Gonçalo Ivo
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Floresta em La Bonneville, 2001
Gonçalo Ivo
Aquarela
37,00 cm x 31,50 cm
Texto
Gonçalo de Medeiros Ivo (Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 1958). Artista plástico, arquiteto. Sua obra se articula sobre três elementos fundamentais: a geometria, a cor e o processo de criação. É considerado um dos maiores coloristas brasileiros da arte contemporânea, um “alquimista das cores”.
Filho do jornalista e poeta Lêdo Ivo (1924-2012) e da professora Maria Leda Sarmento de Medeiros Ivo (1923-2004), é influenciado pela circulação dos pais em ambientes culturais. Além de conhecer escritores, frequenta desde criança ateliês de artistas plásticos, como Iberê Camargo (1914-1994). Pinta desde os sete anos de idade. Adolescente, matricula-se em aulas de pintura e de desenho no Museu de Arte Moderna no Rio de Janeiro (Mam Rio). As aulas são ministradas pelos artistas Aluísio Carvão (1920-2001) e Campos Mello (1932), que lhe apresentam o que há de mais notável na produção corrente nas artes visuais.
A trajetória do artista se inicia na passagem dos anos 1970 para 1980. Em 1983, forma-se em arquitetura e urbanismo pela Universidade Federal Fluminense (UFF) e, durante a década de 1980, trabalha como ilustrador e designer gráfico para editoras em São Paulo e no Rio de Janeiro. Participa de mostras coletivas e salões de artes, e integra, em julho de 1984, a exposição Como Vai Você, Geração 80?, na Escola de Artes Visuais do Parque Lage, com outros 123 artistas. Apesar de ser contemporâneo da chamada “Geração 80”, declara não se sentir integrante do grupo de jovens pintores cariocas. Nessa época, sua pintura figurativa destoa do interesse de seus colegas dedicados à abstração. Em 1986, leciona pintura na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) como professor visitante. Estabelece ateliê no bairro de Santa Teresa e também em Teresópolis, região serrana do Rio de Janeiro.
Em suas primeiras pinturas, já se observa a influência de artistas como Alfredo Volpi (1896-1988), Iberê Camargo e Lygia Clark (1920-1988), com os quais tem contato a partir da coleção de arte do pai. A geometria presente na obra desses artistas e a formação em arquitetura e urbanismo marcam a produção do pintor. Elementos de composição como superfícies, fachadas, azulejaria e paisagem são incorporados em suas pinturas. Na poética de suas obras, a geometria se organiza de modo impreciso, como uma “arquitetura da favela”1, na qual os elementos compositivos não apontam para um centro, mas se encontram distribuídos, como em paisagens. Essa configuração pode ser observada nas obras Pintura africana e Arcada, ambas de 1989.
Exímio colorista, cria os pigmentos como parte do processo artístico: a cor em suas pinturas não é dada, mas inventada pela investigação dos recursos oferecidos pelos materiais. Como Volpi, interessa-se pelo uso da têmpera que, somada à tinta óleo e à aquarela, determina a escolha para a produção de sua pintura. O uso da cor é intuitivo e ela prevalece sobre a grande variedade de estruturas formais, que transitam do transparente ao opaco. Esse conhecimento de materiais se revela na pintura, ofício entendido como artesania. Associa-se à tradição que considera preponderante o domínio técnico na concepção e no desenvolvimento dos trabalhos. Outras influências, como música e religião, instauram estados contemplativos e harmônicos em sua poética.
A incorporação de objetos em sua obra ocorre em meados da década de 1980, quando aplica pregos a um bloco de madeira encontrado nos arredores de seu ateliê em Teresópolis. Anos depois, cria uma série em que utiliza caixas de charuto como suporte para colagens e pintura. Apesar do uso de suportes alternativos, não considera esses objetos como entidades escultóricas, mas como extensão de sua pintura.
A década de 1990 evidencia o interesse pela pintura primitiva brasileira e africana e pela arte da Oceania. Como exemplo desse período, destaca-se a série Panos da costa, que apresenta pinturas compostas por padrões quase gráficos devido à repetição de elementos. O termo “pano da costa” faz referência a um tecido utilizado por mulheres africanas como proteção contra o mau-olhado. É o primeiro de sua geração a realizar uma exposição individual no Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (Mam Rio), em 1994.
Nos anos 2000, passa a viver no interior da França e, em seguida, em Paris. Nas séries Tissu d’Afrique e Prière, ambas dessa época, amplia a experimentação de materiais: utiliza colagens de papéis estampados e folhas de ouro sobre têmpera. O resultado lembra superfícies têxteis que abrigam ritmos heterogêneos. Em 2016, tem o conjunto de sua obra exposto na mostra intitulada Gonçalo Ivo: A Pele da Pintura, no Museu Oscar Niemeyer, em Curitiba. Em comemoração ao sucesso de público da exposição, que conta com mais de 70 mil visitantes, o artista lança o livro Métrica da cor (2017), dedicado à arte geométrica contemporânea.
No início de 2020, participa de uma residência artística da Fundação Josef & Anni Albers, na área rural de Bethany, Connecticut, Estado Unidos. Devido à quarentena imposta pela pandemia de Covid-19, fica isolado por um tempo maior do que o previsto. Desse isolamento, nascem as obras que, em 2022, compõem a exposição Zeitgeist, termo alemão que significa “espírito da época”, realizada no Paço Imperial, Rio de Janeiro. Fazem parte dessa mostra as séries Cosmogonia e Inventário das pedras solitárias.
As pinturas de Gonçalo Ivo traduzem suas referências e interesses, desde os mestres do passado até as paisagens vernaculares, em uma contundente observação do mundo real. O modo singular com que articula cor e forma faz dele um dos artistas mais importantes da pintura contemporânea no Brasil.
Notas
1. SUTILEZAS da obra de um colorista invade a Dan Galeria. O Estado de S. Paulo, São Paulo, 4 mar. 2012. Disponível em: http://cultura.estadao.com.br/noticias/geral,sutilezas-da-obra-de-um-colorista-invade-a-dan-galeria,20070417p2040. Acesso em: 10 set. 2023.
Obras 20
Arcada
Azul Ultramar
Chuva Oblíqua
Floresta em La Bonneville
Frutos para Antonia e Guignard
Exposições 182
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 18
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Como citar
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GONÇALO Ivo.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa9949/goncalo-ivo. Acesso em: 03 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7