do Brasil.
Essas influências ajudam a definir sua personalidade artística. Ao longo da carreira, Barros demonstra um interesse constante em misturar a modernidade urbana com a tradição regional, utilizando em suas composições e arranjos harmonias complexas, herdadas do jazz e da bossa nova, mas aproveitando também a força melódica e rítmica aprendida a partir de motivos da cultura popular.
É o que se ouve, por exemplo, em “Menino das laranjas” e “Disparada” (esta, com versos de Geraldo Vandré), os maiores sucessos do compositor. Se a primeira é um samba-jazz de melodia ágil e com espaço para a improvisação, a segunda é uma moda de viola de sotaque nordestino. Ambas trazem nas letras outra característica marcante da obra do autor: a temática social tratada em tom de protesto, que aparece especialmente em suas canções dos anos 1960 e 1970.
Uma postura mais combativa também se revela nas músicas que escreve para o Teatro de Arena, como “Espanto” (em parceria com Gianfrancesco Guarnieri e Augusto Boal) e “Mi patria” (a partir de versos do poeta cubano Nicolás Guillén), quando se aproxima do bolero e de outros gêneros latino-americanos.
O que prevalece em sua geografia musical, no entanto, é o Brasil. Filho de pai alagoano e mãe potiguar, os sons nordestinos ganham destaque em temas como o baião “Vim de Santana”, o coco “Embolador” e a ciranda “Marinha morena” – as duas últimas com letra de Paulo César Pinheiro (1949), seu parceiro mais frequente. Já a cultura afrodescendente aparece em “Oxalá” e “Angola” (com Pinheiro).
O interesse pela música interiorana e as manifestações folclóricas regionais também se reflete em alguns dos trabalhos que Barros assina como produtor discográfico ou arranjador. Ele é o coordenador dos quatro álbuns da série Música popular do Centro-Oeste/Sudeste (Discos Marcus Pereira, 1974) e o responsável pelos arranjos da maior parte das faixas da clássica antologia Caipira – raízes e frutos (Eldorado, 1980).
As canções de temática romântica também têm espaço no repertório do compositor, entre as quais podem ser citadas: “Pra não ser mais tristeza”, “Seja meu amor”, “Amor de poeta” [com Cristina Saraiva (1962)] e “Aquele carinho” (com Paulo César Pinheiro).
Como solista, costuma fazer releituras de obras de outros autores, como “Estrada branca” [Tom Jobim (1927-1994) e Vinicius de Moraes (1913-1980)], “Serra da Boa Esperança” [Lamartine Babo (1904-1963)] e “Bebê” (Hermeto Pascoal).
No violão, a principal referência para Théo de Barros é o carioca Luiz Bonfá (1922-2001). Assim como o ídolo, utiliza os cinco dedos da mão direita para tanger as cordas. Sem excessos virtuosísticos, sua técnica apurada valoriza a harmonia das composições. Ele acredita que o auge de sua atuação como instrumentista está em seu trabalho junto ao Quarteto Novo, ao lado nos amigos Hermeto Pascoal (flauta), Heraldo do Monte (viola) e Airto Moreira (percussão). “Foi a maior experiência musical que eu tive”, comenta em entrevista concedida ao programa Instrumental Sesc Brasil (TV Sesc, 2010). Barros costuma empunhar o violão de sete cordas, o que amplia suas possibilidades de uso de notas mais graves em solos e na construção dos acordes.
Obras 3
Espetáculos 13
Fontes de pesquisa 8
- ARENA conta Tiradentes. São Paulo: Teatro de Arena, 1967. 1 programa do espetáculo realizado no Teatro de Arena. Não catalogado
- BARROS, Theo. Entrevista concedida a Charles Gavin para o programa Som do Vinil (Canal Brasil). Disponível em: http://osomdovinil.org/quarteto-novo-quarteto-novo/. Acesso em: 15 dez. 2015.
- INSTITUTO Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro. Disponível em: http://www.memoriamusical.com.br. Acesso em: 15 dez. 2015.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- Programa do Espetáculo - Abelardo e Heloisa - 1971. Não catalogado
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
- SOUZA, Tárik de. “Théo de Barros volta a compor”. In: Cliquemusic. Disponível em: http://cliquemusic.uol.com.br/materias/ver/theo-de-barros-volta-a-compor. Acesso em: 15 dez. 2015.
- SUKMAN, Hugo. Sem medo de voltar à música. O Globo, São Paulo, 17 abr. 2004. Segundo Caderno.
Como citar
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THÉO de Barros.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa12181/theo-de-barros. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7