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Enciclopédia Itaú Cultural
Artes visuais

Calder e a Arte Brasileira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 27.02.2024
01.09.2016 - 23.10.2016 Brasil / São Paulo / São Paulo – Itaú Cultural
Foto de reprodução Itaú Cultural

Capa da publicação da exposição Calder e a Arte Brasileira, 2016

A exposição Calder e a Arte Brasileira, realizada no Instituto Itaú Cultural, entre 31 de agosto e 23 de outubro de 2016, tem curadoria de Luiz Camillo Osorio (1963). Reúne obras do artista norte-americano Alexander Calder (1898-1976) em diálogo com a arte brasileira, em especial, com as linguagens construtivas das décadas de 1950 e 1960. Contan...

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A exposição Calder e a Arte Brasileira, realizada no Instituto Itaú Cultural, entre 31 de agosto e 23 de outubro de 2016, tem curadoria de Luiz Camillo Osorio (1963). Reúne obras do artista norte-americano Alexander Calder (1898-1976) em diálogo com a arte brasileira, em especial, com as linguagens construtivas das décadas de 1950 e 1960. Contando com 60 trabalhos, a mostra inclui desenhos, guaches, óleos, os notáveis móbiles, filmes reproduzindo seus trabalhos e as produções de 14 artistas brasileiros que têm suas trajetórias influenciadas por Calder. São eles: Abraham Palatnik (1928), Antonio Manuel (1947), Cao Guimarães (1965), Rivane Neuenschwander (1967), Carlos Bevilacqua (1965), Ernesto Neto (1964), Franklin Cassaro (1962), Hélio Oiticica (1937-1980), Judith Lauand (1922), Lygia Clark (1920-1988), Lygia Pape (1927-2004), Luiz Sacilotto (1924-2003), Waltercio Caldas (1946) e Willys de Castro (1926-1988).

A exposição tem como destaques os óleos Santos e São Paulo (1956), raramente exibidos, e o móbile Viúva Negra (1948), além de Objetos Cinéticos (ca. 1964/1986), de Palatnik, e esculturas da série Bichos (1960), de Clark.

Calder vem para o Brasil em 1948, quando são organizadas exposições individuais no Rio de Janeiro e em São Paulo. Seu trabalho é incluído na primeira e na segunda bienais de arte de São Paulo. O Museu de Arte Moderna do Rio de Janeiro (MAM/RJ) realiza uma mostra individual de seu trabalho em 1959. Ao todo, Calder visita o país em três ocasiões, fazendo amizade com artistas e arquitetos brasileiros. O contato mais duradouro é com o crítico Mário Pedrosa (1900-1981), que marca de forma indelével a carreira de ambos. Tendo o primeiro contato com a obra do artista em 1944, Pedrosa é um dos críticos que mais escreve sobre Calder. Naquele ano, em artigo para o jornal Correio da Manhã, o crítico escreve que “foi provavelmente esta absorção pelo ritmo que o fez procurar introduzir mais tarde um novo elemento, o movimento real, e não a sua representação”1.

A exposição é permeada por diálogos entre as práticas de Calder e a de, pelo menos, três gerações de artistas brasileiros, o que nos permite entender a longevidade de uma trajetória que atravessa tempos e territórios. Os móbiles de Calder, ocupam grande parte da exposição, revelam-se como desenhos no espaço. As estruturas leves, sustentadas por fios de aço ou arames, são acionadas por um simples toque ou uma rajada de vento. A aproximação com o acaso, por não sabermos o movimento que as obras realizarão, provoca um novo paradigma para a escultura nos anos 1930. 

A pesquisa de Calder auxilia-nos a entender que a escultura ganha autonomia e não se vincula à ideia de estátua ou monumento histórico. Liberta-se da base e do pedestal, subtrai a verticalidade – uma das características tradicionais da escultura – e adquire leveza espantosa. A autonomia da escultura em Calder liga-se ao momento histórico das artes. Os readymades do francês Marcel Duchamp (1887-1968), nos anos 1910, e a linguagem abstrata nas pesquisas do também romeno-francês Constantin Brancusi (1876-1957) criam uma triangulação que ajuda a entender esse momento de passagem e invenção da escultura. No caso de Calder, ela também faz uso de uma linguagem lúdica, e desafia a força da gravidade. 

O artista, em consonância com o desenvolvimento da indústria norte-americana, faz uso de seus estudos em engenharia mecânica e, com engrenagens e aplicações da física, cria formas dinâmicas que se relacionam com o corpo do espectador. Seus objetos negam a frontalidade na escultura e instauram um caminho ao redor da obra, enfatizando a construção de novos sentidos e formatações da escultura. É importante assinalar que, nos anos 1940, Nova York transforma-se no centro mundial das artes. Museus e escolas de arte são criados, e artistas de todo o mundo chegam à cidade, fomentando ambiente decisivo para a formação artística de Calder.

A ligação com a arte brasileira inicia-se quando visita o país. Em fins dos anos 1940, há um processo de institucionalização da arte com as fundações dos museus de arte moderna em São Paulo e Rio de Janeiro, do Masp e da Bienal de São Paulo. Há, também, a formação de compromissos estéticos, como os grupos Ruptura e Frente. Logo depois, os grupos concreto e neoconcreto, que priorizam o debate e a produção da arte abstrata. As experimentações nesse período da arte brasileira aliam os ideais construtivistas ao conceito orgânico, e aqui Calder tem grande importância. Há nos móbiles um caráter antropomórfico, a presença de uma vértebra ou um corpo sem carne. Estas características podem ser transferidas para os Bichos, de Lygia Clark, ou para o Ballet Neoconcreto (1958), de Lygia Pape, por exemplo.

Seu legado atravessa a arte concreta e chega à contemporaneidade. De forma indireta, é possível perceber que a simetria de suas formas no espaço, engendrando volume por meio de linhas suspensas, inspira os trabalhos conceituais de Waltercio Caldas. O filme Sopro (2000), de Guimarães e Neuenschwander, acompanha o caminhar de uma bolha pela paisagem sem nunca explodir. Duvidar da gravidade e instaurar a leveza como nortes do trabalho são características de Calder absorvidas por essa dupla de artistas e pela arte brasileira em geral.

Nota

1 PEDROSA, Mário. Calder, escultor de cata-ventos. In: ARANTES, Otília (Org.). Modernidade cá e lá: textos escolhidos de Mário Pedrosa IV. São Paulo: Edusp, 2000, p. 57.

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