Tião Carreiro
Texto
José Dias Nunes (Monte Azul, Minas Gerais, 1934 – São Paulo, São Paulo, 1993). Violeiro, cantor, compositor. Criador do ritmo pagode caipira, uma forma de tocar viola que dá nova dimensão à música rural, influencia gerações de músicos com uma obra que conecta diversos estilos, unindo tradição e modernidade.
Radicado ainda criança em Valparaíso e depois em Araçatuba, cidades do estado de São Paulo, trabalha na roça até os 16 anos, quando passa a exercer outros ofícios, como cantor e garçom. No programa Assim Canta o Sertão, de uma emissora de rádio de Valparaíso, conhece um de seus parceiros, Valdomiro, com quem forma a dupla Zezinho e Lenço Verde, a primeira de muitas que integra em sua carreira. De todas, a mais bem sucedida é Tião Carreiro e Pardinho, que inaugura o pagode caipira.
Pouco após o início de carreira, muda para a capital paulista a convite do músico Adauto Ezequiel, o Carreirinho (1921-2009). Em São Paulo, conhece o compositor Teddy Vieira (1922-1965), diretor de música sertaneja da gravadora Columbia, que lhe sugere o nome artístico Tião Carreiro. Em 1956, lança o primeiro álbum em parceria com Antônio Henrique de Lima, o Pardinho (1932-2001), um disco de 78 rotações com a moda de viola “Boiadeiro punho de aço”, de Teddy Vieira e Pereira, e o cururu “Cavaleiros de Bom Jesus”, de Teddy Vieira e João Alves Mariano.
Estreia como compositor com a rancheira “Maria ciumenta”. Mas o crédito fica apenas para o coautor, Euclides Pereira Rangel, o Bolinha. Em dupla com Carreirinho, grava “Pagode” (1959), um de seus primeiros sucessos, e lança o LP Meu carro é minha viola (1962), pela gravadora Chantecler, contendo os sucessos “Adeus São Paulo” (com Carreirinho) e “A viola e o violeiro”, com Lourival dos Santos (1917-1997), entre outros.
Influenciado por diferentes estilos musicais, do samba rural às toadas e modas de viola, apresenta, em 1959, uma nova forma de tocar viola, batizada por Teddy Vieira de pagode caipira, que dá nova dimensão à música rural. Trata-se de uma fusão dos ritmos coco nordestino com calango de roda. Em 1960, juntamente com Pardinho, homenageia a recém-inaugurada capital federal com “Pagode em Brasília”, de Teddy Vieira e Lourival dos Santos, que se torna o primeiro exemplar, de muito sucesso, do pagode caipira.
Com voz grave e potente, inova também no canto em dupla. Até então, a segunda voz, mais grave, fazia a base para que a primeira, mais aguda, se sobressaísse. Mas Carreiro acha que a segunda voz deve conduzir a melodia. E assim ele faz, desde o início da carreira, composta de diversos sucessos, seja como intérprete, seja como melodista.
Em 1978, junta-se a José Plínio Trasferetti, o Paraíso (1947), com quem lança quatro discos. E com Almiro José Alves, o Praiano (1951), forma a última dupla, pela qual lança um único álbum. Também participa de filmes, como o longa-metragem Sertão em festa (1970), de Oswaldo de Oliveira (1931-1990) – ao lado de Pardinho. Sua canção “Rio de lágrimas” integra a trilha sonora de 2 Filhos de Francisco (2005), dirigido por Breno Silveira (1964-2022).
]Entre os estilos presentes em sua discografia, estão moda de viola, cateretê, valsa, cururu, e samba rural. Seu repertório autoral espelha temáticas como questões amorosas, situações cotidianas, desilusões sentimentais, boemia, alcoolismo e críticas sociais – possivelmente graças à influência da música de Teddy Vieira, de quem é o principal intérprete, como em “Rei do gado” (1958), moda de viola de sucesso em dupla com Carreirinho.
Nessa perspectiva, destacam-se músicas compostas com Lourival dos Santos como “Mundo velho” (1982): “Mundo velho mudou tanto que já está entrando areia / Grande pisa nos pequenos, coitadinhos desnorteia / Quem trabalha não tem nada, enriquece quem tapeia / Pobre não ganha demanda, rico não vai pra cadeia”.
Sua obra influencia tanto as gerações posteriores de violeiros, como Almir Sater (1956), quanto artistas da música sertaneja pós 1980, como o cantor Daniel (1968), que veem no músico mineiro a ponte de legitimação entre o tradicional e o moderno.
Tião Carreiro transita por vários estilos, cria um ritmo musical e inova na forma de cantar em dupla, realizando diversas parcerias e interpretando sucessos com sua voz grave. Se não chega a ser exatamente um ícone popular, marca época e lança as bases para outros artistas que vêm depois e se tornam famosos absorvendo e ressignificando seus ensinamentos.
Links relacionados 1
Fontes de pesquisa 8
- ALVES FILHO, Manuel. Viola de Tião Carreiro Proseia com a Academia. Jornal da Unicamp, Campinas, 31.mar.2008 a 6.abr.2008.
- DICIONÁRIO Cravo Albin da Música Popular Brasileira. Rio de Janeiro: Instituto Cultural Cravo Albin, 2002. Disponível em: [http://www.dicionariompb.com.br/]. Acesso em: 10 dez. 2009.
- GAVIN, Charles (org.), SOUZA, Tárik de; CALADO, Carlos; DAPIEVE, Arthur. 300 Discos Importantes da Música Brasileira, 1ª edição. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2008.
- MARCONDES, Marcos Antônio. Enciclopédia da música brasileira: erudita, folclórica e popular. 2. ed., rev. ampl. São Paulo: Art Editora, 1998.
- MEMÓRIA Musical. Site do Instituto Memória Musical Brasileira. Rio de Janeiro, 2007. Disponível em: < http://www.memoriamusical.com.br > Acesso em: 24.fev.2010.
- MOSAICOS - A Arte de Tião Carreiro, edição sobre o artista produzido pela série televisiva Mosaicos. São Paulo: TV Cultura, 2007.
- NEPOMUCENO, Rosa. Música Caipira: da roça ao rodeio. São Paulo: Editora 34, 1999.
- SEVERIANO, Jairo; MELLO, Zuza Homem de. A canção no tempo: 85 anos de músicas brasileiras (vol. 2: 1958-1985). São Paulo: Editora 34, 1998. (Coleção Ouvido Musical).
Como citar
Para citar a Enciclopédia Itaú Cultural como fonte de sua pesquisa utilize o modelo abaixo:
-
TIÃO Carreiro.
In: ENCICLOPÉDIA Itaú Cultural de Arte e Cultura Brasileira. São Paulo: Itaú Cultural, 2025.
Disponível em: https://front.master.enciclopedia-ic.org/pessoa531172/tiao-carreiro. Acesso em: 04 de maio de 2025.
Verbete da Enciclopédia.
ISBN: 978-85-7979-060-7