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Enciclopédia Itaú Cultural
Música

Renato Teixeira

Por Editores da Enciclopédia Itaú Cultural
Última atualização: 25.10.2023
1945 Brasil / São Paulo / Santos
Kuarup Foto Itaú Cultural

Cantoria Brasileira - Elomar, Pena Branca, Renato Teixeira, Teca Calazans, Chico Lobo e Xangai, 2002
Elomar, Renato Teixeira, Xangai, Teca Calazans, Pena Branca

Renato Teixeira de Oliveira (Santos, São Paulo, 1945). Cantor e compositor. Aos 15 anos, trabalha como radialista da rádio Difusora de Taubaté, ao lado de Teodoro Israel, conhecedor de música caipira. Em 1967, forma-se em engenharia pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), mas não atua na profissão. Muda-se para São Paulo e conhece Chico...

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Biografia

Renato Teixeira de Oliveira (Santos, São Paulo, 1945). Cantor e compositor. Aos 15 anos, trabalha como radialista da rádio Difusora de Taubaté, ao lado de Teodoro Israel, conhecedor de música caipira. Em 1967, forma-se em engenharia pelo Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), mas não atua na profissão. Muda-se para São Paulo e conhece Chico Buarque (1944), Caetano Veloso (1942), Gal Costa (1945) e Geraldo Vandré (1935).

Em 1967, participa do 3º Festival da MPB da TV Record com a marcha “Dadá Maria” (1967), defendida por Gal Costa, com quem grava a canção em dueto. No ano seguinte, compõe com Beto Ruschel a valsinha “Madrasta”, defendida por Roberto Carlos (1941) no 4º Festival da MPB.  Ainda no final dos anos 1960, integra o grupo Água, ao lado de diversos músicos, como Oswaldinho do Acordeon (1954), Papete (1947), Nelson Ayres (1947) e Amilson Godoy (1946). Com o grupo, revisita temas caipiras – como modas, rancheiras e guarânias – em sofisticadas versões com acompanhamentos de violas, violões de 6 e 12 cordas, baixo, flautas e percussão. Na mesma época, abre com amigos um estúdio de jingles publicitários e compõe mais de 1.500 canções, como os da marca de calça jeans US Top, dos sapatos infantis Ortopé, e das balas Rodabaleiroé e Drops Kids Hortelã. 


Em 1969, pelo selo Jogral, do publicitário Marcus Pereira (1930-1981), grava o primeiro LP, compartilhado com o compositor Chico Maranhão (1942). Em 1971, estreia com o disco solo Álbum de Família, com a canção “Moreninha se Eu te Pedisse” e “Tristeza do Jeca”, de Angelino de Oliveira (1888-1964). Dois anos depois, com o grupo Água, lança o disco Paisagem. Em 1977, o sucesso de “Romaria”, gravada por Elis Regina (1945-1982), torna o compositor nacionalmente conhecido. A canção é regravada por vários cantores, como Pedro Bento e Zé da Estrada, Inezita Barroso (1925-2015), Fafá de Belém (1956) e Maria Bethânia (1946).

Em 1978, o LP Romaria consolida Teixeira como um dos “novos caipiras”: compositores de classe média, dedicados a revisitar temas da música rural como inspiração para suas próprias composições. Nos anos 1980, lança seis LPs com músicas inéditas, com destaque para Garapa (1980) e Azul (1984), ambos acústicos e com participações do grupo Água.

Em 1990, apresenta o programa Tom Brasileiro, na Rede Record. Em 1992, ao lado da dupla Pena Branca & Xavantinho, lança Ao Vivo em Tatuí, disco com sucessos da carreira, pelo qual ganha o Grammy Latino. Também desenvolve parcerias com outros artistas, como Xangai (1948), Natan Marques e Zé Geraldo (1944) e Rolando Boldrin (1936). Em 2007, lança Ao Vivo no Auditório do Ibirapuera, com regravações de seus sucessos, ao lado dos filhos Chico Teixeira (1980) e João Lavraz (1986-2014), que participam de sua banda. Em 2010, em parceria com Sérgio Reis (1940), registra Amizade Sincera, que recebe o disco de ouro em 2011.

Análise

Renato Teixeira é um compositor voltado para a cidade e o campo. Seu gênero, como ele mesmo o define, é o folk, resgatado nos anos 1960 por Bob Dylan (1941) e Joan Baez (1941) nos Estados Unidos. No Brasil, sua obra dialoga com as de Almir Sater (1956), Zé Rodrix (1947-2009), Rolando Boldrin, Zé Geraldo e as duplas Sá & Guarabyra e Pena Branca e Xavantinho. Teixeira compõe uma música moderna, com letras elaboradas e recursos da métrica erudita e, ao mesmo tempo, resgata a fala do homem do campo e os costumes regionais. Assim como Paulinho da Viola (1942) e Chico Buarque, que se utilizam da estética do samba tradicional, Teixeira utiliza a estética da geração de violeiros dos anos 1940 e 1950, como Tonico e Tinoco e Tião Carreiro (1934-1993), e de poetas sertanejos, como João Pacífico (1909-1988).

No início da carreira, o músico participa dos festivais da canção com valsas e marchas inspiradas na obra de Chico Buarque e Paulo Vanzolini (1924-2013). A guinada em direção à música rural se dá nos anos 1970, quando entra em contato com o grupo Água. O grupo busca uma linguagem musical de arranjos contemporâneos, com roupagem tradicional. Assim, grava modas, rasqueados e valsinhas, contando histórias de boiadeiros, violeiros e da gente da roça perdida nas grandes metrópoles, que se tornam os temas preferidos do cancioneiro de Renato Teixeira. É dessa fase da carreira sua canção mais conhecida: “Romaria”, gravada por Elis Regina. 

Na canção, o personagem se assume como romeiro, devoto da religiosidade popular:

Me disseram porém 
Que eu viesse aqui 
Pra pedir de romaria e prece 
Paz nos desaventos 
Como eu não sei rezar 
Só queria mostrar o meu olhar 
Meu olhar, meu olhar

Assim como Teixeira, o eu lírico também se assume como caipira, no trecho “Sou caipira, Pirapora, Nossa Senhora de Aparecida”, referência à Pirapora do Bom Jesus e à Aparecida do Norte. Pirapora é local de peregrinação de romeiros na primeira metade do século XX, principalmente de negros, substituída por Aparecida como principal destino dos romeiros religiosos no estado de São Paulo. 

Segundo Haroldo de Campos (1929-2003) em entrevista à revista Veja, “Romaria” é uma das melhores canções da música brasileira dos anos 1970. A poesia concreta é uma das influências de Renato Teixeira, assim como a obra do poeta russo Vladímir Maiakóvski (1894-1930), de quem musicou o poema “A Flauta Vértebra” (1986), em tradução do próprio Campos e de Boris Schnaiderman (1916-2016). Em seus discos, o músico procura uma poesia apurada, com experimentação nos arranjos. No LP Amora (1979), grava com orquestra de cordas e sopros, mas mantém a base acústica do grupo Água. Em Garapa (1980), Renato Teixeira encontra a fórmula musical que o acompanha na fase madura: apenas instrumentos acústicos, com bases em violas e violões. Em Uma Doce Canção (1981), há guitarras e bateria, influência de Tavito (1948). Este, parceiro de Teixeira na composição de jingles publicitários, é um dos expoentes do “rock rural” emergente no final da década de 1970 e arranjador, maestro e produtor do disco. Em Um Brasileiro Errante (1982), que conta com arranjos de César Camargo Mariano (1943), há a incorporação de teclados eletrônicos, tocados por Mariano, com as guitarras e a bateria adicionadas no disco anterior. Com “Amanheceu, Peguei a Viola” (1984), abertura do programa de TV Som Brasil, Teixeira retoma a musicalidade de Garapa. A canção é uma tentativa de elaborar uma música síntese das regiões do país, espécie de “aquarela brasileira” sertaneja, voltada  para o homem brasileiro mais do que para as belezas naturais.

Os trabalhos com Almir Sater, nas décadas de 1980 e 1990, também são importantes em sua carreira. “Um Violeiro Toca” (1990), com as frases “Tudo é sertão, tudo é paixão / se um violeiro toca”, visa retratar a inspiração do violeiro, apaixonado pela mulher e pela natureza. Também com Sater, compõe “Tocando em Frente” (1990), gravada por Maria Bethânia. A canção traduz sua visão de mundo numa linguagem que associa imagens tradicionais a recursos poéticos sofisticados, típicos de sua obra. A letra sintetiza provérbios populares, articulados: 

Ando devagar 
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso 
Porque já chorei demais 
Hoje me sinto mais forte
Mais feliz quem sabe 
Eu só levo a certeza 
De que muito pouco eu sei 
Ou nada sei. 

Renato Teixeira também é intérprete de músicas próprias e de outras do cancioneiro popular rural. É influenciado pela técnica de João Gilberto (1931), marcada pelo canto minimalista, quase sussurrado, de pouca potência vocal. A interpretação é comovente e dotada de uma pronúncia típica do sotaque do interior de São Paulo.

Obras 2

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Fontes de pesquisa 5

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  • ALBIN, Ricardo Cravo. O livro de ouro da MPB: a história de nossa música popular de sua origem até hoje. Rio de Janeiro: Ediouro Publicações, 2003.
  • MELLO, Zuza Homem de. A era dos festivais: uma parábola. São Paulo: Editora 34, 2003.
  • MUGNAINI JÚNIOR. Ayrton. Enciclopédia das Músicas Sertanejas. São Paulo: Editora Letras e Letras, 2001.
  • NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
  • RENATO TEIXEIRA. In: Site oficial do compositor. Disponível em: < http://www.renatoteixeira.com.br >. Acesso em 24 dez. 2011.

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