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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Como Vai Você, Geração 80?

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 21.12.2023
14.07.1984 - 12.08.1984 Brasil / Rio de Janeiro / Rio de Janeiro – Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV Parque Lage)
"Como vai você, Geração 80?". A pergunta, em tom casual, dá título a uma grande exposição realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage) Jardim Botânico, Rio de Janeiro, aberta em 14 de julho de 1984. Os curadores da mostra, Marcus de Lontra Costa (1954), Paulo Roberto Leal (1946 - 1991) e Sandra Magger, afirmam o caráter ...

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Histórico

"Como vai você, Geração 80?". A pergunta, em tom casual, dá título a uma grande exposição realizada na Escola de Artes Visuais do Parque Lage (EAV/Parque Lage) Jardim Botânico, Rio de Janeiro, aberta em 14 de julho de 1984. Os curadores da mostra, Marcus de Lontra Costa (1954), Paulo Roberto Leal (1946 - 1991) e Sandra Magger, afirmam o caráter de sondagem do empreendimento, que visa trazer à tona a produção variada que tem lugar na década de 1980. Não se trata de lançar manifestos, determinar modelos e/ou posturas unívocas, mas de aferir algumas tendências artísticas que se manifestam no momento. "Está tudo aí", afirmam Lontra e Leal, "todas as cores, todas as formas, quadrados, transparências, matéria, massa pintada, massa humana, suor, aviãozinho, geração serrote, radicais e liberais, transvanguarda, punks, panquecas, pós-modernos, neo-expressionistas (...)." Espécie de balanço realizado no calor da hora, a exposição reúne 123 artistas de idades e formações distintas como Alex Vallauri (1949 - 1987)Ana Maria Tavares (1958)Beatriz Milhazes (1960)Cristina Canale (1961) e Daniel Senise (1955).

Ainda que o título da exposição faça menção a uma "geração 80" genérica, o fato é que dela participam majoritariamente artistas do Rio de Janeiro e de São Paulo. Boa parte dos cariocas tem ligação com a EAV/Parque Lage, na época coordenada por Luiz Áquila (1943). Os paulistas, em sua maioria, formam um grupo oriundo dos cursos de artes da Fundação Armando Álvares Penteado (Faap). Tal evidência leva a que alguns perguntem se essa seria mesmo uma mostra representativa da nova geração, já que se trata de uma exposição "carioca com apêndice paulista". Reparos à parte, a exposição torna-se uma referência importante para a compreensão de algumas direções tomadas pelas artes visuais na década de 1980. Nos textos de apresentação para o catálogo (editado em número especial da revista Módulo, de julho de 1984), os curadores e críticos são unânimes em apontar a marca diferencial da nova geração, a despeito de sua diversidade evidente. Diz Sandra Magger: "A nova arte reflete os novos caminhos da pintura da geração 80, distante da racionalidade da arte dos anos 70 - conceitual". Em outros termos, Frederico Morais indica direção semelhante: "Diferentemente das vanguardas dos anos 60 (artísticas ou políticas), que sonhavam em colocar a imaginação no poder, que acreditavam ser a arte capaz de transformar o mundo, que se iludiam com as utopias sociais, os jovens artistas de hoje descrêem da política e do futuro (...). E, na medida em que não estão preocupados com o futuro, investem no presente, no prazer, nos materiais precários, realizam obras que não querem a eternidade dos museus nem a glória póstuma".

Sem desconsiderar as diferenças entre as obras e artistas - talvez o aspecto mais interessante da coletiva -, é possível localizar alguns traços distintivos na produção dos jovens artistas em atividade na década de 1980. Parte considerável dos integrantes da mostra do Parque Lage parece compartilhar a produção dos ateliês coletivos que se sucedem na época - Casa 7 e o Ateliê da Lapa, por exemplo -, o compromisso forte com a retomada da pintura. As grandes dimensões dos trabalhos, quase sempre livres dos chassis, e a ênfase no gesto pictórico são marcas dessa produção, o que leva alguns estudiosos a falar em um novo informalismo experimentado por toda a geração. O uso de cores tradicionalmente incompatíveis, a pesquisa de novos materiais e o acabamento bruto parecem ser outros elementos a aproximar parte significativa da produção da década. Alguns artistas e grupos dialogam mais diretamente tanto com o neo-expressionismo - uma tendência contemporânea - quanto com tendências modernas, como o expressionismo abstrato, como aqueles reunidos na Casa 7, explorando as trilhas abertas pela arte abstrata do período posterior à Segunda Guerra, em suas vertentes européia e norte-americana. Outros, como diversos artistas presentes na Como vai você, Geração 80?, se beneficiam mais diretamente da produção com as novas figurações, com o pop e a transvanguarda.

A localização de algumas inspirações comuns não é suficiente para empreender uma classificação tranqüila das obras reunidas na mostra de 1984. Com base em matrizes assemelhadas, os trabalhos chegam posteriormente a resultados muito diversos, que se relacionam também com a formação diferenciada dos artistas. Daniel Senise e Luiz Pizarro (1958), alunos de John Nicholson (1951) e Luiz Áquila, estão diretamente envolvidos com o registro de paisagens, objetos e formas volumosas que ocupam a quase totalidade das telas. As obras de Beatriz Milhazes, por sua vez, chamam a atenção pelo apreço à ornamentação e à art deco. Elementos decorativos também se fazem presentes nas composições de Mônica Nador. Só que aí se destaca um compromisso com a transcendência e com a abstração meditativa, indica a crítica de arte Aracy Amaral, pela incursão na pintura de mandalas e nas imagens repletas de sugestões religiosas. Leonilson explora a figuração desde os desenhos e pinturas da primeira fase de sua obra. O humor, a crítica social e o interesse pelo poder narrativo das imagens são marcas fortes de seu trabalho. A recuperação da idéia de artesanato, da costura e da tecelagem - que as obras de Leonilson empreendem - se faz presente, de outro modo, nas telas de Leda Catunda. E chama a atenção a multiplicidade de materiais empregados - toalhas, couros, plásticos, peças de vestuário, pelúcia etc. -, que se transfiguram quando colocados lado a lado. Sérgio Romagnolo prefere os materiais industrializados para compor obras escultóricas que remetem simultaneamente à tradição barroca e ao neopop. Os objetos e peças de Ana Maria Tavares, que primam pela qualidade da execução, transitam entre a escultura e o design, entre os modelos industriais e aqueles fornecidos pela natureza. Longe das construções precárias, dos "bolos" e "emaranhados" de Frida Baranek.

As repercussões da coletiva de julho de 1984 podem ser aferidas pela consagração e reconhecimento alcançados por boa parte dos artistas participantes. De grande impacto no momento, a mostra entra para a história das artes plásticas brasileiras contemporâneas como marco significativo da nova pintura. É o que atesta sua reedição modificada, realizada de julho a setembro de 2004, no Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB), no Rio de Janeiro.

Ficha Técnica

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Fontes de pesquisa 7

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  • ARTE híbrida. Rio de Janeiro: Funarte, 1989.
  • CATUNDA, Leda. Leda Catunda. São Paulo: Galeria de Arte São Paulo, 1990. 16 p., il. color.
  • CHIARELLI, Tadeu. Arte internacional brasileira. São Paulo: Lemos, 1999.
  • GONÇALO Ivo - Biografia. Disponível em: https://goncaloivo.portfolio.site/about.
  • MILHAZES, Beatriz. [Currículo virtual]. Disponível em: https://beatrizmilhazes.com/wp-content/uploads/2021/03/2021_01_beatriz_milhazes_biografia_port.pdf. Acesso em: 29 set. 2021.
  • MORAIS, Frederico. Cronologia das artes plásticas no Rio de Janeiro: da Missão Artística Francesa à Geração 90: 1816-1994. Rio de Janeiro: Topbooks, 1995.
  • MOSTRA DO REDESCOBRIMENTO, 2000, SÃO PAULO, SP. Arte contemporânea. Curadoria geral Nelson Aguilar; curadoria Nelson Aguilar, Franklin Espath Pedroso; tradução Arnaldo Marques, Ivone Castilho Benedetti, Izabel Murat Burbridge, Katica Szabó, John Norman. São Paulo: Fundação Bienal de São Paulo : Associação Brasil 500 anos Artes Visuais, 2000.

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